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    Baskets: Crítica da segunda temporada

    A sutil beleza da melancolia fez da segunda temporada de Baskets uma agradável surpresa.

    Nota: 4,0 / 5,0

    Baskets estreou sua primeira temporada sem fazer barulho, e provavelmente o momento em que a maioria das pessoas ouviu falar da série foi quando Louie Anderson venceu o Emmy de melhor ator coadjuvante em série de comédia, no ano passado. A produção do FX, obscura e de nicho, encerrou recentemente a sua segunda temporada, que conserta alguns equívocos da primeira e apresenta uma história bonita, singela, e muito triste.

    A trama é protagonizada por Zach Galifianakis como Chip Baskets, um homem que passou anos em Paris estudando para ser palhaço profissional. De volta à sua cidade natal, Bakersfield (California), ele lida com as pressões sociais e a estranheza da carreira que optou seguir. Face aos julgamentos de sua mãe, Christine (Louie Anderson), e do irmão gêmeo (e bem sucedido) Dale, Chip encontra trabalho como o palhaço do rodeio local, e a história se transforma em um jogo de experimentações e metáforas a respeito da vida adulta através de um personagem por vezes egoísta e absorto à realidade.

    A primeira temporada de Baskets é de difícil digestão. A proposta de colocar no centro da trama um personagem deslocado é uma assinatura conhecida do coprodutor da série, Louis C.K., mas ao tentar se bastar somente por isso, a história se perdia em narrativas rasas com exercícios cegos de comédia 'pastelão'. Após alguns episódios, ficava claro que o grande trunfo de Baskets seria abandonar as fracas abordagens cômicas, e apostar no enorme e sutil potencial dramático que sempre existiu. Não havia espaço para leveza no meio daqueles personagens.

    A segunda temporada acerta o passo ao entregar o protagonismo quase total a Louie Anderson, que sempre rouba a cena como Christine. O fato de Anderson interpretar uma mulher jamais soa como deboche, embora não deixe de ser cômico quando observamos a avalanche de expressões que passam pelo seu rosto durante o desenvolvimento de uma cena. Além disso, há complexidade e o principal acerto está ao explorar a difícil relação familiar daquele grupo heterogêneo. Ávida por agradar a família e criar um ambiente saudável para os filhos, Christine mostra as suas próprias inseguranças em relação ao corpo, a finanças e a todas as pequenas batalhas que perdeu durante a vida.

    Mais espaço para as pessoas ao redor de Chip foi a melhor mudança que a segunda temporada trouxe. E isso não tem relação nenhuma com a atuação de Galifianakis, que aparece em dose dupla também como Dale. Bem como Christine, ele também se torna um personagem com mais nuances complexas, e isso adiciona ao clima melancólico da história. Um dos melhores episódios da temporada é quase totalmente focado em uma briga entre Chip e Dale, que culmina em um momento tocante entre os irmãos. No fim, a lugubridade é um lugar tão natural para Baskets que é exatamente o que faz da trama quase palpável.

    Sem medo de arriscar, a segunda temporada navega com tranquilidade entre tragédias e humor natural, com alguns momentos que se tornam um verdadeiro mostruário para o talento de Anderson (como o episódio 4, "Ronald Reagan Library", e o episódio 7, "Danver"). Não espantaria se ele fosse indicado como protagonista em série de comédia, e não mais como coadjuvante.

    Baskets não é sempre a comédia que vai estar no topo da lista, mas existe uma distorção bonita e ao mesmo tempo esquisita na fórmula que a torna fascinante. Trata-se de um risco tão livre – algo que, sem dúvidas, só tem espaço graças ao Peak TV* – que é compensador perseverar pela dificuldade do início para admirar até onde a série conseguiu chegar depois de 20 episódios. Há uma sutil beleza nessa cidade estranha, nesses personagens desajeitados e nessa tristeza quase arraigada a um cara que quer a todo custo ser um palhaço de sucesso. É uma série adoravelmente estranha. Um dessas pequenas joias escondidas que merecem ser descobertas.

    (*) "Peak TV" é o termo que determina a era atual das séries de TV, em que há um número cada vez maior de produções no ar. Isso abre espaço para que as emissoras arrisquem em séries mais de nicho e que fogem do padrão. A palavra 'peak' em inglês significa auge, ou pico.

    Baskets é exibida no Brasil pelo Fox Premium. 

     

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