Nota: 1,0 / 5,0
Quando a Fox anunciou o retorno de Prison Break com uma nova temporada, grande parte do público vibrou, comemorou e esperou ansiosamente para ver os irmãos Michael Scofield e Lincoln Burrows de volta. Bem, eles retornaram, e no caminho lembraram a todos os saudosistas os motivos por que a série havia chegado ao fim.
Um revival, qualquer que seja, não é algo necessariamente ruim, desde que a série em questão saiba se inserir nos novos tempos e mostre a que veio. Mas este não é o caso da quinta temporada de Prison Break, que se limitou a repetir os mesmos elementos das temporadas anteriores, que eventualmente levaram a série à exaustão pela previsibilidade. A ideia de produzir uma nova temporada surgiu dos próprios protagonistas, Wentworth Miller e Dominic Purcell, que se reencontraram em The Flash e passaram a imaginar que tipo de trama poderia trazer Michael e Lincoln de volta. A nostalgia falou alto, Paul T. Scheuring (criador e showrunner) embarcou no projeto, que contou com nove episódios e uma anunciada inspiração na tragédia grega "A Odisséia".
Mas será que fez jus? Obviamente, não.
O grande problema do retorno de Prison Break transcende a evidente falta de história e peca num nível acima ao subestimar o cansaço e a memória do espectador. Não há nada de novo, apenas uma simplória continuação, preguiçosa e majoritariamente desnecessária e cansativa. Todos os ganchos e artifícios para prender a atenção do público ignoram completamente a evolução pela qual a narrativa televisiva passou na última década, usando as mesmas fórmulas repetitivas que, em 2005, com o ineditismo e a indiscutível aura atraente de Michael, funcionavam. Em 2017, uma época em que os fãs de Westworld literalmente descobriram toda a reviravolta da temporada com uma única dica no segundo episódio, nem tanto.
Não é necessariamente uma comparação — que, a rigor, é uma métrica pouco justa, mas existe um certo ponto de vista que precisa ser estudado e respeitado quando uma emissora se dispõe a reviver um de seus sucessos antigos. É necessário haver uma justificativa para esta decisão que não se paute apenas nos naturais lucros. Prison Break foi importante, ao seu modo, quando surgiu há 12 anos. A série estabeleceu que uma trama não precisava necessariamente ser boa ou inteligente para ser “compulsivamente assistível”. Mas o retorno é tão limitado em sua percepção do mundo atual que muitas vezes esbarra na Islamofobia, sem ter o menor cuidado com os estereótipos de que abusa ao colocar o Estado Islâmico na trama como um dos vilões que os irmãos precisam derrotar. É uma Era perigosa de extremismos político-sociais, e a televisão, mesmo que no campo dramático, jamais deve se isentar da responsabilidade que tem ao pautar o pensamento de grande, grande parte de seus espectadores.
Não obstante, até mesmo o principal vilão da temporada soa preguiçoso. É evidente que houve uma tentativa de revitalizar a história e partir para um próximo capítulo, deixando para trás Companhia e apresentando Poseidon como o “grande malvadão da vez”. Poderia, sim, ter sido uma boa solução para movimentar as relações e trazer uma nova face à trama, mas novamente é a história de uma organização secreta conspiratória, infiltrada em algum órgão governamental que tenta a todo custo incriminar um dos irmãos — ou ambos.
Ué, de novo?
Com todos os seus problemas, há um elemento que ainda não deixou de funcionar, e é graças à ótima química entre Miller e Purcell em cena que a quinta temporada não é inteiramente desproposital. A entrega de Wentworth Miller a Michael Scofield é bonita, e é possível até mesmo perdoar algumas — muitas — incoerências da temporada porque os velhos elementos são perceptíveis: a impulsividade de Lincoln, as dezenas de reviravoltas (embora previsíveis) que acontecem ao mesmo tempo, a intrincada linha de raciocínio de Michael e os reflexos de um irmão no outro. Mas há realmente alguma razão, criativamente falando, para o retorno da série? A única motivação possível, e evidente, é atrair o público com um título conhecido e personagens que estão presentes no imaginário dos espectadores. Para não sair de cena com um final completamente patético e previsível, o último episódio faz uma tentativa de emocionar com a morte de um personagem com o qual o público sequer teve tempo de se conectar.
Poderíamos ter passado o ano sem essa.