Atenção! Contém SPOILERS do episódio 5 da segunda temporada de Westworld.
Bem-vindos a Shogun World. Protejam suas vidas!
Ao contrário do que foi a aparição surpresa de The Raj no episódio 3 da temporada, a introdução de Shogun World era aguardada desde a primeira season finale de Westworld. Em uma bem-vinda reviravolta e mudança de olhar em relação aos acontecimentos do parque, “Akane No Mai” conseguiu reverter as expectativas do público, mostrar um novo lado de Maeve (Thandie Newton) e dar àqueles personagens a realização de que não são tão únicos quanto imaginam, afinal.
A reversão das expectativas ocorre justamente quando percebemos que Shogun World é mais parecido com Westworld do que se imagina inicialmente. Dadas suas origens do período Edo japonês e a anunciada violência exacerbada, é um tanto inesperado ele ser quase uma cópia-carbono do outro parque; mas é também uma decisão sádica e engraçada. “Tente você escrever 300 histórias em 3 semanas”, argumenta Lee Sizemore (Simon Quarterman) numa realização que é praticamente uma metáfora para a própria narrativa da TV, e também da decisão de Westworld de gastar o seu tempo necessário para dar vida às narrativas. A criação, afinal, leva tempo.
Mas também há algo de existencialista, embora simplório, no encontro entre Maeve e Akane (Rinko Kikuchi), Hector e Musashi (Hiroyuki Sanada). O momento em que eles percebem que aqueles outros personagens têm narrativas semelhantes às suas remete à transição entre a adolescência e a vida adulta, quando você (provavelmente) descobriu que não era tão diferente do restante do mundo como imaginava; ademais, as inferências que Shogun World faz na narrativa principal têm mais relação com as descobertas dos novos ‘poderes mentais’ de Maeve, que passa a poder controlar os demais anfitriões apenas com o ‘pensamento’. De fato, parece um artifício barato e uma saída simples para todas as formas através das quais os seguidores de Shogun conseguiam reverter os poderes dela, mas até onde essas descobertas podem ir?
Cada vez mais fica evidente, aliás, o embate próximo e a oposição de ideias entre Maeve e Dolores (Evan Rachel Wood); ao mesmo tempo que Maeve luta contra os instintos em Shogun World e mostra uma crença na bondade e na mudança, a outra faz o caminho oposto em Sweetwater e toma uma drástica decisão em relação a Teddy (James Marsden). São duas lentes completamente diferentes, duas formas opostas de enxergar o mesmo conflito. Maeve oferece a liberdade; Dolores faz o que ela acha melhor, sem dar uma opção.
Mas talvez o maior mérito de “Akane No Mai” esteja na forma como trata-se de um episódio extremamente libertador. Ao mesmo tempo em que está inserido na narrativa da temporada — aprofunda os conhecimentos do público sobre Maeve, adiciona uma camada de algo sombrio à personalidade de Dolores —, ele também conta uma história própria, que se encerra em si mesma, com mais referências à história da TV e aos princípios básicos da narrativa televisiva do que a série demonstrou até então. Além disso, há diversas referências ao cinema oriental, e até mesmo ao constante jogo de ‘gato-e-rato’ com os faroestes norte-americanos. Quem está copiando o que?
Em todos estes sentidos, o episódio gira em torno de um tema específico que costura todas as sub-tramas: o conceito de originalidade e o quão mutável e de difícil compreensão ele é. O texto muito mais direto do que o habitual da série funciona a favor do episódio justamente porque não tenta enganar o espectador, e exceto a cena de abertura com Jeffrey Wright (Arnold ou Bernard?) na Mesa Hub, todo o restante da hora se passa em tempo corrido, sem saltos temporais. Assim, ele consegue criar uma narrativa mais direta, com um conflito específico que precisa ser resolvido ali e não tem necessidade de ser estendido — mas deixa a brecha para sê-lo, de qualquer forma. É uma decisão muito mais inteligente; pela primeira vez, Westworld realmente se parece com um episódio de uma série de TV, e não com uma parte solta de um filme de dez horas.
Isso tudo, é claro, acaba sendo ajudado também pela familiaridade impressa nos personagens novos. Shogun World não é exatamente uma terra nova porque remete ao que o público já conhecia como os anfitriões em Sweetwater, na primeira temporada. Por isso, é muito mais simples criar empatia por eles, algo essencial para que este foco funcione.
Quanto aos mistérios — e neste ponto o episódio é consideravelmente mais leve —, fica a ser solucionado o que foi a mudança de narrativa que Dolores fez em Teddy. É possível ver no tablet que sua personalidade foi sobrescrita, mas não se sabe quem — ou o que — ele será daqui em diante. A única certeza é que as coisas não vão acabar bem para o pobre Theodore Flood.
Episódio: 2.05 - Akane No Mai
Escrito por: Gina Atwater, Dan Dietz
Dirigido por: Craig Zobel
Exibido originalmente em: 20/05/2018