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    Sharp Objects: 10 diferenças entre o livro e a série

    Fizemos a comparação entre as duas obras.

    HBO/Divulgação

    Com toda adaptação literária para o cinema ou TV, a discussão é a mesma: aqueles mais apaixonados pelo livro volta e meia aparecem com discursos possessos contra qualquer mudança feita na obra original para as telas. No caso de Sharp Objects, a mais recente minissérie da HBO baseada no primeiro livro escrito por Gillian Flynn (Garota Exemplar), as alterações foram poucas — mas algumas delas são pontos-chave para a adaptação.

    Por isso, o AdoroCinema listou 10 pontos que são apresentados de forma ligeiramente diferente nas páginas de “Objetos Cortantes” (ed. Intrínseca) e na série assinada por Marti Noxon e Jean-Marc Vallée. Confira abaixo, mas lembre-se: o texto contém spoilers!

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    Idade de Amma

    No livro, Amma Crellin tem 13 anos, mas na série a meia-irmã de Camille (Amy Adams) tem 15 — curiosamente, a sua intérprete, Eliza Scanlen, tem 19. A alteração da idade da personagem foi uma decisão tomada em conjunto por Noxon e Flynn, tendo em vista justamente acalentar o choque causado por algumas das provocações que ela faz.

    “Nestes anos adolescentes, as garotas estão em algum lugar entre serem mulheres e serem crianças, então é diferente para cada uma. E dependendo da maturidade física e emocional, você consegue imaginar alguma coisa para uma garota que parece ter uma certa idade e não [se parece] com outras”, contou Noxon.

    St. Louis vs. Chicago

    Na série, Camille mora em St. Louis e trabalha no jornal “St. Louis Tribune”, enquanto no livro ela mora em Chicago e trabalha no “Chicago Daily Post” — uma cidade muito mais distante de Wind Gap, já que fica no estado do Illinois. A mudança tem efeitos práticos na história, tanto para criar uma certa desconfiança em relação a uma possível atuação de Camille nos assassinatos quanto para uma outra mudança, que é vista no final da temporada.

    Calhoun Day

    HBO/Divulgação

    A comemoração do Calhoun Day é uma passagem que foi criada exclusivamente para a série. Trata-se do dia em que a história dos fundadores da cidade é relembrada, uma história que envolve estupro e violência contra a mulher. A adição distorcida é uma maneira de escancarar ainda o quanto a trama está envolta em assuntos a respeito de abuso e sexismo

    “Há muitas conversas a respeito de mito e fantasia, e como isso pode influenciar cidades e a sua história vs. a sua verdade”, explica Noxon. “A família Preaker tem mitos, a família tem coisas que não são necessariamente verdade na superfície. Quanto mais falávamos sobre as fake news da cidade e das coisas que [os moradores] contavam um ao outro que não eram verdade, mais voltávamos à história dos fundadores, e a piada era que haveria um musical do Calhoun Day.”

    A piada, no fim das contas, acabou virando uma realidade, em um episódio que também serve para reunir em uma mesma cena — a mansão dos Crellin — todos os personagens de Wind Gap, gerando ainda outras duas alterações: a cena do desaparecimento de Amma e o confronto físico entre Bob Nash (Will Chase) e John Keene (Taylor John Smith).

    Camille, reabilitação e flashbacks

    No livro, as passagens em que Camille relembra a sua infância com Marian (Lulu Wilson) e a adolescência após a morte da irmã focam muito mais na questão da automutilação e de como ela lida com o próprio corpo, além de trazer mais detalhes a respeito de suas precoces experiências sexuais, que ela reluta em tratar como abuso ou lidar com as consequências psicológicas. Na série, os flashbacks são focados na sua relação com Marian, e também não chegam a tratar do seu incômodo por não ter informação alguma a respeito de seu pai biológico — um fato que ela questiona a ponto de suspeitar que todas as questões em relação ao corpo e ao abuso de substâncias são herdados dele.

    HBO/Divulgação

    Ainda sobre o passado da jornalista, a estadia de Camille na reabilitação é tratada com mais detalhes na série. No livro, há a menção de que ela deu entrada em uma clínica quando era mais jovem, e tinha uma colega de quarto mais nova, que se matou ingerindo remédios. Na série, além de a colega, Alice (Sydney Sweeney) ganhar mais destaque, a sua morte assombra Camille tanto quanto a morte de Marian, além de ela ser essencial para um outro ponto-chave da série: a inserção da trilha sonora.

    Richard Willis, AKA Kansas City

    Como o livro é contado através do ponto de vista de Camille, a visão do Detetive Willis (Chris Messina) é menos explorada e ele tem um papel muito mais coadjuvante em toda a ação — não chegamos a acompanhá-lo, por exemplo, tentando arrancar os dentes de uma cabeça de um porco, e o vimos sempre sob a ótica da protagonista. Isso implica em uma participação consideravelmente menor também no desfecho da história, na descoberta a respeito da condição de Adora (Patricia Clarkson) e da morte de Marian.

    Camille Preaker e a investigação de Adora

    Esta mesma descoberta, no livro, é feita por Camille. É ela que investiga o passado da mãe e vai até o hospital em que Marian ficou internada, onde acaba conhecendo a enfermeira que suspeitava de Adora. Neste sentido, ela tem um papel muito mais ativo neste arco final, e até mesmo o confronto que ela tem com Jackie (Elizabeth Perkins) é menos intenso nas páginas — Camille não a culpa pela morte de Marian, e a mais velha até a incentiva a sair da cidade para poupar a própria vida. Tampouco Willis e Curry (Miguel Sandoval) a salvam. O editor do jornal nem sequer chega a ir até Wind Gap.

    As Palavras

    No livro, demoramos até a página 60 para descobrir sobre a automutilação de Camille — e, consequentemente, das palavras grafadas em seu corpo. Na série, a revelação é feita com mais antecedência: o público faz a descoberta no fim do primeiro episódio, decisão tomada pela própria Flynn. A autora não considerava honesto deixar os espectadores no escuro até o episódio 3 — uma opção que chegou a ser discutida na sala de roteiristas.

    A própria quantidade de palavras que vimos escritas no corpo de Camille é maior na série, por uma questão óbvia de exposição. O livro descreve aproximadamente 78 palavras, enquanto no seriado podemos ver mais de 200.

    Adora e Vickery

    A série insinua fortemente que Adora e o delegado Vickery (Matt Craven) têm um affair, o que não acontece no livro.

    A história de Adora e Joya

    O livro conta com mais detalhes a história de Joya, a mãe de Adora, e faz fortes sugestões de que ela pode ter influenciado a síndrome de munchausen por procuração da filha. Joya costumava entrar no quarto da filha para beliscá-la durante a noite para se certificar de que ela estava viva, algo que é posto como o motivo por que Adora tem o hábito de arrancar os próprios cílios.

    HBO/Divulgação

    Na trama, os pais de Adora morrem de forma misteriosa um ano depois do nascimento de Camille, e as causas atribuídas são “tumores cerebrais gêmeos.” Jackie comenta que o bebê era a primeira coisa de Adora em que Joya não podia encostar.

    Jackie até mesmo diz que o fato de Adora ter se tornado mãe foi o que matou os pais, o que dá margem a uma segunda interpretação: a de que ela os matou para proteger a filha tendo em vista seus próprios objetivos distorcidos.

    Don't tell mama

    Apesar do final visceral da série no fatídico “don’t tell mama”, o livro se estende um pouco mais. Ele chega a contar os detalhes de como o corpo da nova amiga de Amma é encontrado em um beco, também sem os dentes. Camille observa o mesmo modus operandi e acaba fazendo a conexão, por fim indo revirar a casa de bonecas da meia-irmã até encontrar a evidência. Além dos dentes que a garota usou para fazer o chão de marfim, Camille também descobre que os cabelos da vítima mais recente foram usados para replicar um tapete, que ficava no chão de seu antigo quarto.

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    HBO/Divulgação

    Amma vai para um reformatório juvenil, onde fica presa até completar 18 anos. Ela corta os cabelos curtos como Camille usava na adolescência, até mesmo como uma forma de afronta. O livro também explica como ela tinha força para arrancar os dentes de Ann e Natalie: ela sabia como fazê-lo pois ajudava na fazenda de porcos. Além disso, as duas amigas confessaram tê-la ajudado.

    Quando Camille vai visitá-la, Amma explica os seus motivos, e fica claro que a garota também desenvolveu munchausen por procuração, já que ela matou as garotas quando elas começaram a se aproximar demais de Adora.

    Após isso Camille vai morar com Curry e sua esposa, Eileen (Barbara Eve Harris), pois teve uma recaída e voltou a se cortar. O último parágrafo do livro é exatamente aquele que o editor lê em voz alta como se fosse da reportagem que sua jornalista escreveu.

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