Atenção: SPOILERS do episódio 8.01 de The Walking Dead, 'Mercy'.
É hora da guerra e não há tempo a perder, mas o primeiro episódio da oitava temporada de The Walking Dead tinha ainda outra marca a honrar: a do centésimo capítulo da história.
A sétima temporada deixou o público no limite, sobretudo em sua segunda metade, com longos episódios descartáveis ou que poderiam ser comprimidos. Justamente por isso, Scott M. Gimple havia prometido que neste ano, as coisas iriam começar com o pé no acelerador. O produtor definitivamente não mentiu, já que o episódio entrega momentos marcantes e dá o primeiro passo concreto rumo à guerra.
Apesar de ficar naturalmente bem próxima à versão dos quadrinhos, a série de TV tem uma tradição já estabelecida; às vezes passa direto por alguns pontos das HQs, outras vezes se alonga demasiadamente em arcos pequenos. ‘Mercy’ faz as duas coisas ao mesmo tempo, apresentando a primeira batalha de Rick (Andrew Lincoln) contra Negan (Jeffrey Dean Morgan), em uma espécie de cerco ao Santuário.
Há algumas maneiras de construir tensão e expectativa em cima de uma sequência tática e de batalha. Uma destas maneiras é levar o público junto aos personagens na condução do plano, e deixar que a execução cumpra a tarefa de surpreender ou empolgar. Outra maneira é executar primeiro deixando o público às cegas tentando entender o que está acontecendo, de forma que a surpresa seja a única reação óbvia e imediata, e só depois explicar o que ocorreu. Não é a mais honesta das escolhas narrativas, mas é a utilizada por The Walking Dead nos últimos anos, baseada sobretudo na dedicação que o público tem a cada um dos personagens da série, e não na esperteza ou na rapidez do universo apresentado.
Mercy entrega um episódio cheio de ação, mais movimentado que os anteriores recentes da série, mas ainda assim uma hora confusa em sua maior parte. Há algo incômodo em todo o desenrolar do cerco e da conduta da trama, que deixa o espectador aquém dos personagens apenas pelo valor do choque. É na verdade um tanto enfurecedor, como se a única maneira da qual TWD dispõe para nutrir o interesse do público fosse alongando as cenas de ação até que parem de fazer sentido. É apenas cansativo
Mesmo assim, há uma ousadia na apresentação do flashforward que traz o ‘Old Man Rick’. A cena do personagem mais velho, deitado em sua cama com a barba grisalha havia sido colocada no trailer da temporada, e a justificativa veio logo no primeiro episódio. Trata-se de um vislumbre do futuro, em um momento pacífico e pós-guerra, uma menção que os leitores de Robert Kirkman identificam imediatamente — uma ponta de esperança de que o futuro será bom. E enquanto balanceia alguns pontos negativos com outros positivos e que geram interesse, o episódio consegue fazer com que o público se sinta empolgado para voltar e torcer para virar esta página de uma vez.
Outro ponto interessante do episódio é a ‘tomada de poder’ de Maggie (Lauren Cohan) — ou, no caso, a sua tomada de consciência e posição de influência em Hilltop, frente a Gregory (Xander Berkeley). É um grande momento para a personagem, que de fato veio crescendo e se transformando em uma mulher cada vez mais decidida e de forte espírito de liderança.
É curioso notar que os momentos de glória em ‘Mercy’ são justamente aqueles focados nos personagens protagonistas, momentos breves de destaque em que cada um deles está no centro — além de Rick e Maggie, o terceiro diz respeito a Carl (Chandler Riggs). Isso acaba evidenciando que, de fato, ‘Mercy’ é um episódio acima da média da temporada anterior, e justamente por isso também revela o quão desgastante e prejudicial é a figura de Negan. Ele é interpretado por um ator carismático, mas às vezes pode ser (e é) exaustivo vê-lo em cena roubando toda a atenção com as mesmas frases, as mesmas ameaças.
É hora de parar de orbitar ao redor de Negan e voltar com os heróis ao centro das atenções.
Episódio: 8.01 - Mercy
Escrito por: Frank Darabont
Dirigido por: Greg Nicotero
Exibido originalmente em: 22/10/2017