Na última quarta-feira (8), a Netflix divulgou o trailer de uma série de TV que aborda temas raciais. Curtíssimo, o vídeo tem pouco mais de 30 segundos e traz uma jovem negra dizendo que pessoas brancas devem evitar ações de origem racista, como a prática do blackface — quando uma pessoa branca se "fantasia" de negra usando estereótipos depreciativos sobre afrodescendentes. Aparentemente, essa mensagem contra o preconceito incomodou muita gente.
Acusando a Netflix de promover o "racismo contra brancos", diversos (ex) usuários do serviço de streaming cancelaram suas assinaturas por serem contrários ao conteúdo da série Dear White People, que adapta, em 10 episódios, o elogiado filme Cara Gente Branca (2014).
Quem propôs o boicote foi Tim Treadstone, ex-redator do site Buzzfeed, que tem mais de 140 mil seguidores no Twitter e é um dos porta-vozes da chamada alt-right, grupo de militantes de extrema direita cujo discurso é frequentemente associado a mensagens antissemitas, antifeministas e a favor da noção de supremacia branca.
"A Netflix anunciou uma série anti-brancos (Dear White People) que promove o genocídio branco. Eu cancelei minha conta. Faça o mesmo", disparou Treadstone no dia em que o trailer da série foi divulgado, conseguindo uma série de adpetos para sua causa.
O filme Cara Gente Branca, premiado no Festival de Sundance em 2014, trata da história de um grupo de alunos negros de origem humilde de uma universidade onde a maioria esmagadora dos alunos são caucasianos e ricos. Os alunos afro-americanos se revoltam atitudes dos brancos quando estes decidem que não há problema em debochar da cor de pele e do fenótipo negro em fantasias para o Halloween. O elenco conta com Logan Browning, Tessa Thompson e Tyler James Williams (famoso no Brasil por protagonizar a série Todo Mundo Odeia o Chris).
Justin Simien, diretor e roteirista do filme que inspirou a série e produtor executivo da atração da Netflix, comentou o boicote proposto por militantes de direita. "Para mim, estranhamente, isso foi profundamente encorajador. Isso trouxe mais atenção para a série. Obrigado, supremacistas brancos, vocês me ajudaram a promover meu show", disse o cineasta em entrevista para o site Entertainment Tonight.
Em sua página no Facebook, o diretor prosseguiu com a argumentação e alegou ter recebido mensagens racistas de pessoas associadas ao boicote, sendo xingado de "macaco" e lido que "deveria calar a boca e voltar para a África".
"Ver que as pessoas se sentem tão ameaçadas por um vídeo que anuncia a data de lançamento de uma série e mostra uma mulher negra (educadamente) pedindo para não ser ridicularizada mostra claramente o motivo de eu ter feito esta série", disse. "Eu quero que aqueles que são tradicionalmente invisíveis na cultura pop comecem a serem vistos. E quero que aqueles que estão dispostos a estender sua empatia para experiências diferentes e entendam mais profundamente a humanidade dessa pessoas [os alunos negros retratados na trama]."
No YouTube, o vídeo com o teaser da série foi visto mais de 2,5 milhões de vezes desde quarta-feira e vem recebendo uma enxurrada de avaliações negativas. Mais de 278 mil usuários marcaram o vídeo com um "não gostei" contra 28 mil que avaliaram o vídeo com um "gostei".