Muito antes de grandes cineastas como Martin Scorsese, David Fincher e Steven Soderbergh realizarem a transição das telonas para a televisão, Kathryn Bigelow já havia tentado a sorte nas telinhas, trabalhando em uma época onde as séries ainda não tinham conquistado o prestígio que possuem hoje em dia.
Buscando aproveitar a onda da nova Era de Ouro da televisão, Bigelow anunciou um retorno às narrativas seriadas com Mogadishu, Minnesota, obra que seria produzida e distribuída pela HBO. Contudo, a emissora decidiu não dar sequência ao projeto: "Mogadishu, Minnesota não ganhará uma série na HBO. Valorizamos a relação que construímos como o talentoso K’Naan Warsame [rapper e criador da série que receberia produção executiva de Bigelow] e esperamos ter a chance de trabalhar com ele no futuro", declaram os executivos do canal em comunicado oficial divulgado via (Deadline).
O projeto acompanharia as vidas de jovens somalis que vivem nos Estados Unidos em busca do Sonho Americano. No entanto, a vida para um imigrante, especialmente quando se é um muçulmano em solo norte-americano, não é nada fácil. Divididos entre suas raízes culturais na Somália e o desejo de abraçar o modo de vida estadunidense, os protagonistas da série também teriam que enfrentar a ameaça do recrutamento jihadista.
Por tratar — ainda que tangecialmente, como frisaram os produtores —, do terrorismo, Mogadishu, Minnesota recebeu inúmeras críticas da comunidade somali porque supostamente retrataria os imigrantes da Somália — e os muçulmanos em geral — como membros ou simpatizantes de grupos terroristas. Ainda segundo a reportagem do Deadline, a instabilidade política que paira sobre os Estados Unidos no momento também não foi favorável à produção Mogadishu, Minnesota. Especula-se que a forte tensão da Era Trump foi um dos motivos para que a HBO decidisse não encomendar uma temporada completa a partir do episódio piloto do seriado, dirigido por Warsame.
Portanto, nos resta esperar até que Bigelow desenvolva um novo projeto televisivo. Assim como boa parte de suas colegas diretoras — tais como Reed Morano de The Handmaid's Tale, Michelle MacLaren de Breaking Bad e Game of Thrones, e Melina Matsoukas, de Master of None, entre inúmeras outras —, Bigelow utilizou o espaço aberto pela TV como uma forma de aprimorar suas habilidades e se manter no mercado frente à dominação masculina da indústria do entretenimento.
Apesar do contratempo, Bigelow certamente não vai demorar para encontar um novo projeto televisivo, especialmente considerando a importância que adquiriu na condição de única mulher ganhadora do Oscar de Melhor Direção.
Detroit, novo filme de Bigelow, chega aos cinemas brasileiros no dia 12 de outubro.