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    Westworld: Jonathan Nolan e Lisa Joy falam sobre a season finale, cena pós-créditos e o que esperar da terceira temporada

    Criadores da série refletem sobre a jornada até aqui e o que virá no futuro.

    ATENÇÃO! Contém spoilers do episódio 10 da segunda temporada de Westworld, “The Passenger”

    Após o episódio mais agitado da história da televisão nos últimos (ok, talvez estejamos exagerando… ou não), Westworld cerra as cortinas de sua segunda temporada com grandes expectativas no ar. A Charlotte Hale (Tessa Thompson) humana morreu (!), Dolores (Evan Rachel Wood) conseguiu escapar do parque, metade de todas as outras pessoas estão mortas e essencialmente abriu-se um novo caminho, completamente inexplorado, para a (ainda distante) terceira temporada.

    Em uma sessão de perguntas e respostas junto a jornalistas e fãs durante a pré-estreia do episódio final em Londres, na Inglaterra, na última terça-feira (19), Jonathan NolanLisa Joy comentaram (naturalmente, sem revelar muitos detalhes) o que está por vir na terceira temporada da série.

    Quais são os maiores temas da segunda temporada para vocês?

    Lisa Joy: Acho que há uma discussão sobre imortalidade e a natureza humana, e o quanto de livre arbítrio nós temos — o que pareceu uma extensão lógica do que falamos na primeira temporada. Lá, examinamos a individualidade dos anfitriões e como eles estavam presos em loops de comportamento. Aqui, temos uma mudança de paradigma em que agora os humanos estão sendo experimentados, em seus aquários sendo observados e estudados, apenas para descobrir que podem ser reduzidos a alguns blocos de construção elementares. Quando você pensa nas motivações dos humanos e na complexidade de suas vidas, algumas vezes nós descobrimos que somos mais simples do que esperávamos.

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    Jonathan Nolan: O maior para mim é o livre arbítrio. Começamos com essa proposta na finale e fomos trabalhando de trás para frente, com a ideia que os humanos não têm livre arbítrio na verdade. E o quanto mais nós líamos, algo que mais parecia um conceito de ficção científica começou a parecer ser o caso. Li um artigo há alguns meses que dizia que pelo que podíamos compreender, livre arbítrio é uma ilusão.

    Se você colocar alguém em uma câmara de testes e pedir algo simples, como “pressione um botão na direita ou um na esquerda”, o que se descobriu em um experimento feito durante os últimos 30 anos foi que, um milissegundo antes de você decidir pressionar o botão, algo no seu cérebro faz a decisão por você. E você pode ver que há esse agente, essa outra parte, no nosso subconsciente. Parte do motivo por que o nome do episódio é “The Passenger” é porque existe essa outra coisa literalmente no volante. Se você  se lembra da abertura de Os Simpsons, com a Maggie usando o volante falso... isso é consciência.Marge está no volante e nós não falamos com ela, somos a Maggie olhando para a janela e achando que fazemos decisões. E a maior evidência disso [na temporada] é Bernard.

    HBO/Divulgação

    E quais temas vocês pretendem explorar indo adiante?

    LJ: Essa série é sobre a emergência de uma nova forma de vida, e nós a usamos como um espelho para examinar a natureza humana. Os temas vão surgir à medida que Dolores e a comunidade de anfitriões continuam fazendo suas escolhas e expandindo suas vontades e a relação com o nosso mundo. Há muito a ser dito, nós mudamos as lentes de nossa simpatia nessa temporada, e em muitos faroestes tradicionais, a ideia do bem contra o mal é muito binária, existe o Chapéu Branco e o Chapéu Preto. E o que nós tentamos fazer é entrar cada vez mais a fundo nos personagens, apresentando diferentes aspectos continuando a exploração.

    JN: Acho que o que está deixando Lisa e eu empolgados é menos temático e mais sobre as possibilidades de enxergar este mundo real que ainda não conhecemos. O vimos uma vez no passado, mas agora vamos poder ver como ele está 30 anos depois, e estamos muito animados. A história até agora se deu nessa realidade artificial e com a história seguindo nós temos essa chance divertida e aterrorizante de construir o mundo real e o que Dolores e os outros vão encontrar lá e enfrentar.

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    A cena pós-créditos foi uma cena da terceira temporada? Em que linha do tempo ela se passa?

    JN: Vou deixar Lisa responder…

    LJ: Definitivamente é um momento que vamos explorar no futuro, e é em uma linha do tempo atual. A coisa que me apela é que é uma história sobre inteligência artificial e que é mais do que isso. Vamos revelar uma escala épica e o fim do episódio é um pouco de uma amostra do escopo a que nós estamos nos dirigindo.

    Damon Lindelof, de Lost, disse uma vez que eles não sabiam como responder a algumas das perguntas da série. Vocês lidam com isso na sala dos roteiristas?

    LJ: Na nossa série, mesmo no começo com o piloto, definitivamente existe resposta. Damon em Lost acreditava na “caixa de mistérios” e em não olhar muito para ela, como um gerador de ideias que não era necessário dissecar e entender. E isso é uma maneira fascinante e engajante de se contar uma história. Mas nós estamos interessados em desmantelar a caixa de mistérios, abrir, olhar o que está dentro e montar de volta como se fosse um Lego. Realmente questionar e entendê-la. Então em cada temporada nós tentamos responder as perguntas levantadas. Nós pretendemos responder os mistérios, temos respostas para todos eles. Há coisas que queremos deixar no ar por um pouco mais de tempo. A cena do Homem de Preto no fim mostra para onde estamos indo, mas nós pretendemos responder às perguntas que propomos.

    JN: Eu achei Lost uma série fantástica e foi uma das razões porque eu quis me sentar com J.J [Abrams, para criar Westworld]. Lindamente feita e com alguns episódios individuais espetaculares, com uma ótima história mas uma atitude diferente de narrativa em relação à nossa. Não queremos esgotar a boa vontade e fazer a série durar até ser reprisada constantemente. Felizmente estamos em um momento da televisão em que isso já não é mais necessário. Francamente nós abordamos a série mais uma uma sequência de filmes, onde cada temporada responde às perguntas da audiência e insere algumas perguntas para a próxima temporada. Nós não queremos fazer isso para sempre.

    HBO/Divulgação

    Como vocês traçam um equilíbrio entre manter a audiência adivinhando e ao mesmo tempo fiel? Como se sabe que você acertou aquele ponto em que está tudo equilibrado?

    JN: Essa é a mais difícil, você meio que se usa como a medida. Nós sabíamos que nessa temporada queríamos construir uma estrutura mais episódica. Na primeira vimos um pouco da história de todos de cada um dos episódios, e nessa queríamos alguns episódios que se mantivessem mais individualizados e nos permitissem entrar mais a fundo com personagens que não tínhamos desenvolvido tanto. A estrutura dessa temporada, em nossas cabeças, pareceu bem direta. É uma estrutura de Film Noir, em que você começa no fim da história e vai construindo até o começo. Temos um protagonista clássico noir, Bernard, que esqueceu algo importante e precisa se lembrar. Acontece que ele se esqueceu de Anthony Hopkins.

    Como vocês mantêm os segredos escondidos durante as filmagens?

    LJ: Nós temos sorte de ter em nossos colaboradores uma equipe tremenda que está tão investida em proteger a história e os arcos como nós. Então não é tão difícil.

    JN: Mas nós nem sempre contamos tudo para eles. Na primeira temporada o Jeffrey [Wright] tinha uma vantagem porque depois do piloto nós tivemos que explicar a história do personagem dele, porque ele teria que fazer pelo menos dois personagens diferentes, e era justo que ele soubesse para poder entregar essa atuação. E o Jeffrey era um dos poucos que sabiam o que estava acontecendo na primeira temporada, nós não contamos nada para a Evan [Rachel Wood], porque queríamos que ela estivesse desorientada com a situação da personagem, tentando descobrir qual era a história da Dolores. Já na segunda temporada, logo no primeiro dia nós sentamos com a Evan e contamos a ela tudo o que aconteceria. Para Jeffrey não contamos nada.

    Como vocês sabiam que o público continuaria interagindo com a segunda temporada?

    LJ: A chave é que em um nível emocional existe um engajamento que mesmo que você não esteja analisando as minúcias do tipo de película, você consegue aproveitar, por exemplo, a determinação de Maeve. No seu âmago, a temporada é definida por múltiplas histórias de amor, o amor de Maeve por sua filha, que a traz de volta ao parque nesse ato de auto sacrifício. Também o amor de Akecheta por sua esposa e a distância a que ele vai por ela. E também essa relação interessante entre Dolores e Teddy, em que eles finalmente têm a chance de se encontrar, mas para sobreviver e liderar esse exército ela precisa se tornar uma pessoa diferente. Uma relação de longo tempo é definida não só pelos instantes de amor que ficam, mas pelas mudanças e crescimento constantes. Algumas daquelas mudanças podem ser desafiadoras, então é sobre esse casal e as maneiras pelas quais estão crescendo juntos e mudando, e se eles conseguem manter esse laço.

    Quais cenas da temporada se destacam para vocês?

    JN: Eu não devia escolher um favorito mas o meu episódio favorito é o da minha esposa [Episódio 4, “The Riddle of the Sphynx”].

    LJ: Ele não é nem um pouco tendencioso.

    JN: É este e também uma conversa entre Peter Mullan [Jim Delos] e o incrível Ed Harris [William]. Colocar estes dois juntos foi um momento muito forte para mim, lindamente escrito e dirigido. Nós seguramos a ideia de explicar o real sentido do parque por 14 episódios para podemos entrar nela com profundidade em um episódio e foi fantástico.

    Vocês têm algum easter egg preferido?

    LJ: Eu amo Kurt Vonnegut, então eu sempre tenho livros dele espalhados pelo set como um tipo de homenagem. Eu nomeei o peixinho dourado no meu episódio de Kurt em homenagem a ele, mas ele não foi nomeado em tela. Pelo menos agora vocês sabem que ele se chama Kurt!

    O AdoroCinema viajou a Londres a convite da HBO.

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