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    10 ‘episódios engarrafados’ marcantes das séries de TV

    “Well, tell your disappointment to suck it. I'm doing a bottle episode!”

    Você com certeza já assistiu a algum episódio engarrafado, provavelmente sem saber que tratava-se disso, ou que o termo sequer existia. Mas o fato é que ele existe, e quando bem trabalhado pode render alguns dos melhores momentos de uma série.

    Na metalinguagem de Community, pelas palavras de Abed (Danny Pudi): “Eu odeio episódios engarrafados. Eles são totalmente cobertos de expressões faciais e nuances emocionais. É melhor eu me sentar em um canto com um balde na minha cabeça.”

    Via de regra, um episódio engarrafado é um conceito que foi criado para se referir a um episódio que busca gastar o menor orçamento possível. Normalmente, trazem apenas os membros principais do elenco regular em um único ambiente, e dessa forma não há necessidade de construir novos cenários ou gastar com figurantes. O episódio não precisa necessariamente ser barato, mas o formato possibilita que o roteiro priorize a caracterização dos personagens e a relação entre eles ao invés de grandes cenas com efeitos  e reviravoltas marcantes.

    Recentemente, um episódio engarrafado, ou bottle episode, polarizou as opiniões na internet. Trata-se do episódio 7 da segunda temporada de Stranger Things, ‘A irmã perdida’. Observe que o episódio não se passa totalmente em um único ambiente, mas se encaixa no conceito por abordar uma história condensada e que existe para aprofundar o arco de uma personagem específica — que, no caso, é Eleven (Millie Bobby Brown). Sob a luz da polêmica, resolvemos listar 10 dos melhores episódios engarrafados da televisão — para provar que eles podem, sim, ser bons. E muito!

    Mad Men, “The Suitcase” (4.07)

    Don Draper (Jon Hamm) e Peggy Olson (Elisabeth Moss) presos a noite inteira nos escritórios da Sterling Cooper Draper Pryce tentando chegar ao anúncio perfeito para as malas Samsonite. Esta é a premissa do episódio, que entrega algumas brilhantes falas em uma sensacional luta de egos entre dois personagens que são tão semelhantes em seus objetivos mas completamente opostos no modus operandi.

    Sendo Mad Men uma série de narrativa linear, é um grande desafio fazer um episódio engarrafado, e este não fica somente em um cenário, pois também acompanha outros dos colegas de trabalho indo assistir a uma luta de boxe. É um paralelo bem articulado, já que o verdadeiro duelo é intelectual, e acontece na sala de Don.

    Seinfeld, “The Chinese Restaurant” (2.11)

    Neste episódio, George (Jason Alexander), Jerry (Jerry Seinfeld) e Elaine (Julia Louis Dreyfus) vão jantar em um restaurante chinês, antes de irem ao cinema. Quando eles chegam ao local, precisam esperar durante alguns minutos até conseguirem uma mesa.

    O grande truque do episódio está no fato de que ele se passa todo em tempo real, sem nenhum corte de cena. A história do episódio em si é extremamente simples: George tenta desesperadamente fazer uma ligação do telefone público, mas o homem que o está utilizando não desocupa de jeito nenhum; Jerry sente remorso por ter mentido para o tio para poder ir ao cinema, e ao mesmo tempo vai ficando aflito por não conseguir lembrar o nome de uma moça que conhece. Já Elaine vai ficando cada vez mais frustrada porque está com fome.

    Foi por pouco que a NBC deixou o episódio ir ao ar, pois inicialmente a emissora não estava muito contente com ele — considerando a ‘falta de história’ um grande problema. Larry David ameaçou deixar a emissora caso fosse obrigado a fazer mudanças no episódio, e foi neste ponto que o corpo executivo da Rede assumiu que não estava entendendo muito bem o que era Seinfeld, mas tinha confiança o suficiente na série para deixá-la no ar. Ainda bem, não é?

    Homicide: Life on the Street, “Three Men and Adena” (1.05)

    O episódio vencedor do Emmy de melhor roteiro em série dramática em 1993 (para Tom Fontana) tem uma história minúscula: Bayliss (Kyle Secor) e Pembleton (Andre Braugher) se preparam para entrevistar Risley Tucker, acusado de assassinar Adena Watson, de 11 anos. Eles têm 12 horas para arrancar uma confissão de Tucker antes que ele saia livre, e o episódio se passa todo dentro da sala de interrogatório enquanto ambos pressionam o acusado. O episódio é considerado um dos mais clássicos da série, que ajudou a definir as bases do gênero policial na televisão como conhecemos hoje.

    Doctor Who, “Midnight” (4.10)

    Este é um daqueles episódios marcantes e inesquecíveis de Doctor Who. O Doutor (David Tennant) e Donna (Catherine Tate) vão para o planeta Midnight para um dia relaxante, mas as coisas saem terrivelmente errado para o Senhor do Tempo quando ele decide fazer um passeio de ônibus, e o veículo começa a dar problema graças a uma entidade misteriosa. Ninguém é confiável. Nem mesmo o próprio Doutor.

    O claustrofóbico episódio, escrito por Russell T. Davies, é ambientado quase totalmente no interior do ônibus, com o mínimo possível de efeitos especiais e perseguições que dão lugar a diálogos densos. Um clássico instantâneo

    The West Wing, “17 People” (2.18)

    ‘17 People’ era quase um desafio para Aaron Sorkin. O episódio é ambientado inteiramente na Casa Branca quase completamente vazia, e durante uma noite, os personagens do elenco principal vagueiam entre uma sala e outra à medida que encontram conflitos dos mais variados possíveis. Assim, o episódio é considerado uma pequena amostra da variedade tonal e de personagens que existe em The West Wing.

    Arquivo X, “Ice” (1.08)

    Mulder (David Duchovny) e Scully (Gillian Anderson) são enviados até um posto no Alasca, para investigar um assassinato em massa em um time de geofísicos. Lá, eles acabam encontrando uma forma de vida no gelo, que estimularia comportamentos agressivos.

    Além de capturar com grande propriedade os temas de teorias conspiratórias que seriam aprofundados nas temporadas seguintes, e também explora com profundidade a relação entre os dois protagonistas. É considerado um dos episódios mais marcantes de Arquivo X.

    Buffy, a Caça-Vampiros, “Older and Far Away” (6.14)

    É a comemoração do aniversário de Buffy (Sarah Michelle Gellar). Dawn (Michelle Trachtenberg), sentindo-se rejeitada e sempre ignorada pelo grupo, deseja que nunca mais seja abandonada. Sem querer, ela acaba conjurando um feitiço, fazendo com que ninguém seja capaz de sair da residência das garotas Summer. E assim, obviamente, a convivência acaba se tornando um problema.

    Com menos monstros e perseguições do que seria normalmente em Buffy the Vampire Slayer, este episódio se dedica a tratar as relações interpessoais entre os membros da Gangue do Scooby, aprofundando temas necessários e importantes para a série, com um roteiro bastante veloz e criativo.

    Community, “Cooperative Calligraphy” (2.08)

    Quando Annie (Alison Brie) não consegue encontrar a sua caneta (pela 'enésima' vez), ela perde o controle e ordena: ninguém sai da biblioteca até que o ladrão de canetas apareça.

    O episódio é um daqueles metalinguísticos e autoconscientes de Community, e traz inclusive Abed explicando o conceito do que é um episódio engarrafado. Recheado de ironia e frases inteligentes, é uma das maiores justaposições de humor ácido com referências a elementos da cultura pop e ao próprio formato que adota. Não viu? Veja!

    Friends, “The One Where No One’s Ready” (3.02)

    Ross (David Schwimmer) tem um evento de gala no museu, e tenta desesperadamente apressar a turma para chegar à celebração a tempo. O problema é que ninguém fica pronto. Nunca.

    Talvez uma das falas mais marcantes de toda a série esteja neste episódio. “Look at me. I’m Chandler. Could I be wearing any more clothes?”

    Este não é o único episódio engarrafado de Friends, mas foi graças ao seu sucesso que a série produziu praticamente um por temporada. O episódio pega muitas referências emprestadas de Seinfeld, inclusive do episódio listado anteriormente, ‘The Chinese Restaurant’; o princípio dos dois, observe, é bem semelhante.

    Breaking Bad, “Fly” (3.10)

    Walt e Jesse no laboratório cozinhando metanfetamina. Há uma mosca solta no local, e os dois precisam fazer absolutamente tudo para encontrá-la e matá-la antes que contamine toda a droga.

    Se você não gosta deste episódio, então assistiu a Breaking Bad errado. Dirigido por Rian Johnson, ‘Fly’ é definitivamente um episódio que divide opiniões entre o público, mas é um dos grandes favoritos da crítica — inclusive entre o time de jornalistas do AdoroCinema. A hora sintetiza a dinâmica entre Walter e Jesse de maneira peculiar, exatamente porque concede aos dois tempo necessário e suficiente para reavaliarem a própria relação, e traz remorsos, tristezas e angústias — atreladas à excelente direção de Johnson, que faz contraposições ousadas justamente para evidenciar o quão diferentes os dois personagens são.

    ‘Fly’ não é necessariamente um episódio que impulsiona a história, mas fica lembrado como um dos mais inventivos de Breaking Bad e da História da televisão.

    Bônus: BoJack Horseman, “Underground” (4.07)

    Muito engana-se quem acha que bottle episodes só existem em séries live-action. Em sua quarta temporada, BoJack Horseman fez um episódio inteiro dentro da casa de Mr. Peanutbutter, que literalmente afundou durante uma festa e fez todos os presentes passarem uma semana sendo obrigados a conviverem juntos. O episódio vai da democracia à anarquia em questão de minutos, em uma potente metáfora da vida em sociedade.

     

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