Esqueça o Comendador de Império. Agora, Alexandre Nero é o 'Rei do Sertão'!
Pelo menos, esse é o apelido de seu personagem em Onde Nascem os Fortes, nova supersérie da Rede Globo escrita por George Moura e Sergio Goldenberg, com direção artística de José Luiz Villamarim. Ou seja, a mesma equipe responsável pelo remake de O Rebu em 2014.
Mas ao invés de assombrar ricos convidados numa festa, o mistério dessa vez se encontra nos cenários desérticos do nordeste brasileiro. Tudo começa quando os irmãos Maria (Alice Wegmann) e Nonato (Marco Pigossi) viajam para a cidade fictícia de Sertão em busca de aventuras. Só que o moço desaparece após flertar com Joana (Maeve Jinkings), amante do poderoso empresário Pedro Gouveia (Alexandre Nero). Enquanto o 'Rei do Sertão' vira principal suspeito do crime, Maria precisa lidar com sua paixão por Hermano (Gabriel Leone), filho de Pedro.
Durante bate-papo com os jornalistas, o elenco de Onde Nascem Os Fortes não pode contar spoilers sobre o que aconteceu com Nonato, obviamente, mas prometeu uma trama intensa. "A vida do Hermano vira de cabeça pra baixo, pois fica dividido entre o coração e a família. Mas ele tem um senso de justiça e não irá tomar nenhuma atitude drástica até descobrir a verdade. Será uma jornada cheia de paradoxos, o que é humano e causa identificação com público", afirma Leone.
COMO CONTAR UMA HISTÓRIA
Mas que diabos é uma supersérie? Trata-se de uma aposta da Rede Globo em sua dramaturgia. Para explicar melhor, passemos a palavra para Alexandre Nero:
"Onde Nascem os Fortes é um formato novo. Mas ela não é uma série. Nem novela. É um negócio complicado. São mais de 50 capítulos que você grava como se fosse uma série. Então, é praticamente filmar quatro ou cinco temporadas de uma vez só. E a ordem é completamente doida. Começa gravando o episódio 3, aí vai pro 40, vai pro 20, vai pro 50. Sem dúvida, é o trabalho mais difícil que já fiz."
Essa é mais uma prova de como a televisão brasileira começa a brincar com os diferentes formatos que o audiovisual pode proporcionar. Mas não é só o publico que ganha. Os atores também, segundo Debora Bloch, que, recém-saída de Treze Dias Longe do Sol, volta a investir no gênero como Rosinete, a esposa traída de Pedro. "Essas séries tem o ritmo diferente. Novela é um trabalho exaustivo e muito rápido, pois você tem que botar o capítulo no ar. Aqui, é outra coisa. Sâo trabalhos mais desafiadores, que trazem mais novidades."
TEMPOS MODERNOS
Uma das grandes promessas de Onde Nascem Os Fortes é o estilo de José Luiz Villamarim. E não se trata apenas do seu trabalho estético, investindo em planos-sequência e longas tomadas de silêncio (algo já garantido na supersérie, de acordo com Nero). A proposta do show é trazer um nordeste diversificado, apresentando-o no mundo moderno, contrastando com o conservadorismo já tão visto em várias obras.
Logo, não espere que o 'Rei do Sertão' seja um daqueles antagonistas canastrões, do tipo que fica ajeitando o bigodão em frente das câmeras. Nessa trama, ninguém é 100% bonzinho. Nem 100% errado. "Eu acho ele um sacana, mas o José não concorda que ele seja um vilão. Ele é um homem típico da região, muito machista. Mas também sente paixão pela amante, é um cara afetivo com os filhos.É quase um coronel de antigamente, mas o cuidado é trazer um coronel contemporâneo. Ele conhece o mundo, fala várias línguas e usa as minhas tatuagens, por exemplo", explica Nero.
Nesse clima, quem deve dar o que falar é Gil, personagem de Clarissa Pinheiro - revelação de Casa Grande, elogiado filme de Fellipe Barbosa. Nas telinhas, ela assumirá o papel de motorista e (praticamente) guarda-costas de Pedro Gouveia, uma função quase sempre destinada para homens em novelas.
"Pra mim, é uma honra poder fazer uma figura homossexual num cenário tão machista como o Sertão. É tão rico tocar nessa questão, então estamos trabalhando para fugir do estereótipo. Ela dirige carros grandes e usa de elementos másculos, mas também tem seus truques femininos. Tem sensibilidade para perceber os dramas ao redor, ao mesmo tempo que tenta olhar a vida de uma forma mais serena, sempre cheia de tiradas. A mulher pode tudo!", comemora Clarissa, que retoma sua parceria com Villamarim após uma participação em Justiça.
DESERTO DE CINEMA
Algo que também promete agraciar os olhos do espectador serão as paisagens naturais da cidade fictícia de Sertão. Com locações em Pernambuco, Piauí e Paraíba; a ideia é retratar os vários tipos de sotaque e figuras do nordeste brasileiro. Se o resultado final é belo, as gravações foram feitas entre poeira, terra batida e muito calor.
"Não é um lugar específico do Nordeste brasileiro. Então misturamos sotaques de vários lugares, de maneira proposital. A gente ficou meses lá no sertão e foi algo bem complicado. Um lugar muito afastado, era praticamente um acampamento da rede Globo... A farmácia mais próxima ficava a 20 quilômetros. É quase um deserto", revela Nero, bem bronzeado para o papel.
Já Leone declara sua paixão pelo nordeste, após trabalhar lá na novela Velho Chico e nos inéditos filmes Garoto e Piedade: "Eu adoro o sertão, tem algo mágico. E o processo de imersão que passamos lá foi de uma solidão produtiva. É um local que mexe com você e te faz refletir. Você se sente no meio daquela imensidão sem fim, numa natureza bruta e bucólica."
Por fim, a pernambucana Clarissa Pinheiro resume, com orgulho, como este foi o cenário perfeito para tal história: "É uma paisagem bonita, mas dolorida. É algo tão cinematográfico, representa essa coisa árida que existe na vida!" Com participações de Patrícia Pillar, Fábio Assunção, Irandhir Santos, Enrique Diaz, Jesuíta Barbosa, Lara Tremouroux e Camila Márdila, Onde Nascem os Fortes tem previsão de estreia nas telinhas para abril de 2018.