Geração adolescente que se preze, tem que ter uma série fenômeno de público que a represente. Quem não lembra de Barrados no Baile; Dawson's Creek; The O.C. e Gossip Girl, só para citar alguns? Essa moda meio que se perdeu, já que os jovens de hoje se dividem entre super-heróis (The Flash, Arrow, Supergirl) ou tramas sobrenaturais (The Vampire Diaries, Teen Wolf). Mas Riverdale pode ter potencial de ocupar essa lacuna.
Produzida por Roberto Aguirre-Sacasa, a série é descrita como uma "subversão moderna dos quadrinhos da Archie Comics", fenômeno de popularidade nos Estados Unidos. Mas se trata realmente de um show teen, com relacionamentos amorosos e pais incompreensivos. Apresenta também arquétipos já bem conhecidos: o jogador "boa pinta", a boazinha que só usa roupas claras, a popular fashionista, o amigo gay e por aí vai...
Os únicos personagens desenvolvidos são os cinco protagonistas jovens: Archie (K.J. Apa), Betty (Lili Reinhart), Veronica (Camila Mendes), Jughead (Cole Sprouse) e Cheryl (Madelaine Petsch). Curiosamente, o mais fraco dentre eles é justamente o principal rosto de divulgação do show. Archie apresenta a jornada mais fraca e clichê, o que piora com a atuação contida de seu intérprete. Surge então Jughead para roubar a cena...
Famoso pela carreira infantil com Zack & Cody, Cole Sprouse mostra que superou a fase "ator mirim" e está pronto para maiores desafios. Responsável por alguns dos momentos mais emocionantes do show, ele é talentoso até demais para o nível normal da CW. A jornada de Jughead é o ponto alto da primeira temporada, com destaque para (falta de?) relação com a família - principalmente com o pai, F.P. (Skeet Ulrich). Com ele, o público deixou de torcer para o garoto legal e passou a se identificar com o excluído.
Não é a toa que o primeiro grande casal da série foi Betty e Jughead (ou "Bughead". Não tinha nome melhor, gente?). Ambos são os personagens mais aprofundados da história e a loira foge dos padrões de uma mocinha boba, com papel ativo na história. É importante ressaltar que Riverdale tenta fugir dos clichês quando se trata da moça - seja através do lado sombrio de Betty (que promete crescer ainda mais na próxima temporada) ou investindo na amizade da loira com Veronica, sem se render à rivalidade por conta de triângulo amoroso.
Se Veronica prometia causar no piloto, Cheryl é quem chega conquistando o carinho do público. Mas para falar da ruiva, é necessário citar em um outro ponto essencial da trama: a morte de Jason Blossom (Trevor Stines). A partir desse crime, toda a cidade de Riverdale vira do avesso, enquanto a história tenta trazer um clima de Twin Peaks. Se a indecisão de Cheryl sobre "ser boa ou má" é meio repetitivo no início, a moça acaba sendo um dos destaques da reta final com a vulnerabilidade sobre a perda do irmão.
O famoso "Quem Matou?" é um clichê, mas os roteiristas fizeram bom trabalho em espalhar diferentes e intrigantes dicas, fazendo o público mudar de ideia ao longo da história. O problema é que abriram muitas perguntas e tudo teve que ser resolvido em apenas dois episódios - o que funcionou bem no penúltimo capítulo, mas trouxe uma season finale bagunçada. A identidade do assassino não foi algo chocante, mas também não foi totalmente previsível, apesar de encontrado uma solução bem conveniente.
É possível compreender o sucesso que Riverdale faz, pois a série cumpre princípios básicos. Apesar de mirar na comparação com Twin Peaks, quer mesmo é atingir o público órfão de Gossip Girl. Sim, algumas tramas paralelas são desnecessárias e tem personagem coadjuvante que parece figurante (A bateirista de Josie and the Pussycats teve alguma fala?). Mas os protagonistas têm química e a trama é viciante. Já o trabalho de fotografia também tem momentos inspirados, misturando o clima sombrio da cidade com a estética colorida dos jovens.
Com a resolução da morte de Jason Blossom, o novo mistério da vez promete envolver Archie e pode até trazer mais "sal" para o personagem. Resumindo: a primeira temporada de Riverdale é bem introdutória, mas já traz o suficiente para você se apaixonar por certos personagens. O potencial está lá, agora é só torcer para o show não seguir a maldição de certos colegas e se perder no caminho...