Foi em um domingo, precisamente no dia 20 de janeiro de 2008, que um professor de química do ensino médio diagnosticado com câncer no pulmão invadiu os lares norte-americanos. Hoje considerado um clássico, Breaking Bad foi uma das últimas séries da Terceira Era de Ouro da televisão nos Estados Unidos, uma onda de produções que começou com The Sopranos (HBO) e eternizou personagens que apresentam uma personalidade dúbia e questionável. São os protagonistas que fogem das características padronizadas de mocinhos moralmente imbatíveis, idealizados e incorruptíveis, o que catapultou a arte das séries de TV de forma que não fossem mais vistas como as ‘primas pobres’ do Cinema. Lembrou-se de um certo Heisenberg?
Breaking Bad deu a Bryan Cranston um presente raro entre os atores de televisão. Depois de sete temporadas interpretando o pai de família Hal Wilkerson em Malcolm in the Middle, Cranston já ficara eternizado com um personagem, mas agora é lembrado por dois, que por sinal traçaram jornadas completamente diferentes. Seja Hal ou Walter White, o ator fez um caminho de poucos ao ter trazido à vida não um, mas dois personagens que ficaram no ar por anos e são bastante lembrados.
A ideia de Breaking Bad funcionou como uma espécie de exorcismo para o criador, Vince Gilligan. “No começo, eu achava que seria interessante pegar um cara como eu — alguém que está tentando se dar bem na vida machucando o mínimo de pessoas possível —, e fazê-la atravessar uma fase pesada e lhe dar motivo para que se tornasse um criminoso. Porque os criminosos me fascinam. Eu não quero ser um deles, mas sou fascinado por pessoas que têm a habilidade de fazer coisas que são impossíveis.”
“Achei que nossa melhor esperança era que nos permitiriam levar duas ou três temporadas nesse pequeno experimento. Eu nunca achei que pudesse se tornar num fenômeno mundial. Se eu soubesse disso no começo, ficaria tão intimidado, seria tão exageradamente cauteloso, que a série não se tornaria o fenômeno que se tornou.”
Mas o fenômeno mundial se concretizou, e Gilligan não costuma aceitar os créditos todos para si. “Olho para trás e não sei como aconteceu. Eu não desmereço o elogio de ser o criador, mas em meu coração eu não aceito que isso seja verdade. É muito maior do que qualquer coisa que eu tenha sentido que tenha feito. Eu trabalho em televisão há vinte anos e nunca vi esse entusiasmo antes. E são essas coisas que me amedrontam enquanto eu sigo em frente. Me assusta pensar que nunca vou atingir aquele auge de novo. Eu nunca vou saber com certeza o que fizemos de certo da primeira vez.”
Não há uma fórmula que explique por que Breaking Bad se tornou um sucesso tão grande, mas existe um zelo bastante característico na forma como a série joga o tempo todo com o espectador e as expectativas que cria a respeito de Walter. A princípio, tudo o que a série faz é apresentar situações que provocam empatia pelo personagem. Tudo soma a seu favor: ele ser um professor do ensino médio com um salário que não sustenta a família, ter um filho com paralisia cerebral, um casamento morno, um câncer no pulmão recém diagnosticado e a esposa estar grávida do segundo filho do casal. Mas o que acontece quando todas essas coisas fazem este personagem tomar uma decisão repulsiva? O que você sente por ele?
“Era uma ironia, considerando o quanto estive preocupado naqueles primeiros dias que ele fosse amável, mas, no final de tudo, honestamente, eu gostava bem menos dele do que o espectador médio de Breaking Bad”, confessa Gilligan em entrevista a David Thomson, organizador do livro oficial da série. “Desde o primeiro episódio ele ía morrer — todos nós vamos morrer — e ele morreu nos seus próprios termos; ele se foi mais ou menos como um herói. O fato de que ele arruinou completamente sua família no processo não pareceu pesar nele da mesma forma que pesou em todos os demais na história. Foi, de todos, o personagem com quem eu menos simpatizei.”
A trajetória meteórica de Breaking Bad ao posto de clássico da televisão é marcada por alguns pontos fixos e episódios que ficaram eternizados. De pizza no telhado a Ozymandias, passando por um divisivo episódio engarrafado, o AdoroCinema listou os dez episódios essenciais da série. Confira a seguir.