NOTA: 3,0/5,0
Previsto para ser um personagem coadjuvante na segunda temporada de Demolidor, Frank Castle roubou tanto a cena que acabou ganhando uma série própria, que nem estava prevista quando Marvel e Netflix anunciaram os planos para levar o universo de Os Defensores para as telinhas. Vivido por Jon Bernthal (conhecido pelo papel de Shane em The Walking Dead), Castle foi a melhor coisa da irregular temporada de Daredevil, o que motivou um spin-off solo do personagem, que já surge como algo inusitado por não ser uma história de origem.
A história se passa após o ocorrido em Demolidor. Frank é tido como morto por todos os órgãos estatais, mantendo eventual contato com Karen e buscando seguir sua vida após matar os responsáveis pela morte de sua mulher e filhos. Mas, como não poderia deixar de ser, ele não terá paz por muito tempo e acaba diante de uma nova jornada de violência brutal envolvendo seu passado.
Criada por Steve Lightfoot, a série possui um problema comum nas produções Marvel/Netflix, que é o ritmo lento. Não há menor necessidade de 13 episódios para a temporada. Fica cada vez mais difícil entender a decisão das empresas de investir em 13 capítulos para todas as séries individuais e apenas oito para o crossover (Os Defensores). Com o número excessivo de episódios, O Justiceiro acaba perdendo tempo em histórias e personagens paralelos que são pouco interessantes e que não acrescentam muito no desenvolvimento narrativo.
Além dos problemas de ritmo, The Punisher (no original) tem uma falha de argumentação bem preocupante nos dias de hoje, principalmente no que diz respeito ao uso de armas de fogo pela população. E o problema principal não é nem o fato de tomar um posicionamento a favor ou contrário ao desarmamento, mas sim por não conseguir transmitir uma posição clara sobre o assunto. Logo no primeiro episódio, a série oferece uma posição bem crítica à figura do americano conservador do sul, que diz que a verdadeira minoria subjugada no mundo é o americano branco e cristão. A série oferece este personagem e trata de deixar claro o problema em seu discurso e a fragilidade de suas ideias. Ao mesmo tempo, mais à frente na temporada, a produção insere um político anti-armas numa posição de antagonista e coloca uma personagem querida pelo público à frente do argumento pró-armas.
Sem saber o que dizer, O Justiceiro trata de diversos assuntos constantemente debatidos nos dias de hoje, como exércitos de mercenários com dinheiro federal, falta de limite e transparência das agências públicas de segurança, dentre outros, mas sempre evitando uma postura crítica, como se quisessem evitar perder os fãs apaixonados pela postura "olho por olho, dente por dente" do protagonista, quando ele mesmo se esforça para fugir de sua saga de violência.
Jon Bernthal segue bem no papel, com uma presença física importante e uma intensidade necessária ao personagem. As sequências de ação são bem marcantes ao longo da temporada, especialmente a vista logo no terceiro episódio, num flashback bem impressionante ao som de Bruce Springsteen. O elenco conta ainda com boas participações de Deborah Ann Woll, Ebon Moss-Bachrach, Amber Rose Revah e Ben Barnes. Indicada ao Oscar por Casa de Areia e Névoa, a veterana Shohreh Aghdashloo também integra o time, mas num papel bem secundário para um nome tão talentoso, mais ou menos como acontece com Sonia Braga em Luke Cage.
No geral, a série funciona, principalmente pela violência brutal. Mas fica a impressão de que poderiam ter explorado muito melhor o personagem e sua personalidade. O texto pouco inspirado dá a tona de toda temporada, e é ainda mais prejudicial na metade final. Isso fica evidente no penúltimo episódio, que insere flashbacks/cenas de sonho previsíveis e pouco envolventes.
OBS: Como jornalista, acho importante destacar ainda que não existe sala igual a da Karen Page no jornal. Principalmente em se tratando de uma jornalista em início de carreira. E, sim, eu vou falar isso em toda série da Marvel. Não faz sentido.