Drama, drama e mais drama. Jean-Marc Vallée, de 55 anos, está muito bem familiarizado dentro deste gênero e recebe cada vez mais atenção. O diretor, produtor e editor gosta de se aventurar em histórias sobre personagens com identidades marcantes, e possui como uma de suas marcas registradas o aproveitamento da ambientação para tornar cada projeto a sua cara.
Sua nova série, Sharp Objects, da HBO, é o mais recente exemplo do talento que possui. Mas ele já coleciona outros trabalhos marcantes na televisão e, principalmente, no cinema. Conheça agora um pouco mais sobre Jean-Marc Vallée!
Trajetória e anos de carreira
O diretor começou sua carreira dirigindo curtas elogiados pela crítica, como Stéréotypes (1991), Les Fleurs Magiques (1995) e Les Mots Magiques (1998). Quando foi para a direção de longas, despontou com C.R.A.Z.Y. (2005), que narra os desafios de um jovem gay ao conviver com sua família homofóbica nos anos 70. O drama já era a sua marca registrada.
Em 2009, seu trabalho se tornou mais conhecido mundialmente ao dirigir Emily Blunt em Jovem Rainha Vitória, drama de época sobre os primeiros anos de seu reinado, que durou 67 anos. Logo no ano seguinte, Vallée se aventurou pela primeira vez como diretor, editor e roteirista em um mesmo projeto - tarefas que se repetiriam ao longo do cinema e televisão: Café de Flore foi estrelado por Vanessa Paradis e Kevin Parent e recebeu 13 indicações no Genie Awards (famosa premiação do cinema canadense).
Mas foi só ao dirigir Clube de Compras Dallas, em 2013, que Vallée definitivamente chegou a Hollywood. A biografia de Ron Woodroof, homem diagnosticado com AIDS que contrabandeou medicamentos não autorizados pela indústria farmacêutica no Texas, fez um sucesso estrondoso de público e crítica. Tanto que Matthew McConaughey e Jared Leto, que interpretaram Woodroof e Rayon (transexual que ajuda o protagonista) respectivamente, receberam seus Oscar de Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante na edição de 2014. Tal feito deixou ainda mais claro o quão bem Vallée trabalha seu elenco. Além destas duas vitórias, o longa foi indicado a Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Maquiagem e Melhor Edição.
O próximo projeto do diretor também chegou ao Oscar - e mais uma vez com destaque nas categorias de atuação. Livre (2014) com Reese Witherspoon e Laura Dern, também é uma história baseada em fatos e ambas as atrizes foram indicadas, respectivamente, ao prêmio de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante da Academia. Esta também foi a primeira vez que o diretor trabalhou com Reese e Laura.
Em 2015, foi a vez de Jake Gyllenhaal trabalhar com Vallée em (mais um) drama: Demolição. O filme rendeu críticas mistas e não chegou a nenhuma premiação hollywoodiana, mas deixa claro que a parceria entre o ator e o diretor dá, sim, muito certo.
Apesar de ter conquistado uma indicação como editor no Oscar, foi somente com Big Little Lies (primeiro projeto para a televisão) que Vallée levou para casa o prêmio máximo da telinha: um Emmy de Melhor Direção pela qualidade da 1ª temporada. A minissérie estrelada por Reese Witherspoon fez tanto sucesso que foi renovada para uma 2ª temporada e as gravações já estão acontecendo, mas Jean-Marc não dirige os novos episódios - a diretora Andrea Arnold exerce a nova função.
Curiosidade: Jean-Marc Vallée também trabalha sob o pseudônimo de John Mac McMurphy, especialmente em seus projetos como editor.
Protagonistas femininas
Traçada a trajetória do diretor, fica evidente que seu trabalho com mulheres na linha frente é uma de suas maiores qualidades. A lista de atrizes com quem Vallée trabalhou e continua trabalhando possui reputação de sobra, o que só eleva a confiança do público para conferir suas obras.
Não por acaso, Sharp Objects mal estreou e já está causando grande alvoroço no mundo do entretenimento, com Amy Adams já figurando entre as atrizes mais cotadas para as próximas premiações da televisão (como Emmy ou Globo de Ouro), e a produção em si já ser vista como uma das maiores estreias de 2018, assim como Big Little Lies foi em 2017. No entanto, vale destacar que a semelhança estética de ambas as obras é algo que já rendeu algumas críticas negativas com relação ao estilo do diretor. A única ressalva em seu modo de filmar é que ele pode se tornar repetitivo caso as mesmas fórmulas visuais sejam utilizadas repetidamente.
Mas ser semelhante também pode ter seu lado bom: do ponto de vista criativo, é interessante relacionar as personagens principais de seus filmes e séries. Em Wild, temos Reese Witherspoon em um dos papéis mais profundos de sua carreira, assim como é com Amy Adams na nova minissérie de suspense, que facilmente pode ser classificada como a personagem mais dark dentre todas citadas até aqui. Até mesmo o trabalho de Emily Blunt como a Rainha Vitória esbanja um senso de liberdade e independência - características essas que estão presentes em todas as personagens de Big Little Lies, especialmente nos últimos episódios da 1ª temporada.
Em tempos em que a discussão sobre igualdade de gênero no cinema e TV está cada vez mais potente, o mercado deve entender que o que não falta são profissionais preparadas para envolver o público com personagens diferenciadas e humanizadas. Isso se estende, é claro, para diretoras, roteiristas e produtoras que procuram seu espaço para criar tais personagens e histórias. Ao dar espaço para mulheres em obras relevantes, Vallée está fazendo história - ao mesmo tempo em que, convenhamos, tal feito já deveria ser considerado habitual.
E se não fosse o suficiente ter conquistado muitos fãs ao longo dos últimos anos, acredite: Jean-Marc Vallée também possui fãs no trabalho. Reese Witherspoon não poupa elogios e disse, em entrevista ao The Star, que ele é um diretor "que sente as performances e se emociona com o que determinado personagem está sentindo". Já Nicole Kidman, que não havia trabalhado com Vallée antes de Big Little Lies, declarou que ele é um "auteur" (artista que entende e possui domínio de todos os trabalhos criativos de uma obra). Não é para pouco!