Desde o lançamento de Fear the Walking Dead, em agosto de 2015, que os fãs e os jornalistas questionam os produtores sobre quando aconteceria o crossover com The Walking Dead. E a resposta sempre foi a mesma: "Nunca!"
Até outubro de 2017, quando o encontro entre as séries foi anunciado durante a edição da New York Comic Con. Foram mais dois meses após o evento para os fãs descobrirem qual personagem iria pular de uma série para a outra. E o escolhido foi Lennie James, o Morgan.
O AdoroCinema foi até Austin, no Texas, para visitar as gravações da quarta temporada de FearTWD e teve a oportunidade de conversar com o ator sobre o oportunidade. Confira!
Como foi a decisão pelo crossover? Quando ficou sabendo?
Então, no começo de toda temporada de TWD, você tem que sentar com o Scott M. Gimple, que te diz qual vai ser o arco da temporada e qual vai ser o futuro do seu personagem e, basicamente, você não ouve o que ele diz porque só quer saber se seu personagem vai morrer. E, ao chegar no final e seu personagem não ter morrido, ele tem que repetir tudo para prestar atenção. Então, tivemos isso um pouco mais tarde do que geralmente fazemos, porque eu já estava em Atlanta. Alguns dias depois, ele me liga e fala: “Escuta, esqueci de te falar sobre uma coisa. Você voltaria?” Então eu dirigi de volta para sua casa pensando, “ele esqueceu de me dizer que eu morro”. Eu cheguei lá, peguei uma garrafa d’água e ele disse: “Por sinal, essa não é uma conversa sobre você morrendo”. Aí eu pensei, graças a Deus. Só que ele disse, “é mais estranho do que isso”. Aí ele falou sobre seu novo papel como supervisor de ambas as séries e perguntou: “O que você acha de continuar a história de Morgan em FTWD?” E minha cabeça começou a girar. Ele começou a falar e eu não estava escutando. No final ele falou, “eu sei que você deve estar cheio de perguntas”. E eu provavelmente estava, mas não conseguia trazer se quer uma para os meus lábios. Então, ele perguntou o que eu gostaria de fazer e eu falei, “eu vou embora”, porque eu tinha que dirigir 45 minutos até o meu apartamento, então disse “eu vou embora. Vou me acostumar com a ideia, pensar no que acho disso, falar com minha esposa e pensar sobre o que se passa no meu cérebro. Depois conversamos”. Ai ficamos falando sobre isso pelos próximos dias, nas semanas seguintes. Havia muito para ser considerado, porque não foi algo do tipo “isso vai acontecer”. Foi mais, “o que você acha disso?”
Então você teve uma escolha?
Ah sim, absolutamente tive uma escolha. Foi mais tipo, “estamos pensando em fazer essa coisa, e se você não tiver a fim, então vamos seguir um rumo completamente diferente”.
O que teria acontecido se você tivesse dito não? Eles matariam você em The Walking Dead?
Na real, não sei porque essa não seria uma possibilidade, porque o personagem já não existe mais nos quadrinhos, então eu já estava com meu tempo contado. Então, enquanto eu dirigia até a casa do Scott, eu fiquei pensando que meu personagem iria sair. Eu fiquei tentando aceitar que poderia ser uma possibilidade, porque você não entra nessa série achando que vai durar muito tempo. Você está constantemente olhando para o relógio na parede. Então você tem que aceitar isso. Se essa era a opção, ela era a opção, nunca me ocorreu outra alternativa. Mas foi uma escolha genuína e eu demorei um tempo para considerar, porque não era sobre simplesmente se seria bom para mim como ator, se seria bom para eu continuar fazendo o papel, se tinha mais que eu poderia fazer com ele, ou que eu conseguiria fazer para ele, se seria certo para o personagem também. Sou muito protetivo do Morgan como personagem, sou muito protetivo do seu papel no legado de TWD. E se seria certo para ele, se ele era o cara certo para fazer esse crossover. E para pensar em todas essas coisas, eu tinha que ter uma conversa séria comigo mesmo sobre isso. E no final das contas, é uma experiência única. Acho que o mais perto que alguém chegou de fazer algo parecido foi com Law & Order.
Eu realmente queria falar com alguém que tinha passado pela experiência, mas eu não conseguia pensar em alguém. Então, não falei com ninguém. Mas eu percebo que é uma experiência única que me foi dada, e quero explorar esse personagem que conheço bem e colocá-lo em um ambiente bem novo e diferente, com pessoas novas e diferentes. Mas, essencialmente, quero mantê-lo sendo ele mesmo e ainda assim poder explorá-lo em um ritmo ligeiramente diferente, mas com amplas possibilidades.
E como tem sido a experiência? Como compararia as duas séries?
Eu tive seis dias entre as duas séries, entre o final de uma e o começo da outra. Então acho que qualquer comparação agora ainda é muito cedo, seria injusto. E com uma série eu estive indo e voltando por uns 8 anos, e há uns três praticamente fazendo parte. E com essa, estou há poucos meses. E também estamos passando por uma mudança. Essa é a primeira vez de todo mundo em Austin. Mas estou evitando quaisquer comparações. São coisas diferentes. Sei lá, é como comparar uma namorada nova com sua mãe. Quem quer fazer isso?
E como tem sido a sua adaptação ao novo time?
A parte boa é que não fui a única pessoa nova chegando. Então, Garret entrou, Jenna entrou e Maggie entrou. Então, tinham outras pessoas passando por essa experiência também. Mas, como um grupo, é uma experiência completamente nova para os membros já existentes do elenco e os novos integrantes. estamos todos lidando com as mesmas coisas. Há também uma equipe predominantemente nova. Então, estamos todos lidando com isso e passando por isso, e estão todos caminhando na direção certa. Tem sido esquisito, mas divertido.
Como os fãs tem reagido à esta mudança?
É bem esquisito, porque eu não tenho presença nas redes sociais de forma alguma. Eu simplesmente não uso, não é algo que curto. Mas eu conheço os fãs nas convenções e coisas assim. Então, eu nem sabia do crossover até fãs surgirem diante de mim e falando, “então, vão fazer esse negócio de crossover...”. E eu ficava tipo, “que crossover?”. E passou de “espero que não seja você!” para pessoas dizendo “vai ser você?”. E eu não podia mais ficar naquele palco falando que eu não fazia ideia, que eu não sabia sobre o que as pessoas estavam falando. E as reações agora têm sido aquelas que você meio que espera. As pessoas estão animadas por isso. E a mesma quantidade de pessoas estão preocupadas com isso e algumas pessoas estão muito enfurecidas que eu não vou estar na outra série no momento. Aí tem outras pessoas que estão empolgadas por eu estar aqui. Então as reações meio que são de toda forma. E, para ser sincero, todas essas… Nenhuma dessas possibilidades ou reações influenciaram na minha decisão. Eu acho que, independente do quão engajados os fãs são e quaisquer reações que tiverem, são todas reações compreensíveis, dependendo de onde você esteja. E eu não posso levar isso muito em consideração, eu baseei minha decisão nas razões que expliquei antes.
E quanto à jornada de Morgan? Porque acompanhamos uma grande jornada em TWD, onde ele tem essas questões morais. O que podemos esperar sobre os dilemas dele?
O Morgan não é mais apenas o amigo de Rick. Não é mais uma questão se Morgan faz parte do reino de Ezequiel, ou de Alexandria, ou de Hilltop. Agora é mais uma questão de que ele é o homem que você conhece. Umas das coisas que está me empolgando sobre isso, e que falei com o Scott, é que eu queria estar tão surpreso com o que acontece com o Morgan quanto o público vai estar surpreso. Eu quero encontrá-lo em situações e enfrentando desafios pelos quais ainda não vimos ele passando antes. Eu quero isso, tanto como ator como também pelo personagem, para ele descobrir coisas sobre si mesmo que ele ainda não sabe.
Eu não quero estar em uma situação que ele pense, “sabe, essa situação me lembra daquela vez em que eu coloquei a mão dentro da barriga daquele cara e puxei seu intestino para fora”. Então, eu sei isso. Eu quero que ele seja desafiado de formas diferentes e surpreendentes, na verdade.
Aos longo de oito anos - ainda que com alguns intervalos -, como vê a evolução do personagem?
Uma das coisas que eu adoro sobre interpretar o Morgan é que eu fiz o primeiro episódio, aí eu fiquei afastado por dois anos, depois fiz mais um episódio e fiquei afastado por mais dois anos, aí fiz mais um episódio… E, nesse meio tempo, que durou cerca de cinco temporadas, eu fiz três episódios. E, cada vez que eu voltava, eu precisava ligar quem ele era quando você o conheceu e quem ele era antes. Então, do primeiro episódio para quando voltei na terceira temporada, ele era, de repente, um homem completamente diferente e louco. E eu precisei trazer à tona toda sua história no momento em que o conhece. E esse foi um ótimo exercício de escrita para o Scott. Essa foi a primeira vez que cruzei com o Scott e que ele começou a ser responsável pelo Morgan como personagem. Aí, a próxima vez que você o encontra, ele passou por uma outra grande transição. Então, como um ator, isso foi ótimo, porque em cada vez eu precisei trazer seu passado e sua história sem sentar e explicar detalhadamente o que tinha acontecido. Ai, da quinta temporada em diante, estou lá o tempo todo. Com isso, contar a história do Morgan tornou-se algo completamente diferente. De repente, tornou-se algo diário e suas transições eram mais lentas. Foi um exercício interessante para mim.
Mais fácil ou mais difícil?
Foi mais diferente fazer os grandes pulos. Marcar as transições foi mais comum, é o que a maioria dos atores precisam fazer se você for recorrente na série.
E como a série mudou sua carreira?
É interessante. Porque quando eu cheguei à América pela primeira vez, estar associado com um personagem tanto tempo faria eu pedir por um tiro na cara. Pensaria que vendi a minha alma. Mas genuinamente não parece ser assim. De onde eu venho, tradicionalmente seis episódios, oito já é demais. Então quando eu vim fazer minha primeira série para CBS e fiz Jericho, e todos falaram que, se tivéssemos sorte, iríamos conseguir ter 13 episódios. Ai poderíamos rezar por mais nove. Ai eu pensei, “mais nove?” Porque 13 já era o mais longo que fiquei fazendo um personagem e, “vai ter mais nove?!"
O AdoroCinema viajou a convite do canal AMC.