The Deuce está de volta. Neste domingo, 9 de setembro, a série da HBO inicia a segunda temporada, trazendo as aventuras dos irmãos Vincent e Frankie (ambos interpretados por James Franco) e da prostituta e diretora de cinema Candy (Maggie Gyllenhaal) nos ramos da indústria pornográfica.
A temporada anterior foi concluída com a história do irmão de Candy, internado para terapias de eletrochoque pelo fato de ser gay, com a estreia bombástica de Garganta Profunda nos cinemas e com o assassinato da prostituta Ruby (Pernell Walker).
O AdoroCinema teve a oportunidade de assistir ao primeiro episódio da segunda temporada, e o saldo é muito positivo. Primeiro, porque a série não pretende fisgar o espectador com reviravoltas fáceis ou espetaculares, muito pelo contrário: o foco está na ambientação, na vontade de mostrar onde se encontra cada personagem, e como interagem dentro daquele meio específico.
O que faz o episódio caminhar é uma dupla busca: por um lado, Vincent procura por Frankie, após o último roubar todas as economias da empresa para gastos pessoais. Enquanto transita por bares, escritórios e restaurantes à procura do irmão, o roteiro visita de modo orgânico duas dúzias de personagens, todos com falas e interações plausíveis.
Por outro lado, uma investigação policial busca determinar o responsável por um crime. A direção apresenta o caso com certa frieza, afinal, não se trata do primeiro corpo visto naquele lugar. Como na temporada anterior, a história é muito hábil em criar paralelos: o corpo morto comparado com o corpo-objeto do pornô, a mulher passiva dos filmes contra as mulheres fortes por trás de cada filmagem, o sexo idealizado dos filmes contra o sexo real de Vincent e a namorada. The Deuce brinca com o real e o simulacro, a verdade e sua representação.
O resultado seduz pela construção impecável das imagens: com uma câmera móvel, seguindo cada passo dos personagens, as cenas são impregnadas de cores, músicas, ruídos, conversas, além das texturas dos figurinos, cenários e objetos. A ambientação dos anos 1970 é muito bem construída, enquanto a montagem confere um dinamismo impressionante a uma narrativa de poucos conflitos.
Os atores também estão excelentes: mesmo em pequena participação neste primeiro episódio, Maggie Gyllenhaal continua em boa forma - uma cena com a diretora deitada em cima de uma mesa é particularmente elegante -, e James Franco demonstra duas construções muito distintas e verossímeis para os personagens principais. Os coadjuvantes constituem uma boa galeria de tipos destinados a subverter os estereótipos esperados da prostituta, da atriz pornô, do cafetão, do diretor de cinema, do empresário...
"Quem imaginaria que a parte mais chata disso tudo seria o sexo?", pergunta Candy a certa altura da trama, enquanto espera uma atriz atrasada e lida com problemas de produção. Este é o grande mérito de The Deuce: abordar um ambiente altamente fetichizado (da pornografia, das "mulheres fáceis", do cinema adulto) de modo direto, profissional, humanizado. Enxergamos estas pessoas como indivíduos e profissionais, com espaço para um fértil debate sobre o feminismo na indústria pornográfica.
Paralelamente, a narrativa encontra espaço para discutir o próprio audiovisual, desde um quadro pornográfico sobre uma vagina - uma espécie de "A Origem do Mundo" dos anos XXI - até uma discussão sobre a montagem dos filmes pornôs e o ponto de vista. Quando Candy insere cenas de caça entre animais e imagens de frutos suculentos em meio a uma cena pornográfica, ela é imediatamente reprovada por sua atitude: "Esse é o ponto de vista de uma mulher. Mas você tem que pensar em quem está assistindo. Os homens se masturbando com este material não querem se sentir dentro da cabeça de uma mulher".
De modo natural, discute-se sexo, cinema, relações de gênero, mercado de trabalho. A maneira como todos os temas dialogam entre si é preciosa. Que venha o resto da segunda temporada.