Nem só de Game of Thrones, Westworld e Big Little Lies vive a produção de séries da HBO. Não é de hoje que a emissora investe também em produções locais, que contenham o habitual padrão de qualidade no uso de técnicas cinematográficas para fazer TV. Um dos exemplos nacionais mais bem sucedidos é Magnífica 70, série idealizada por Cláudio Torres que mescla a censura em plena ditadura militar com a paixão em fazer cinema.
Com a terceira temporada sendo gravada no Rio de Janeiro, o AdoroCinema visitou o set e desvendou alguns segredos do que vem por aí, apenas em 2018. Então, se você não quiser saber spoilers sobre a nova temporada, é bom interromper a leitura AGORA.
Ainda aí? Então vamos em frente!
Após o impactante desfecho da segunda temporada, onde os quatro personagens principais seguem caminhos distintos - e todos bem complicados -, o esperado reencontro acontece graças à gravação de mais um filme, é claro! Assombrado pelo espírito do general Souto (Paulo César Pereio), Vicente (Marcos Winter) se torna um censor implacável e, disposto a se vingar dos antigos companheiros, escreve o roteiro de mais um filme - agora assinando como Vicente Albuquerque, ao invés do habitual Vicente K. Só que "Boca do Inferno" recria justamente o vídeo que Dora (Simone Spoladore) teve que gravar no episódio final, onde transava com Bruno Boaventura (Taumaturgo Ferreira) e amigos, o que se torna um imenso martírio emocional para a estrela maior da Magnífica Produções.
O AdoroCinema pôde acompanhar um pouco da gravação desta cena, em uma boate recriada em estúdio com o cuidado habitual da série em relação à direção de arte e cenários. Logo depois, tivemos a chance de conversar com os "quatro magníficos": Marcos Winter, Maria Luísa Mendonça, Adriano Garib e Simone Spoladore. Confira os principais destaques!
ONDE ESTÃO OS PERSONAGENS?
Apesar do desfecho da segunda temporada, era óbvio que Vicente, Isabel (Maria Luísa Mendonça), Manolo (Adriano Garib) e Dora iriam se reencontrar muito em breve. Mas, segundo Maria Luísa Mendonça, não será tão rápido assim: "Eles vão dispersar mais ainda e depois junta de novo!"
"A terceira temporada começa imediatamente ao final da segunda", explica Marcos Winter, descartando o salto temporal ocorrido entre as duas primeiras temporadas. "Cada um está separado em um canto. A Isabel, por exemplo, entrou em outra galera ideológica, a Dora está tentando fugir dos seus fantasmas, Manolo é nosso coração e eu venho muito doente. As meninas, com a sensibilidade delas, é que conseguem aglutinar a gente de novo."
"O Manolo volta para a estrada, após incendiar a Magnífica. A Isabel se torna uma ativista armada, na verdade, com uma bandeira muito específica. Após o final hardcore, a Dora vai parar em um convento e esse aqui enlouquece", revela Adriano Garib, sem medo de spoilers, apontando para Marcos Winter.
CENSOR IMPLACÁVEL
Esqueça a imagem do censor que se apaixonou pelo cinema! Na terceira temporada de Magnífica 70, Vicente surge irreconhecível como um censor implacável, graças à influência fantasmagórica do sogro. Ao menos de início.
"O Vicente vem muito reacionário mesmo, dando um golpe de estado dentro do golpe de estado. Ele vem planejando o AI-6, para endurecer ainda mais o regime", já alerta Marcos Winter. "Tudo é muito fruto desta paranoia que começou muito na segunda temporada, quando fiquei 10 episódios me preparando para me matar. Essa loucura, ao invés de melhorar, aprofunda ainda mais. A terceira temporada vem com uma tinta mais política, com o peso do que era o governo."
Após Adriano Garib soltar que Vicente é quem de fato reúne o quarteto mais uma vez, Winter complementa: "Mas quem consegue reunir a gente de fato são as meninas, que vêm com uma sessão de terapia forte para me tirar desta barra pesada."
"A V.A.P. VAI MUDAR O BRASIL!"
Criada na reta final da primeira temporada para justificar a morte de Larsen (Stepan Nercessian), o fictício grupo terrorista não só está de volta, como ganha ainda mais força. "A gente simula algumas coisas, usando referências da história do Brasil. A parte mais barra pesada sempre vai para a VAP.", avisa Adriano Garib, sem no entando revelar com será a participação da organização terrorista que assombra o governo militar brasileiro.
AS MULHERES DA MAGNÍFICA
Uma das maiores transformações entre as duas primeiras temporadas foi vivenciada por Isabel, que aos poucos assumiu o posto de cérebro por trás da Magnífica Produções. "A grande riqueza desta personagem é que ela estudou", analisa Maria Luísa Mendonça. "Ela é a razão vindo para toda esta violência, principalmente em relação ao feminino, porque são violências que a gente sofria e nem se sabia. A grande questão da Isabel é que, quanto mais ela estuda e quanto mais se sente ouvida, ela se desdobra. Neste sentido, tem uma coisa de sair desta época e apontar pelo que pensa. Pensa, logo, quer viver."
Já Dora Dumar terá uma temporada basante dolorosa, devido ao trauma sofrido no episódio final e ao castigo imposto por Vicente ao fazê-la estrelar "Boca do Inferno", o novo filme da trupe. "Acho que a Dora está estagnada na dor, ao longo desta temporada", disse Simone Spoladore.
RODANDO SÉRIE
Habituados a trabalhar em novelas e filmes, a produção de uma série é algo relativamente novo para o quarteto protagonista de Magnífica 70, que jamais havia participado de uma produção nestes moldes. "É hardcore fazer série, em três meses e meio se roda quase 10 horas de filme. Se você pensar que um longa de duas horas leva dois meses para ser feito...", comenta Adriano Garib.
"Você tem esta coisa híbrida de cinema e televisão, que a HBO criou, onde se tem um cuidado maior. Mas não venho filmar 30 cenas em um dia, como em uma nova novela. Isso faz uma grande diferença!", agradece Maria Luísa Mendonça. "A gente filma seis ou oito páginas por dia. Eu fico muito feliz neste trabalho, porque você tem como lutar por uma qualidade artística, e isso faz toda a diferença. E não há uma necessidade de IBOPE, o que é muito libertador."
O GRANDE VILÃO
Na primeira temporada, o posto de grande vilão ficou com o general Souto de Paulo César Pereio. Na segunda, o cargo ficou com Suely, a diretora da censura interpretada por Juliana Galdino. E na terceira temporada, quem será?
"Tem vilão, mas o Vicente é um vilão até aproximadamente metade da temporada", logo avisa Adriano Garib. "Mas tem uns vilões que alimentam a vilania dele, como o Mario Gomes e o Gracindo Junior, que faz um general mais conservador e à direita."
"O grande vilão desta temporada é o Brasil", afirma Marcos Winter. "Parece muito com o que a gente está passando hoje. A situação social e política daquele momento é a grande vilã, e as pessoas que se aproveitam daquilo."