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    AdoroNostalgia: Por que misturar humor e política fez de Parks and Recreation uma das melhores comédias dos últimos anos

    Uma análise das sete temporadas da série que gerou alguns dos melhores personagens da TV norte-americana.

    Fazer humor de qualidade é difícil. Fazer piada sobre política não é para qualquer um. Fazer comédia sobre uma parte do governo norte-americano que quase ninguém conhecia é ainda mais complicado. Porém, Parks and Recreation conseguiu ser um show divertido e cheio de personagens marcantes.

    Em formato de falso documentário, a trama acompanha a rotina dos trabalhadores do Departamento de Parques e Recreação na fictícia cidade de Pawnee. Tecnicamente, o chefão do local é Ron Swanson (Nick Offerman), mas como ele odeia tudo relacionado ao governo, quem realmente bota a mão na massa é a vice-diretora Leslie Knope (Amy Poehler). A história começa quando ela decide transformar um grande buraco, localizado em frente à casa da enfermeira Ann (Rashida Jones), em um parque e as duas se tornam melhores amigas.

    Curiosamente, a primeira temporada de Parks and Rec não é unanimidade. Por conta de seu estilo, ela foi rapidamente comparada com The Office - afinal a comédia foi inicialmente criada para ser um spin-off do sucesso estrelado por Steve Carell. Realmente, os episódios iniciais são fracos e só destacam a animada personalidade de Leslie.

    Mas os produtores foram capazes de perceber o que deu certo nos seis primeiros episódios e engrenaram depois disso. Investiram no lado humano da protagonista, deram destaque para Ron e aproveitaram outro sucesso em mãos: Andy (Chris Pratt). O músico só ia participar do início do show, mas fez tanto sucesso que acabou integrando o elenco regular.

    A partir da segunda temporada (com um número bem maior de capítulos), a série tem espaço para aproveitar os personagens coadjuvantes. Nesse ano, também começam duas participações especiais hilárias do show: Thammy 2 (Megan Mullally), a ex-esposa demoníaca de Ron, e Jean-Ralphio (Ben Schwartz), amigo "sem noção" de Tom (Aziz Ansari). Ao mesmo tempo, surge o romance entre Andy e April (Aubrey Plaza) - um casal improvável, já que ambos tem personalidades tão diferentes, que se torna queridinho do público.

    A cereja no bolo surge logo depois, com a saída do pouco popular Mark (Paul Schneider) e as chegadas de divertidos Chris (Rob Lowe) e Ben (Adam Scott) para fechar o elenco principal. Uma vez que os personagens principais do escritório são bem estabelecidos, os roteiristas não tiveram medo de abalar o mundo já construído até então, trazendo uma grave crise financeira para Pawnee.

    Aliás, a construção desta cidade fictícia é uma das maiores conquistas de Parks and Recreation. O show mantém consistência sobre tradições absurdas e loucos moradores de Pawnee, compondo um retrato muito natural do local. Quem acompanha o show, realmente começa a se sentir parte do local. Afinal, quem nunca quis beber o Snake Juice ou participar do programa de Joan Callamezzo (Mo Collins)? Ou melhor, quem não se emocionou com a despedida de Lil' Sebastian, que ainda trouxe um hino desses...

    Sustentar as histórias de dez personagens regulares de forma criativa e ainda conservar o ambiente ao redor, cheio de participações regulares e lugares específicos (como a fábrica Sweetums ou a lanchonete JJ's Diner, por exemplo) é algo bem complicado - feito por maestria pelo showrunner Michael Schur.

    Ao longo dos episódios, a comédia passou a investir em assuntos políticos, mas sem ficar rebuscado além da conta. Parks and Rec tem um humor simples e com críticas convenientes sobre a atual situação - seja falando sobre conservadorismo, machismo ou alienação em campanhas políticas, como apresentado através da sarcástica gerente de campanhas Jennifer Barkley (Kathryn Hahn) e da hilária aparição de Paul Rudd como Bobby Newport, ricaço e concorrente de Leslie numa eleição. 

    No sexto ano, surgem mudanças: Chris Pratt não participa de alguns episódios por conta das filmagens de Guardiões da Galáxia, ao mesmo tempo que Rashida Jones e Rob Lowe saem do elenco regular no meio da temporada. Assim, a história começa a ter problemas de ritmo, mas continua com sequências divertidas. Por fim, a serie volta a surpreender ao ter um significativo salto no tempo, focando na amizade de Leslie e Ron, além de concluir tudo de forma satisfatória. Destaque para um episódio da temporada final focado no programa infantil comandado por Andy, com comerciais sensacionais de locais conhecidos de Pawnee.

    Mas o sucesso de Parks and Recreation está em seus personagens apaixonantes. Todo o elenco teve bastante liberdade para improvisar no set, algo que fica natural nas telinhas. Somente Amy Poehler seria capaz de criar uma Leslie Knope que não fosse irritante e exagerada. Dona de uma alegria contagiante, ela trouxe uma protagonista complexa, que consegue transitar entre uma bondade ingênua para uma mulher inteligente e independente. Diante dessa construção, é bom ressaltar como Leslie nunca se perdeu diante de um interesse amoroso. Se no início da comédia, um possível relacionamento com Mark foi rejeitado (por bons motivos!), a moça passou por alguns romances até chegar em sua alma gêmea.

    É impossível não torcer pelo casal Leslie e Ben, pois ambos são praticamente feitos um para o outro. Ambos nerds e atrapalhados, o contador nunca tenta ofuscar a protagonista e mostra como um relacionamento saudável pode ajudar as carreiras de ambos os lados. Ao mesmo tempo, a vida romântica de Knope nunca muda o foco central de sua jornada, mas é um belo apoio rumo ao sucesso. Palmas para a química de Poehler e Adam Scott - que, mesmo chegando "no meio do caminho", conquistou o público.

    Ao mesmo tempo, não dá para falar de Parks and Recreation sem citar Ron Swanson. E não é exagero falar que Nick Offerman criou um dos personagens mais icônicos da televisão norte-americana. Seja pelo famoso bigode, pela paixão por carne, pelo 'haterismo' ou pela falta de interesse em relações humanas, ele é reponsável por frases icônicas, fazendo o espectador gargalhar. Ao mesmo tempo, trata-se de um personagem complexo que realmente se preocupa com os poucos sortudos que têm sorte de serem seus amigos - principalmente Leslie (uma versão oposta de sua personalidade, mas com quem forma uma dupla dinâmica) ou April (que se torna uma espécie de aprendiz).

    Todas as pessoas do elenco regular tem seu momento de destaque e cada ator foi a escolha perfeita para seu respectivo papel. Chris Pratt traz ingenuidade irresistivel para Andy. Só Aubrey Plaza é capaz de fazer April, dona de uma personalidade louca e obscura, tão divertida. E ninguém consegue entregar falas tão absurdas como o Tom de Aziz Ansari...

    Além disso, Rashida Jones faz qualquer um querer ter Ann como melhor amiga, Rob Lowe entrega um Chris otimista e "literalmente" hilário, Retta rouba cada cena com a expressiva Donna e ninguém sabe como Jim O'Heir consegue trazer tanta bondade e comicidade para Jerry. Fica até difícil escolher seu personagem favorito...

    Resumindo, Parks and Recreation é aquela série que te faz sorrir depois de um dia puxado, com tantas sequências memoráveis que fica impossível enumerar todas aqui. No fim, Andy e April provam que o amor existe (não importa quão estranha seja sua personalidade), Tom e Donna querem mostrar que você merece tratar bem a si mesmo (Treat yo self!) e Leslie só quer ensinar que sendo determinada e positiva, você pode realizar seus sonhos. Não são mensagens bacanas que tanto precisamos ver por aí?

     

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