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    American Horror Story: Cult é uma potente metáfora do confinamento (Primeiras Impressões)

    Confira o que achamos do início da nova antologia de terror do FX.

    FX Networks

    A noite do dia 8 de novembro de 2016 foi um momento assustador para muitos, e catártico para outros; o anúncio da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos causou um desespero e uma incredulidade coletivos, e é catapultando este medo para territórios mais literais que Ryan Murphy apresenta a sétima parte da antologia de American Horror Story.

    Embora a premissa anunciada de American Horror Story: Cult seja a realidade pós-Trump, a série não fica presa ao universo político de perto, e mergulha logo em um clima mais obscuro que é apenas iniciado pelo medo do que o Presidente faria.

    Portanto, nem Sarah Paulson, Alison Pill, Evan Peters ou Billie Lourd: o real protagonista de AHS: Cult é o medo, que neste caso é representado por palhaços. Palhaços muito, muito sinistros.

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    A história acompanha o casal Ally e Ivy Mayfair-Richards (vividas respectivamente por Paulson e Pill), que têm um filho pequeno, Oz. A ideia de Trump como presidente faz com que Ally tenha crises de ansiedade, que logo desencadeiam o retorno de suas fobias; entre elas uma irracional aversão a palhaços. A coulrofobia (pois é!) é tanta que até mesmo a revista em quadrinhos de seu filho (cujo protagonista é um velho conhecido para os fiéis de AHS) lhe causa pânico.

    Paralelamente, Kai (Peters) e Winter Anderson (Lourd) são irmãos que dividem uma estranha (e sinistra) conexão. Eles não parecem ser exatamente próximos à primeira impressão, mas logo a história muda e algo particularmente esquisito faz com que eles tomem o centro das atenções.

    Diferente de Roanoke (a sexta temporada), Cult já começa com o pé no acelerador e não economiza ou esconde a sua paixão pela paranoia e pelo bizarro. O primeiro episódio (disponibilizado em adiantamento para a crítica internacional) já insere os personagens em um mundo que rapidamente se transforma, sobretudo através da visão de Ally. Sarah Paulson é o fio condutor do público neste universo, à medida que seu próprio enfraquecimento e crescente delírio* são exatamente formas de representar a decadência de um sistema e a perspectiva incerta a respeito do futuro.

    (*)É realmente delírio ou um temor real que ainda não foi percebido por todos? Fica a reflexão.

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    Os comentários políticos da temporada parecem estar escondidos exatamente por baixo desta analogia. Enquanto Ally representa o enfraquecimento de uma parte, que cede ao desespero e se sente cada vez mais diminuída, Kai representa o exato oposto; o personagem de Peters, multifacetado, impulsivo e ao mesmo tempo metódico, é fortalecido pelo medo e apesar dos olhares assustados que direciona é um dos mais seguros de si. “Acima de tudo, os humanos amam o medo”, afirma com uma certeza que parece nem vir de dentro dele mesmo. Esta relação de poder e controle através da manipulação de sentimentos (que se abrem ao mundo enquanto delírio obsessivo e transtornos de ansiedade) toca fundo no que move extremismos políticos e a ascensão de líderes nominais, únicos e controversos. Parece ficção, mas é só uma outra forma de ver a realidade.

    Porque o mundo já não é um lugar exatamente agradável para Ally (e consequentemente, Ivy e Oz), também não é para o público. A exploração das fobias como uma grande analogia às fraturas políticas dos Estados Unidos (que não por acaso refletem a instauração do medo ao redor de todo o globo) faz de American Horror Story: Cult uma metáfora do confinamento ideológico do século XXI calcada na ultra-violência, mas com a qual é extremamente fácil criar empatia. É claustrofóbica quando precisa, bem escrita e veloz, e um ótimo começo para mais uma ideia inacreditavelmente interessante de Ryan Murphy e Brad Falchuk. Que mantenha.

    American Horror Story: Cult é exibida no Brasil no FX, com episódios inéditos todas as quartas-feiras, à meia-noite.

     

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