Nota: 2,5 / 5,0
Ame ou odeie, 13 Reasons Why foi um dos lançamentos mais populares de 2017. Sem medo de falar sobre alguns assuntos bem pesados no universo adolescente, a série rapidamente se tornou um grande fenômeno nas redes sociais, ao mesmo tempo que causou muita polêmica entre os adultos. Diante de tamanho sucesso, a Netflix não perdeu tempo em anunciar a renovação do show. Porém, a primeira temporada era uma história completa por si só (apesar de ter alguns ganchos abertos) e adapta todo o livro homônimo de Jay Asher. Agora, fica a pergunta que não quer calar: a continuação é realmente necessária?
Ambientada alguns meses após o suicídio de Hannah (Katherine Langford), a trama retorna com o julgamento do processo promovido por Olivia Baker (Kate Walsh, excelente) contra o colégio de sua filha, buscando justiça pela morte da jovem. Os seus colegas, que ainda estão lidando com as consequências de tal tragédia, serão chamados para depor e isso vai revelar uma série de segredos, além de mostrar os acontecimentos sob uma nova perspectiva. E estaria tudo bem se o show focasse apenas na vibe "toda história tem dois lados", porém não é isso que os produtores têm em mente...
Se a primeira temporada tinha as benditas fitas, o drama volta a investir em seu lado "vintage" com fotos polaroid, a fim de apresentar um novo mistério. Jura? Os vários problemas enfrentados por Hannah já não eram suficientes para intrigar o espectador? Na realidade, tal arco só parece ser um artifício para jogar Clay (Dylan Minnette) em posição central na narrativa. A partir disso, o jovem volta a ter visões com Hannah, numa justificativa pouco criativa para manter Katherine Langford no elenco (além dos flashbacks). Apesar das incríveis atuações de ambos os protagonistas, a ideia serve apenas como um simples recurso narrativo, ao invés de realmente abordar os efeitos emocionais que tal perda singificou para a sanidade mental de Clay. Aliás, porque esse garoto precisa ficar com rosto machucado em toda temporada?
Mas ainda surgem críticas bem bacanas, representadas através de Jessica (Alisha Boe, o destaque do elenco) tentando seguir sua vida após ser vítima de estupro. O show acerta ao mostrar as dificuldades de superar esse trauma, principalmente no atual mundo tóxico e machista. Por exemplo, uma frase da jovem que define a importância de trazer esse debate para as telinhas: "As garotas são jogadas em estereótipos, enquanto os garotos tem a chance de definir a si mesmos." O assédio sexual segue sendo um tema marcante de 13 Reasons Why (com destaque para uma cena incrível no episódio final), mas é fácil perceber como o show investe em certos diálogos educativos, focando na necessidade de procurar ajuda - provavelmente, por conta das fortes críticas que recebeu em sua primeira temporada.
A série também abocanhou a responsabilidade de acompanhar o que acontece nas vidas dos '13 motivos' e nem tudo apresenta a mesma qualidade. Se as jornadas de Alex (Miles Heizer), Justin (Brandon Flynn), Bryce (Justin Prentice) e até Mr Porter (Derek Luke) são interessantes para expandir a história criada por Asher, as tramas de Tyler (Devin Druid), Tony (Christian Navarro) e Zach (Ross Butler) parecem bem forçadas, enquanto os outros são praticamente esquecidos no churrasco. E como os depoimentos do julgamento não seguem a ordem das fitas, é difícil encaixar todos os "novos arcos", se você não lembra direito da primeira temporada.
O grande problema surge quando a adaptação traz sérios erros de roteiro, fazendo furos na história contada até então, além de produzir diálogos fracos e previsíveis. Isso sem falar que alguns momentos parecem ser claramente inspirados em filmes como As Vantagens de Ser Invisível e Meninas Malvadas. Felizmente, o show consegue retormar parte de sua magia na reta final, engrenando um bom ritmo e com críticas necessárias sobre violência sexual, bullying, suicídio e controle de armas. Mas nem tem tempo para desenvolvê-los, pois enrolou tanto ao longo da temporada. Já é possível dizer que certas coisas vão "causar" novamente, principalmente no episódio final. Os fãs vão se emocionar, os conservadores vão reclamar, mas o importante é que o debate vai começar.
Resumindo, 13 Reasons Why perde seu estilo singular e, por vezes, o espectador parece estar diante de uma outra série adolescente qualquer. Pelo lado positivo, o elenco funciona, a trilha sonora é cativante e a coragem de colocar o dedo na ferida segue ali. O que faz tal experiência ainda valer a pena é justamente quando a narrativa explicita aquilo que há de errado na sociedade, mas temos medo de falar em voz alta. É sempre importante usar a cultura para começar uma conversa, mas tal mensagem já tinha sido bem eficiente em sua primeira temporada. A continuação surge como botar água no feijão... Dura mais, porém não é exatamente aquilo que você esperava.