Há algumas semanas, membros do Sindicato dos Roteiristas (WGA) dos EUA estão reunidos junto a representantes da AMPTP (Aliança de Produções Televisivas e Cinematográficas) em Hollywood a fim de renegociar o contrato sindical entre as duas partes, que vence a cada três anos. As negociações ocorrem desde o início de março em clima pouco amigável, e isso tem colocado a indústria sob alerta: será que uma nova greve de roteiristas está a caminho?
Desde o início de março, muito tem sido dito a respeito do tema -- que, convenhamos, pode ser bastante confuso. Por isso, o AdoroCinema resolveu explicar: o que exatamente está acontecendo?
As negociações começaram no último dia 13 de março, e a comissão diretora do WGA apresentou propostas que reivindicavam principalmente:
- Ganhos "modestos" para roteiristas, sobretudo uma garantia àqueles de "segundo escalão" que não ganham o suficiente;
- Melhorias na política de licença familiar;
- Melhores condições para roteisitas de programas de variedade; e aumento de 3% no mínimo -- tanto para roteiristas de Cinema ou de TV.
A agenda é justa. De acordo com estudo divulgado pelo instituto de pesquisas do FX Networks, o aumento da quantidade de séries ficcionais no ar (no ano passado, foram 455) não significa que seja um bom momento para escrever para a TV. A causa é simples: embora o número de séries tenha mais do que dobrado na última década, a média de episódios por temporada diminuiu. Entre 2011 e 2015, o número de séries no ar aumentou em 50%, mas o número de episódios no total cresceu apenas 6%. A diferença disso vai direto para o bolso dos roteiristas, que viram o salário diminuir foi por volta de 23%, enquanto as emissoras têm lucrado cada vez mais.
Uma outra questão que também afeta os membros do WGA diz respeito ao plano de saúde. Parte dele é bancado pelo fundo de pensão do próprio sindicato, que, segundo o relatório, está em deficit há dois anos.
A quantas anda?
A última atualização, do dia 24 de março, apontava um indicativo de greve. O comitê de negociações do WGA requeriu uma votação aos membros, para autorizar uma greve. Caso os membros do sindicato votem pelo sim, então uma greve poderá ser convocada se as negociações junto à Aliança não tiverem progresso.
Em resposta, o AMPTP comunicou que a indústria continua trabalhando em prol dos melhores interesses de todos, e que estão prontos para retomar as negociações assim que o sindicato também estiver.
E na prática?
É necessário ressaltar que a votação anunciada pelo WGA não é uma certeza de que a greve vai acontecer. Em termos práticos, é uma garantia e uma espécie de 'ameaça', a fim de pressionar a Aliança por um acordo. Na carta enviada aos membros do Sindicato dos Roteiristas, o comitê denunciava que a indústria lucrou aproximadamente US$ 51 bilhões no ano passado, e que o valor disso que cabe a produtores e roteiristas é quase ínfimo.
Uma greve é um importante instrumento de luta, mas seria extremamente prejudicial à indústria -- sobretudo com o crescente número de séries ficcionais no ar atualmente, dando a esta era o apelido de "Peak TV". As negociações devem ter continuidade em breve. Ficaremos de olho.
A Greve de 2007
O fantasma da greve dos roteiristas remonta a 2007, quando o sindicato e a aliança romperam durante quatro meses, entre novembro de 2007 e fevereiro de 2008. Mais de 12 mil roteiristas estiveram envolvidos no movimento, entre profissionais do cinema e da TV. Um dos principais pontos de divergência que levaram à greve tratava-se da produção de conteúdo direto para a internet, os webisódios, para os quais os roteiristas não estavam sendo pagos. As principais consequências disso foram a explosão dos reality shows e várias séries que tiveram temporadas reduzidas. Entre elas, a mais marcante é a fatídica (e talvez trágica) quarta temporada de Lost.