1 Contra Todos, principal hit da FOX nas telinhas brasileiras, continuará levando a trajetória do ex-presidiário, ex-político e agora agente infiltrado Cadu (Júlio Andrade, indicado ao Emmy pelo papel) para novos e surpreendentes patamares - extrapolando, inclusive, sua própria nacionalidade. Em entrevista exclusiva ao AdoroCinema, concedida logo após a exibição do primeiro episódio da terceira temporada da série na conferência Rio2C, Zico Góes - diretor de conteúdo da FOX no Brasil e produtor do seriado -, não só confirmou que 1 Contra Todos já tem uma quarta temporada garantida, como também revelou que o drama policial criado por Breno Silveira (2 Filhos de Francisco) deve ganhar uma adaptação para as televisões mexicanas.
Na primeira temporada, a série atingiu um nível de audiência no Brasil que rivalizou com o ibope nacional de The Walking Dead, um dos seriados mais vistos em todo o mundo. 1 Contra Todos também é um enorme sucesso na América Latina. Levando tudo isso em consideração, como é chegar na terceira temporada de uma série no Brasil com essa força toda?
Para nós é um orgulho incrível. Não chega a ser uma surpresa, mas, de certo modo, é surpreendente [...] A gente sabia que ia ser bom, mas a gente não tinha certeza. Aliás, a nossa indústria é a indústria do risco, a gente não sabe… Então, para nós, é como “Uau, é a terceira temporada!". E nós vamos para a quarta temporada. Isso, simbolicamente, no mercado brasileiro de TV paga, e principalmente na FOX, é inédito. Outras séries brasileiras chegaram longe também, mas na FOX vai ser a primeira vez que uma série da América Latina inteira chega na quarta temporada, e chega dessa maneira forte. Tem a ver com esses caras, com o Breno [Silveira], obviamente, com os atores e tudo mais. Mas era um produto em que a gente apostava cegamente. Tanto que o que o Breno falou na exibição é verdade, ele vendeu essa série em um café aqui no Rio de Janeiro. Ele contou a história, eu tinha acabado de chegar na FOX e falei: “Essa vai ser a sua primeira série, meu amigo”. E assim foi. Intuição, conhecimento de saber trabalhar com as pessoas certas… Breno, os atores e os redatores conseguiram fazer a série incrivelmente bem. Então para nós é inédito e um orgulho incrível. Mas, ao mesmo tempo, é um desafio fenomenal. Você ter feito sucesso na primeira e na segunda significa que o sarrafo está lá em cima. A nossa expectativa é grande e a da audiência então… É maior ainda.
1 Contra Todos é uma série de inúmeras reviravoltas e surpresas, especialmente porque a saga do personagem principal é uma jornada muito complexa, de idas e vindas, sempre caminhando sobre uma linha tênue que separa o crime da legalidade. Como é o trabalho para manter as coisas sempre vivas e frescas na série sem perder a essência de vista?
Isso eu acho que é o mais difícil. Como o sarrafo está lá em cima, os caras têm que se desdobrar para contar uma história ainda melhor do que já foi contada. A primeira temporada foi mais fácil no sentido de que era uma história que já existia, uma história que aconteceu mais ou menos daquele jeito. A partir da segunda é tudo ficção. Então é um desafio de tentar partir de um personagem verdadeiro e começar a “ficcionar” completamente a vida dele. Ou seja, você tem que abstrair e pensar: “Quem é esse cara?”, “Como ele seria se fosse para Brasília?”... E essa organicidade e integridade realmente é um resultado incrível do trabalho desses caras [...] Escrever, escrever, escrever e escrever de novo. Esse é o segredo… E, naturalmente, realizar aquilo que você escreveu. Levantar do papel e fazer a coisa andar. Mas essa etapa é que é a etapa mais árdua, mais complicada; é criar, do nada, uma história baseada nesses personagens que foram criados há algum tempo.
Na primeira leva de episódios, lançada em 2016, 1 Contra Todos aborda a questão prisional e a guerra às drogas. Já na segunda, o foco passa a ser Brasília e a corrupção sistêmica que se alastrou por toda nossa sociedade. Ou seja, o seriado sempre tratou e teve como base algumas das questões mais fortes do momento no Brasil. Os últimos acontecimentos, que tornaram toda a trama da realidade ainda mais insana, continuam a influenciar 1 Contra Todos?
Eu acho que sim. E acho que não só nessa série, que por acaso flerta com momentos políticos, inclusive com coincidências, personagens parecidos com os que a gente vê na realidade… A gente está fazendo outras séries que, de alguma maneira, carregam um pouco dessa aflição do que está acontecendo agora na vida das pessoas. Eventualmente, você não vai falar necessariamente como fez o José Padilha em O Mecanismo, e enfim, como fizeram outros, sobre o momento atual, mas o momento atual vai te inspirar. Por exemplo, em #MeChamaDeBruna, que agora está na terceira temporada, a gente identificou em pesquisa uma coisa muito simples: que as pessoas, tanto no Brasil quanto na América Latina, estão cansadas de impunidade. As pessoas querem ver personagens complexos, vilões ou não, mas também querem que os maus paguem pelos erros. Isso tem aparecido e é o que a gente tem tentado fazer nas séries também. Então por acaso tem um canalha em #MeChamaDeBruna que as pesquisas apontam: “Esse cara precisa pagar pelo que fez”. E isso tem a ver com esse momento: “A gente não aguenta mais impunidade”. E as séries, de alguma maneira, refletem um pouco dessa aflição de verdade.
Na terceira temporada, para tentar salvar a própria pele das denúncias de corrupção e tirar seu filho da cadeia, Cadu recebe uma oferta inesperada do Delegado Plínio (Roberto Bomtempo): infiltrar-se no cartel de Pepe (Roberto Birindelli) para derrubar o narcotraficante boliviano e entregá-lo à Polícia Federal. Mas ao aceitar o acordo, Cadu é obrigado a deixar sua identidade e viajar para a Bolívia - levando a série, obviamente, junto com ele. Essa decisão de ambientar 1 Contra Todos em território vizinho também tem a ver com o sucesso da série na América Latina?
Isso passou por um momento de coincidência. Em 1 Contra Todos, um dos personagens principais, que é o Pepe, interpretado pelo Birindelli - que é um ator uruguaio e faz um boliviano -, já criou essa conexão direta. Nessa terceira temporada, a série realmente vai para a Bolívia e integra muito mais essa pegada latino-americana, mas tem a ver com essa história do Pepe ser um personagem boliviano. E coincidência porque como a gente é uma divisão da América Latina, todas as nossas séries passam nos outros países também... Então é interessante que eles vejam o Brasil, mas que o Brasil também possa trazer elementos que tenham uma identificação maior com eles. Essa história da Bolívia talvez seja só uma coincidência, mas a gente tem tentado colocar nas nossas séries atores que são conhecidos lá fora. Em 1 Contra Todos, temos o Marlon Moreno, que é um ator colombiano super conhecido na Colômbia, no México e que tem um papel na nossa série. Então isso também tem a ver com a nossa vontade de fazer com que as nossas séries sejam realmente acolhidas na América Latina. Elas são super brasileiras, a temática, eventualmente, é universal ou panamericana, e quando você coloca um ou outro elemento de uma identificação maior com os países, você ganha em promoção, em divulgação [...] Mas, ao mesmo tempo, a gente é muito independente. A gente faz um produto brasileiro com pitadas de América Latina [...] Talvez porque o Brasil seja o país que mais integrou a América Latina. Por mais que a gente esteja de costas para a América Latina, tem sempre um boliviano na esquina, um argentino que trabalha aqui, tem sempre um amigo que é colombiano [...] Então é natural que a gente tenha um personagem hispanófono nas nossas séries porque vemos isso o dia inteiro.
Na história da televisão brasileira, principalmente no âmbito dos reality shows, o público se acostumou a ver produtos que são versões diretas ou adaptações de programas estrangeiros de sucesso - e, muitas vezes, sem sequer saber que os programas que assistem são conteúdos originais de outros países, que são formatos estrangeiros. Agora, o inverso está prestes a acontecer de maneira inédita: 1 Contra Todos vai ganhar uma adaptação para as telinhas mexicanas.
Os mexicanos se encantaram pela série [...] A FOX México se encantou e achou que poderia adaptar a série para a América Latina como um todo. Fizemos um acordo com a Conspiração Filmes, eles são os donos da propriedade intelectual, para compartilhar o formato e tentar criar uma versão. São roteiristas mexicanos que estão trabalhando nisso. O que eu sei é que eles vão fundir a primeira com a segunda temporada [...] Por enquanto ainda está na escrita, no processo de desenvolvimento, que é um processo bem longo. Mas também é inédito, é a primeira vez que o Brasil tem uma série dentro da FOX que pretende se desenvolver na América Latina como um todo. Isso para nós é interessantíssimo, demonstra o quanto a bola está quicando. O Brasil tem muita história para contar e a América Latina está gostando de ouvir essas histórias. #MeChamaDeBruna foi a maior série de audiência de todos os tempos da América Latina na FOX. Dentre todas as séries que eles próprios produziam na América Latina. Só perdeu para The Walking Dead [...] Inclusive ela foi vendida para a Nova Zelândia. Até na Nova Zelândia está passando Bruna Surfistinha, quer dizer, tem um caminho que o Brasil começa a conquistar e eu acho que a tecnologia de VOD ajuda também.
Coestrelada por Julia Ianina, Julia Konrad e Silvio Guindane, a terceira temporada de 1 Contra Todos estreia no dia 23 de abril, tanto na grade de programação quanto no catálogo de streaming da FOX Premium.