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    Orphan Black: Graeme Manson debate processo criativo, relação com o público e futuros projetos (Entrevista exclusiva)

    Conversamos com o cocriador da série!

    “Não tem um convidado deste ano mais solícito do que ele”, comentou uma das assessoras de imprensa do RioMarket enquanto esperávamos para conversar com Graeme Manson, em um hotel na Zona Sul do Rio de Janeiro. O cocriador de Orphan Black veio ao Brasil para participar da área de negócios do Festival do Rio, e chegou com o objetivo de bater um papo com o público e conhecer de perto pelo menos uma parte do “Clone Club Brasil”, o grupo de fãs que se criou em torno da série.

    Atencioso, Manson falou com cada um dos fãs que o procurou antes ou após o evento, e sua dedicação a cada um era vista a olhos nus. Não foi diferente, é claro, quando o AdoroCinema bateu um papo exclusivo com o produtor a respeito da última temporada da série, do legado deixado por ela e do que vem por aí em sua carreira.

    Processo Criativo

    Orphan Black começou como um projeto de um longa-metragem, ainda em 2001, quando Manson e John Fawcett ainda estavam colocando a ideia no mundo. Desde então, tornou-se uma série que inicialmente contaria com três temporadas, e depois foi estendida chegando até a quinta. No longo processo de criação, vários elementos novos foram inseridos apenas na temporada final, mas também houve o que permaneceu nos planos desde o início:

    “Acho que provavelmente os conceitos estavam lá desde sempre”, comentou. “Dar um tempo na finale para terminar com todos os vilões, para então podermos ir para o futuro e ver quem as irmãs se tornaram com suas liberdades. Era muito importante contar a história de Sarah, que ela precisava das suas irmãs para superar aquilo após tudo que ela já havia feito por elas. Esta era uma ideia sobre a qual eu e John [Fawcett] concordamos desde o início.”

    Orphan Black: Confira nossa crítica da quinta (e última!) temporada

    Mas esta concordância entre a dupla talvez não fosse um dos elementos mais comuns de se encontrar na sala dos roteiristas, já que as divergências entre os dois foram muitas vezes essenciais para a história: “Não consigo escolher um momento porque a tensão estava sempre lá. Sempre havia coisas que ele queria e eu não queria, e tínhamos que trabalhar juntos para chegar a um acordo. A tensão é parte do processo criativo, então era literalmente todo dia. John é muito bom com arcos narrativos e ele tem ideias de direção muito visuais [...] É como você cria espaço para os debates criativos, precisa um destruir outro. Nem sempre é fácil, mas é o que faz uma série o que ela é.”

    Personagens e Destinos

    Não há como negar: uma certa morte na última temporada de Orphan Black abalou corações, e outra surpreendeu justamente por não acontecer. Esta segunda, é claro, trata-se de Rachel Duncan, e a decisão de não matá-la foi alto construído aos poucos:

    “Eu comecei a quinta temporada achando que íamos matar Rachel, e John nunca concordou com isso. Mas acho que não foi um grande problema. Assim que concordamos que não iríamos matá-la, sabíamos que podíamos passar um tempo na sala dos roteiristas e criar um arco interessante”, explicou. “As emissoras [Space e BBC America] não acreditavam que poderíamos fazer aquilo. Eles queriam que nós matássemos a Rachel. Então precisamos convencê-los de que era possível.

    É um testamento, na verdade, que estávamos dispostos, particularmente com Rachel e na quinta temporada, a mergulhar fundo em uma história triste e obscura, e expusemos o passado dela na sala dos roteiristas. Muitas mulheres fortes tiveram um papel importante na criação e na formatação desta história para ela.”

    Já a morte de Mrs. S...

    “A ideia veio na sala dos roteiristas, antes de começarmos as filmagens. Estávamos na sala dos roteiristas e a ideia apareceu, e então ficou um silêncio mortal. Então nós olhamos um para o outro e dissemos, ‘Ah, não. Essa é uma ótima ideia.’ Nós conversamos muito sobre isso porque nos perguntávamos o que Sarah precisava vivenciar nesta última temporada. O que iria impulsioná-la a sair do conforto totalmente. Então pensamos que o mais maduro e doloroso possível seria lidar com a morte de sua mãe e ter que assumir o seu lugar. Principalmente porque no início da série, nós a víamos bater cabeça com a mãe o tempo todo.

    Então a primeira pessoa para quem ligamos foi Tat [Maslany], ali da sala dos roteiristas. Nós contamos a ela e ela teve a exata reação que nós. Ela estava tipo, ‘Ah, não. Ah, não. Parece a ideia perfeita.’ Ela estava se colocando no lugar da Sarah. E então tínhamos que fazer a segunda ligação. Mais tarde naquela noite, nós ligamos para Maria [Doyle Kennedy] na Irlanda e dissemos, ‘É o seguinte: Mrs. S. vai morrer no episódio 8’.

    Mas ninguém conseguia imaginar um episódio final sem a Mrs. S., então decidimos ali naquele ponto que a finale teria algum elemento de flashback. E a ideia de o flashback acontecer durante o nascimento dos gêmeos veio depois. Achamos que seria muito bom mesclar aquele momento com a S., o que reuniu toda a jornada em uma coisa só. Aquela é uma das cenas da qual eu mais me orgulho.”

    Sobrevivendo acima do caos

    O grande desafio para uma série durante o Peak TV — atual era da televisão, definida pela grande quantidade de séries pipocando a todo momento — é sobreviver e permanecer relevante. E Manson explica como e por que Orphan Black foi capaz de continuar até o fim com uma base de fãs tão forte e fiel, mesmo em uma emissora pequena e tendo sido ignorada pelas premiações por tantos anos:

    “Acho que engajamento e dedicação aos fãs à medida que a base cresce é muito importante. E então tomar decisões firmes com as quais as pessoas podem se identificar. Você pode ter a história mais louca do mundo, mas se os personagens não estiverem se relacionando com o público, no nível em que eles conseguem se enxergar na tela, aquilo não vai ficar na cabeça de ninguém. É tudo alquimia. É difícil dizer o que realmente atrai as pessoas, mas elas gostam de ser surpreendidas.

    Não acho que seja um dever falar sobre assuntos politicamente relevantes porque no fim das contas é entretenimento e às vezes as pessoas só querem uma boa diversão. E não há nada de errado com isso. Mas eu, particularmente, gosto de contar histórias que tenham uma reflexão sobre a sociedade. Seja política ou ciência, ou certos tipos de discriminação. Eu giro ao redor destes temas, destas histórias. Acho que roteiristas sempre acabam fazendo isso.”

    Perdas ao longo do caminho

    Não é uma regra, mas muitas vezes teoria e prática são diferentes. No caso de Orphan Black, isto significa dizer que há partes da histórias ou personagens que os roteiristas queriam explorar mais, e não puderam por ‘forças maiores’:

    “Eu queria ter feito mais Tony. Todos nós gostaríamos de ter explorado o Tony um pouco mais”, revelou, explicando que a dificuldade de inserir Tony em mais cenas aconteceu porque o personagem exigia entre 3 e 4 horas de Tatiana Maslany na maquiagem, o que dificultava a agenda de filmagens — as demais personagens costumavam exigir no máximo 2 horas, e esta era a base de tempo com a qual a equipe trabalhava.

    “Queria que não tivéssemos perdido Michiel Huisman para Game of Thrones. Gostaria de ter explorado mais a relação [de Cal] com a Sarah, mesmo que fosse só um pouco, porque na quinta temporada nós fizemos tudo ser realmente sobre as irmãs. Até mesmo a respeito de Jesse — todos nós amávamos Jesse, mas nós nos perguntamos do que essas mulheres precisavam para completarem suas jornadas, e a resposta foi que elas só precisavam umas das outras.”

    Futuro

    Além da possibilidade de um filme — que Manson e Fawcett jamais descartaram, e demonstram muita vontade de fazer —, há vários projetos em fases iniciais de desenvolvimento na Temple Street Productions. Manson explica que estas possíveis séries não estariam diretamente ligadas a Orphan Black, mas ambientadas no mesmo universo e com características semelhantes, seja ao tratar de ciência corporativa, trazer mulheres fortes para o centro da narrativa ou até avançar um pouco no futuro do mundo da série. “Eu gosto da ideia de dar a novos roteiristas a chance de trabalhar e criar novos mundos a partir do que estruturamos no nosso”, contou o produtor, revelando que ele mesmo, embora não atrelado a tais projetos (são cinco em desenvolvimento), já está também no seu próximo trabalho:

    “Estou trabalhando em um documentário agora, com a Cosima Herter [consultora científica da série por cinco temporadas, e a inspiração para Cosima Niehaus]. Ela é uma grande amiga minha e estamos pesquisando  e fazendo um documentário sobre Biohacker. É um braço incrível da ciência cidadã, muito importante, de ponta e politicamente relevante. Estou fazendo isso agora e soa completamente diferente de Orphan Black.”

     

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