Quase dois anos após o sucesso estrondoso de sua primeira temporada, Sense8 retorna às telinhas. Enquanto, em 2015, a série demorou alguns episódios para engrenar (quantas vezes você não teve que dizer 'melhora depois do quarto capítulo'?) e o especial de Natal, lançado em dezembro do ano passado, ofereceu duas horas de fan service, a segunda temporada chega para quebrar a banca e expandir a mitologia dos sensates para além do que poderíamos imaginar, surpreendendo a cada capítulo.
Mais uma vez destacando o pano de fundo da diversidade, do respeito e da aceitação, Sense8 continua de onde a primeira temporada parou, acompanhando a jornada individual de Will (Brian J. Smith), Riley (Tuppence Middleton), Lito (Miguel Ángel Silvestre), Kala (Tina Desai), Wolfgang (Max Riemelt), Sun (Doona Bae), Nomi (Jamie Clayton) e Capheus (Toby Onwumere), bem como suas incríveis cenas conjuntas, muito bem coreografadas.
Novamente separados em "duplinhas", os protagonistas visitam uns aos outros em diferentes episódios, pedem ajuda, conselhos e replicam uma fórmula que funcionara anteriormente. Inclusive, apostando no repetitivo (e até maçante) método das cenas com músicas das paradas de sucesso. Ainda assim, certas relações entre os sensates não parecem tão naturais nas telas, como entre Kala e Will, por exemplo. Por outro lado, a dinâmica entre Sun e Lito volta a marcar presença em divertidas sequências – que lembram a cena da TPM da primeira temporada.
No entanto, alguns dos personagens continuam não agregando muito para ajudar o grupo. Riley, por exemplo, demora a sair da posição de "cuidadora" de Will. Já Sun, um dos principais destaques da primeira temporada, é esquecida em certos episódios (aparecendo só para salvar o dia com suas habilidades de artes marciais). Felizmente, Doona Bae protagoniza importantes momentos nos últimos capítulos.
Anteriormente focada nos relacionamentos entre os personagens (com uma casual cena de suruba aqui e ali), Sense8 agora ressalta a ficção e a ciência. Explorando desta vez a origem dos sensates (chamados cientificamente de "homo sensorial"), a temporada foca na história de Angelica (Daryl Hannah) e Jonas (Naveen Andrews), e suas conexões com a ameaçadora companhia Biologic Preservation Organization (BPO).
Assim, a dinâmica entre Sussurros (Terrence Mann) e Will, que foi "conectado" com o vilão na season finale anterior, é um prato cheio para bons diálogos e uma tensão que vai crescendo ao longo da temporada, culminando em uma guerra entre os sensates e a BPO. Mann é o principal responsável pela escala de emoções da série, interpretando com maestria Mr. Whispers (no original) – sério, esse homem sabe como aterrorizar uma cena!
No meio desse conflito, somos apresentados a novos sensates, o que rende algumas cenas curiosas, outras esquisitas e desnecessárias, mas também boas sequências de ação. Vai dizer que você nunca imaginou dois grupos de sensates brigando?! Desse modo, os onze episódios da temporada dão a chance a novos personagens, como interesses amorosos para Capheus e Sun, um homem que coloca Kala em mais um triângulo amoroso (ou seria quadrado?), e uma misteriosa mulher que ronda a vida de Wolfgang. Interpretada por Valeria Bilello, a moça rouba a cena em muitos momentos.
Mesmo assim, um dos grandes méritos da temporada é dar mais espaço para os coadjuvantes. Daniela (Eréndira Ibarra) e Amanita (Freema Agyeman) brilham em seus arcos, e até mesmo o parceiro de Will, Diego (Ness Bautista) volta a dar o ar da graça em importantes cenas. Entretanto, o principal destaque é Bug (Michael X. Sommers), o hacker amigo de Nomi. Eles geram bons momentos de humor, sem deixar de contribuir para o desenrolar da trama.
Entre as participações especiais, fique atento para Sylvester McCoy, o Radagast da trilogia O Hobbit, e, claro, Bruno Fagundes, o filho de Antonio Fagundes, que marca presença em uma cena no episódio da Parada Gay. Aliás, a sequência passada em São Paulo, apesar de breve, rende bons momentos de diversão e um emocionante discurso de Lito.
Aliás, o segundo ano de Sense8 veio para tocar na ferida. Muitos capítulos emocionaram por trazer grandes discursos, geralmente focados em aceitação e respeito, especialmente porque a série tem uma personagem (e atriz) transexual – Nomi, interpretada por Jamie Clayton.
Um pouco lenta no início (mas nada comparada com a primeira temporada), a série logo coloca os espectadores de volta ao ritmo normal da história, tornando fácil maratoná-la. Ela vem repleta de muita tensão, humor, referências cinematográficas (que incluem O Exterminador do Futuro!) e, é claro, romance. Não podemos deixar de mencionar as sequências de ação e a tensão emocional que, como um soco no estômago, nos lembram por que Matrix fez as Wachowskis famosas. Vale lembrar que o segundo ano da série não teve a participação de Lilly Wachowski, sendo comandada por Lana Wachowski e J. Michael Straczynski.
Prepare-se: a segunda temporada de Sense8 é uma montanha-russa de emoções e uma surpresa atrás da outra.