NOTA: 3,5 / 5,0
A primeira cena de GLOW dá o tom ácido e irônico que acompanha toda a primeira temporada. É uma apresentação forte de Ruth Wilder (Alison Brie), mas que logo é quebrada em favor do que a personagem representa.
Para os fãs de Orange Is the New Black, o tom cômico da série é uma clara referência na trama. Criada por Liz Flahive e Carly Mensch, e com produção executiva de Jenji Kohan, GLOW é centrada em Ruth (Brie), uma atriz lutando para conseguir o seu lugar ao sol em Hollywood, em meados da década de 1980. As coisas não estão boas para ela — mas não tão ruins ao ponto de ela aceitar filmes pornô — e sem nada a perder, Ruth decide atender uma chamada de elenco aberta, e vai parar no meio de uma tentativa de criar um programa de Luta Livre de Mulheres. Isso é GLOW.
Não é surpresa que a chamada tenha reunido um time disforme e heterogêneo, e a união deste grupo tão díspar é um dos pontos fortes da série. GLOW não conta com o mesmo artifício (ora benéfico, ora enfadonho) dos flashbacks para apresentar a história prévia de cada uma delas, mas mesmo assim todas se destacam à sua própria maneira.
A trama ganha força quando Debbie (Betty Gilpin), amiga de Ruth e uma atriz conhecida de televisão, acaba indo parar no meio do ringue por forças do acaso. Nenhuma delas é realmente profissional de wrestling, quiçá fã de luta livre, mas existe um belo esforço coletivo para fazer com que o programa, que tem um horário pouco competitivo na sua possível grade de programação, saia do papel.
Mas para além das propositalmente péssimas coreografias das lutas e as atitudes no meio do caminho entre visionárias e retrógradas do diretor, Sam Sylvia (Marc Maron), GLOW tem um ar único porque usa e abusa da breguice dos anos ‘80, e faz disso sua própria armadura. Collants, muito brilho e o ar camp colocam a série em um lugar de prestígio porque não utiliza tais aspectos com ironia, mas respeita os seus significados. O mais bonito, no entanto, é a busca por identidade que circula toda a primeira temporada, que funciona mais como um grande episódio piloto, ou um material introdutório. O fato de a trama ser uma tentativa às cegas de fazer a ideia funcionar mostra uma força exemplar e inspiradora. Aos poucos, vai ficando mais evidente sob a superfície o que está realmente em jogo ali, e que aquelas mulheres tão diferentes entre si encontram ânimo uma na outra, e passam por cima de qualquer eventual desavença em prol de algo maior.
O grande destaque, no entanto, é indiscutivelmente Alison Brie. Ela é tão convincente no papel de Ruth, de uma atriz meia-boca e desencontrada profissionalmente, que quando realmente percebemos o que Brie está fazendo com a personagem é que somos capazes de entender de onde ela vem.
Como é de praxe na Netflix, a temporada vai ganhando força do meio para o final, mas é um ponto positivo ela ser composta por 10 episódios, em média de 30 minutos cada. No fim das contas, trata-se de uma jornada divertida e empolgante, e será bem difícil passar pela temporada inicial sem, no mínimo, se apegar a uma das (muitas) personagens. Há também uma transição sagaz entre a comédia e o drama, que graças também à rapidez funciona para que nenhum dos lados se torne cansativo. É um respiro, e um muito bem-vindo.