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    Barry é uma bizarra mistura de comédia, ação e drama que realmente funciona (Crítica da 1ª temporada)

    Bill Hader brilha na criativa série da HBO.

    Nota: 4,5 / 5,0

    Um matador de aluguel que decide entrar numa escola de teatro. A premissa de Barry parece ser algo bizarro. E realmente é... Mas no melhor sentido possível, pois tal simples descrição nem começa a decifrar as diferentes camadas da recente aposta da HBO.

    Criador e produtor da atração, Bill Hader assume o papel do protagonista, um ex-fuzileiro da marinha que se tornou assassino, mas está deprimido com o rumo que sua vida tomou. Quando um de seus alvos faz parte de um curso de teatro em Los Angeles, Barry encontra nesse grupo uma possível motivação na vida. Mas equilibrar essas duas facetas não é tarefa fácil - afinal ser um rosto reconhecido não é algo bacana para um matador que precisa ser discreto em seu trabalho.

    Aqui, o diferencial do projeto idealizado por Hader e Alec Berg (Seinfeld, Silicon Valley) é ser uma história humorada que consegue equilibrar diferentes gêneros de uma maneira surpreendentemente orgânica. Por um lado, o show traz um retrato muito humano sobre as dificuldades de seguir carreira em Hollywood, principalmente através de Sally (Sarah Goldberg). Por outro, traz a brutalidade e as surpresas de uma obra de ação para recriar guerras entre mafias de Los Angeles. Isso sem falar nos breves momentos de romance, a tensão provocada pela investigação de um assassinato que percorre a trama, ou os sonhos de Barry sobre uma vida "comum" e imaginária...

    O elo capaz de unir tudo isso é uma afiada comédia de absurdo, onde as ações dos personagens caminham por jornadas imperfeitas e extremas. A mistura desses estilos acaba sempre trazendo experiências diferentes a cada episódio, dependendo do uso de cada gênero determinado pelos arcos. Assim, vale destacar os belos trabalhos dos diretores da temporada: Hader, Berg, Hiro Murai (Atlanta) e Maggie Carey (Brooklyn Nine-Nine). Outro grande acerto da produção é usar essa diversidade para criar surpreendentes ganchos no fim dos capítulos - algo que nem sempre é tão bem executado nos dias atuais. Inclusive, tal processo criativo é utilizado no meio do episódio final, promovendo um novo jogo com o espectador "aos 45 minutos do segundo tempo". 

    É comum já esperar um bom trabalho cômico de Bill Hader, aifnal ele é conhecido por bizarros personagens e incríveis imitações de Saturday Night Live. A surpresa é ver que o ator consegue trazer dureza suficiente para convencer no papel de um assassino de aluguel. Porém, ele brilha mesmo quando investe na carga dramática, conseguindo transmitir a imaturidade emocional do protagonista, ao mesmo tempo que retrata urgência e sofrimento nos momentos com decisões de vida ou morte. Grandes cenas no quinto e no sétimo episódio provam como Barry é um dos melhores trabalhos da carreira do comediante, claramente confortável e empolgado com a história que criou. Ps: a edição criada por Jeff Buchanan (Ela) no penúltimo capítulo também merece aplausos, encaixando perfeitamente com sua performance.

    Ícone da televisão norte-americana, Henry Winkler está impagável como o egocêntrico Gene Cosineau, responsável por alguns dos momentos mais hilários do show. Já Sarah Goldberg faz um trabalho incrível como Sally, que foge do estereótipo de "par romântico do protagonista" para construir uma personagem imperfeita e cativante. Mas quem realmente rouba a cena é Anthony Carrigan, com um personagem que poderia cair facilmente na caricatura, mas seu Hank rapidamente conquista o espectador e assume naturalmente o papel de alívio cômico. Com uma segunda temporada já garantida, a esperança é que outros interessantes coadjuvantes também ganhem mais espaço e profundidade - pois nem todo mundo teve chance de ser explorado nesses oito episódios.

    Ao lado de Veep e Silicon Valley, Barry prova como a HBO realmente sabe fazer comédias, que não merecem apenas ficar nas sombras dos dragões e robôs de Game of Thrones e Westworld. E também surge como uma lição sobre como usar de diferentes gêneros numa mesma narrativa. Afinal, se a vida não segue uma linha reta, a comédia também pode brincar com todos os fantásticos espectros da ficção, não é mesmo?

     

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