Minha conta
    Os 10 melhores personagens de Death Note

    Esta notícia contém spoilers do anime Death Note.

    A adolescência é um período difícil. Pense em todas as mudanças hormonais, as inseguranças, a pressão de ter de atender às expectativas de terceiros, semanas de provas na escola, bullying, falta de independência financeira, incertezas com o futuro... Diante de questões assim, não é difícil imaginar uma fantasia escapista onde um poder especial poderia te render o status e o reconhecimento que um rapaz ou moça sempre sonhou.

    No anime Death Note, o personagem principal é agraciado com um objeto sobrenatural que lhe dá uma capacidade de se projetar como um possível "Deus do novo mundo" e daí se desenrolam os conflitos da atração, baseada no mangá escrito por Tsugumi Ohba e ilustrado por Takeshi Obata.

    Originalmente publicado entre 2003 e 2006, o mangá criado por Ohba — que provavelmente é um pseudônimo de outro escritor — ganhou um anime de 37 episódios originalmente transmitido na televisão japonesa entre 2006 e 2007. Com produção da Madhose (One-Punch ManHunter X Hunter), o anime dirigido por Tetsuro Araki foi um fenômeno internacional, exibido em dezenas e dezenas de países e terá uma versão com atores produzida nos Estados Unidos e distribuída pela Netflix. Com direção de Adam Wingard, Death Note, o filme, estreia na plataforma de streaming dia 25 de agosto, com Nat Wolff, Lakeith Stanfield, Willem Dafoe e Margaret Qualley no elenco.

    Enredo

    No enredo de Death Note, somos apresentados a Light Yagami, um aluno exemplar do ensino médio que está habituado a orgulhar seus pais e tirar boas notas na escola. Além disso, ele é bonito e articulado e não encontra dificuldades para chamar atenção. Entretanto, Light tem uma visão pessimista sobre o estado das coisas no Japão. Para ele, o sistema judicial tradicional é falho na missão de proteger as pessoas comuns de criminosos e é preciso uma solução mais drástica para acabar não apenas com a criminalidade, mas com a raiz do mal na Terra.

    Light tem sua chance de ouro graças ao tédio de outro ser. Direto do Mundo dos Deuses da Morte, Ryuk está insatisfeito com a monotonia de sua existênsia e de sua função de shinigami. Os shinigamis são seres interdimensionais dotados de um Death Note, um caderno mágico que abrevia vidas humanas. Quando um shinigami escreve o nome de uma pessoa no caderno da morte, a pessoa morre e o shinigami ganha o tempo de vida que restava a ela. Após roubar o Death Note do abobalhado Sidoh, Ryuk passa a ter dois cadernos e lança um deles na Terra para observar como agirá o humano que o encontrar.

    Durante uma de suas aulas, Light encontra o Death Note e passa a ser o mestre daquele caderno. Com a posse dele, poderá matar qualquer pessoa, desde que saiba seu nome e consiga visualizar mentalmente o rosto da vítima. É possível ainda especificar como a pessoa morrerá e até mesmo controlar as ações dela antes do inevitável óbito. Com esse poder nas mãos, Light começa a eliminar do mundo as pessoas que, em sua visão autoritária, impedem o progresso da humanidade.

    Com uma onda de mortes misteriosas de criminosos, a imprensa começa a chamar o autor dos crimes de Kira (que vem da palavra inglesa killer) e o caso atrai a atenção de autoridades internacionais e de um misterioso detetive identificado apenas como L, uma pessoa de raciocínio avançado que já finalizou investigações das mais complexas nos quatro cantos do mundo.

    Crime e Castigo

    Ao contrário de animes de ação voltados para a mesma faixa-etária, Death Note investe em um thriller psicológico com elementos sobrenaturais cuja maior parte da ação se dá no campo retórico. Light e L chegam a trocar socos e pontapés, mas seus principais embates são argumentativos e lógicos. Boa parte do enredo dedicado à investigação sobre a identidade de Kira se desenrola como uma verdadeira partida de xadrez na qual cada um dos oponentes precisa avaliar com muita cautela quais serão as próximas ações do adversário.

    O tema da moralidade é a espinha dorsal de Death Note. O maior mérito do anime é operar na área cinzenta entre o bem e o mal, o que confere mais profundidade do que uma abordagem maniqueísta sobre o assunto. Light pode conquistar a simpatia de alguns com sua descrença nas instituições, mas já no primeiro episódio ele vai de herói a anti-herói com seu complexo de Deus e delírios de grandezas causados pela posse do caderno e não demora até se assumir aos olhos do espectador como vilão. Motivado por um senso de justiça radical, Kira não segue a lei por achar que pode ser a lei em nome de um objetivo maior supostamente positivo.

    L, por outro lado, tem um senso de justiça tradicional. Sua intenção é levar Kira às autoridades e prendê-lo, justamente porque seu algoz se sente superior ao conjunto de regras a qual todos estão submetidos. Entretanto, eventos como quando L se mostra favorável a deixar uma pessoa morrer para provar um ponto de seu raciocínio de que Light Yagami é o Kira, exemplifica que nem um dos personagens mais nobres da série deixa de adotar a máxima maquiavélica de que os fins justificam os meios.

    Apesar de ser incensado pelos fãs (a nota média da série no IMDb é 9,0/10, o que posiciona o anime na 26ª colocação no ranking das melhores séries segundo os usários do site, na frente de produções Westworld, Stranger Things, Friends e Seinfeld, por exemplo), Death Note, enquanto anime, tem problemas.

    Com 37 episódios, o principal problema da série é a questão de ritmo. Os arcos de apresentação são definitvamente os mais interessantes do anime, mas a série cai quando Light renuncia a posse do Death Note para perder a memória dos crimes. O arco da conspiração empresarial na companhia Yotsuba introduz o tema da ganância do mercado num mundo de capitalismo sem limites, mas demora muita até revelar que Higuchi assumiu a função de Kira e, de repente, a Força Tarefa resolve o caso e Higuchi está morto. 

    Entretanto, o maior baque no enredo é a morte de L, que acaba com a dinâmica mais interessante do anime. A perda de um rico personagem impacta a trama de forma irremediável. Near e Mello são introduzidos no enredo futuramente, como dois ex-alunos do orfanato para crianças superdotadas Wammy's House, criado por Watari, a figura paterna de L. Entretanto, L é insubstituível e os dois personagens, especialmente Near, são uma versão menos interessante do habilidoso detetive. Pior ainda, a mudança faz a série, inclusive, soar como uma versão inferior de si mesma na segunda metade, já que tenta repetir a dinâmica Kira versus L com o embate Kira versus Near.

    É no arco da Yotsuba que a série mostra outro ponto fraco ao não investir em um visual particularmente marcante. As cenas dentro do prédio que L usa para conduzir a investigação são estilisticamente preguiçosas e os personagens passam a ficar cada vez mais tempo lá. Sem contar que o anime investe em metáforas visuais óbvias como ilustrar Light com a cor vermelha e L com a cor azul para mostrar que um é mau e outro é bom.

    Antes de qualquer coisa: Precisamos falar sobre Misa Amane

    Entre muitas virtudes e alguns problemas, Death Note tem como principal falha o sexismo com suas personagens femininas, explicitado na péssima construção da personalidade de Misa Amane, que tinha potencial para ser uma das personagens mais interessantes e complexas do anime, mas foi reduzida a uma figura constrangedora pelo roteirista e pelos animadores da série.

    Amane é uma celebridade que integra a cultura Idol japonesa. Inicialmente apresentada como uma personagem interessada por ocultismo (algo que é pouco explorado no futuro), Misa perdeu seus pais na infância em circunstâncias violentas. Traumatizada com a tragédia, ela se torna eternamente grata a Kira quando descobre que o assassino misterioso acabou com a vida dos criminosos que a deixaram orfã. Sua beleza física encantou um shinigami que a observava direto do Mundo dos Deuses da Morte. Ao perceber que um fã obcecado pretendia matar Misa, o shinigami Gelus interfere no evento e salva a vida de Misa ao escrever o nome do stalker em seu Death Note. Ao fazer isso, Gelus morre porque quebrou uma regra de vital dos Deuses da Morte: Salvou uma vida. Após isso, o shinigami Rem, que observou o sacrifício de Gelus, viaja para a Terra e entrega um Death Note para Misa. Com a posse do caderno, Misa passa a matar criminosos para chamar a atenção do verdadeiro Kira.

    A partir do momento que Lisa conhece Light ela deixa de ser uma personagem com potencial para se tornar um bibelô. Como numa rejeição de sua própria identidade, Misa passa a servir Light, negar suas próprias vontades, aceitar humilhações e ser completamente manipulada por ele. Ela não se importa em morrer por ele e sequer hesita em sua completa idealização de um amor que só existe em sua cabeça. Além de ser uma quase escrava, a garota sem motivações próprias é apresentada pelo roteiro como uma personagem boba que só serve para atrapalhar o "trabalho sério e pensante" dos homens com suas futilidades. Ainda mais sexista é a forma como os animadores a representam, incluindo uma erotização sem sentido em diversas cenas, figurinos fetichizados como forma de fan service para conquistar a atenção dos adolescentes que assistem o anime. Misa mal é uma pessoa. Misa é um objeto no anime.

    Muitas outras personagens femininas sofrem da mesma falta de profundidade em Death Note, incluindo a totalmente desperdiçada Kiyomi Takada, que inicialmente parece uma resposta inteligente, racional e madura de Misa, mas também só serve para ser uma ferramenta nos planos de Light com uma implausível devoção incondicional.

    São por problemas assim que Misa e Kiyomi ficaram de fora do top 10 (spoiler!) do AdoroCinema sobre os melhores personagens de Death Note. Que o filme da Netflix corrija esse problema.

    Menção honrosa

    Antes de ir para o ranking, vale uma menção honrosa para o personagem Teru Mikami, o promotor de justiça penal antissocial e sociopata que admira o Kira e ganha a missão de agir enquanto Light está impossibilitado de matar. Ele aparece apenas nos episódios finais e não é um personagem dos mais profundos, mas é muito bem animado e rende grandes momentos visuais para a série. A intensidade de Mikami é muito bem representada.

    Na página seguinte desta matéria, conheça os 10 melhores personagens de Death Note.

    facebook Tweet
    Comentários
    Back to Top