Na próxima segunda-feira, 27 de agosto, estreia no canal Space uma ambiciosa série nacional: Pacto de Sangue, um retrato do submundo de drogas e mídia sensacionalista em Belém do Pará.
O personagem principal é Silas (Guilherme Fontes), repórter ávido por notícias sangrentas, que testemunha o assassinato de um importante traficante da maior favela local. Enquanto ele luta para colocar o material no ar, tenta cuidar de sua filha, dependente de drogas. Paralelamente, Gringa (Mel Lisboa) participa de rituais e orgias num resort isolado, e Roberto (Ravel Cabral) é um policial cínico e bruto, encarregado de investigar o desaparecimento de uma garota.
O AdoroCinema teve a oportunidade de assistir ao primeiro episódio, e traz algumas impressões:
O diretor do primeiro episódio, Tomás Portella (Qualquer Gato Vira-Lata, Operações Especiais) busca a intensidade a cada cena: o ritmo é bastante ágil, pulando entre diversas tramas paralelas que ainda não se desenvolvem. Espera-se que a sequência da história trate de unir todas essas pontas, inclusive apresentando os personagens do policial Lucas (André Ramiro) e do traficante Trucco (Jonathan Haagensen), que parecem fundamentais ao desenvolvimento, mas ainda participam do piloto.
Talvez o melhor aspecto do início seja a recriação dos noticiários sensacionalistas de televisão, com apresentadores comemorando cada nova cena de morte, apresentada com interrupções e repetições para prolongar o prazer sádico da emissora e do espectador. Guilherme Fontes parece muito à vontade neste personagem, além de se mostrar um dos atores mais desenvoltos com diálogos dentro do elenco.
No entanto, a direção não é afeita a sutilezas: Portella carrega as tintas na direção de atores, fazendo com que um traficante pareça animalesco demais, e uma garota dependente de drogas soe curiosamente indiferente para alguém em tal situação. Estas construções podem fazer sentido nos próximos episódios, é claro, quando as histórias pregressas conferirem maior complexidade às figuras marginais.
Alguns caminhos soam perigosos: a exploração da nudez frontal de várias mulheres, apesar de nenhum homem estar nu; o reforço da construção do policial pela virilidade (vide a cena de "quem bebe mais" no bar) e o fato de estarmos no norte do país onde ninguém tem um sotaque local, limitando-se a conjugar verbos na segunda pessoa do singular, são alvos fáceis para crítica.
Pacto de Sangue precisa tomar cuidado para não recorrer ao fetiche da violência, à ideia de que tantas sugestões de estupro e assassinato são divertidas, empolgantes, excitantes de ver. Em outras palavras, o roteiro precisa tomar cuidado para não aderir à visão de Silas. Caso saiba se distanciar e produzir um discurso crítico sobre tamanha violência, a coprodução do canal Space com a Intro Pictures pode se tornar uma série instigante.