Após quatro anos de muito sucesso e reconhecimento, Orange Is the New Black resolveu adotar um novo formato para sua quinta temporada. Contando com os mesmos 13 episódios de sempre, o novo ano teve como principal novidade o fato de englobar apenas três dias de história. Sim, toda a trama é passada em apenas 72 horas.
Mesmo contando com um momento de enrolação aqui acolá e alguns flashbacks não tão bem desenvolvidos como de costume, o fato é que o novo formato funcionou diante da situação específica vivida pelas personagens nesta nova temporada. Para quem não lembra, o quarto ano chegou ao fim com um princípio de rebelião na penitenciária de Litchfield após a morte de Poussey por um guarda. O que temos no novo ano é justamente o desenvolvimento imediato desta ação.
Na temporada mais eletrizante e com mais ação de OITNB até o momento, nos deparamos com as detentas em um momento de catarse coletiva, mas também tentando entender o que está acontecendo. E cada uma reage ao seu modo.
A divisão de núcleos sociais, impulsionada pelo sistema prisional, agora é de certa forma abalada, com todas tendo que trabalhar lado a lado. Ao mesmo tempo, cada núcleo e cada indivíduo tem sua opinião própria sobre tudo o que está acontecendo.
Orange sempre colocou o espectador nesta sinuca moral de fazê-lo torcer por criminosas e se identificar com elas. Aqui, isso continua, embora a ausência de um controle maior faça com que algumas personagens tomem atitudes mais polêmicas. Mas a verdade é que a série nunca foi sobre criminosas e seus crimes. E sim sobre mulheres, pessoas que cometeram pequenos crimes e tentam se reabilitar na sociedade. As quatro primeiras temporadas são muito críticas com relação ao tratamento às detentas e ao modelo de prisões privadas nos Estados Unidos. A quinta vai ainda mais longe nisso. Diante de uma rebelião, a série aproveitou para dizer tudo aquilo que estava subentendido nos anos anteriores. Se antes a produção mostrava o tratamento precário, agora o próprio roteiro insere as deficiências do sistema em falas das personagens, que lutam por algo maior.
É claro que tudo está longe de ser um mar de rosas. Se umas pedem justiça por Poussey, outras se preocupam apenas com os salgadinhos que irão comer. Ao mesmo tempo em que busca aproximar cada vez mais cada núcleo de personagens, a série também mostra claramente a divisão que existe entre elas. Enquanto o núcleo negro e latino ganha mais força em cena, relações como as de Piper e Alex, Nicky e Lorna, e Boo e Doggett ficam um pouco de lado. Por mais que o roteiro ainda valoriza tais dinâmicas, a verdade é que o espectador está mais preocupado com o que acontece com as outras personagens, mais centrais na rebelião. Mesmo Red acaba perdendo espaço.
A temporada já começa em grande estilo, com um primeiro episódio preciso e impactante. O quarto episódio traz bons momentos, com direito a um surtado show de talentos, mas talvez o ponto alto da temporada esteja no capítulo seguinte, o quinto, que centra sua atenção em uma personagem até aqui secundária, Janae. Um flashback acompanha Janae em seus tempos de colégio, quando ainda era uma aluna promissora, mas já era obrigada a confrontar as injustiças da vida e as diferenças de oportunidades dela em comparação a crianças de um colégio privado vizinho. O capítulo possui momentos brilhantes, incluindo uma reencenação de Dreamgirls que é muito tocante e crítica.
Ainda que apresente alguns problemas de ritmo, a série continua sendo uma das produções mais interessante e críticas dos dias de hoje. Num mundo em que a intolerância e o ódio têm conseguido canais cada vez mais amplos para promover suas visões, é importante uma obra que faça o público pensar sobre aceitação, representatividade, tratamento humanitário e recuperação.
OITNB segue uma série direta e poucas vezes otimista. Embora menos impactante que o final da temporada anterior, o ato final da quinta também levanta inúmeras questões sobre o que virá pela frente.