24: Legacy chegou às telinhas brasileiras buscando repetir o sucesso de 24 Horas. Para o bem e para o mal, a série adota a mesma fórmula do original, mas também os mesmos clichês. A franquia está diretamente ligada ao nome Jack Bauer, vivido por Kiefer Sutherland por nove temporadas. É injusto já comparar Corey Hawkins, novo protagonista, com o anterior, mas parece certo - após dois episódios -, que seu personagem, Eric, não despertou tanto interesse inicial quanto Jack.
Desde o início, em 24 Horas, aceitamos Jack como um cara durão, impulsivo e diferenciado. Corey já demonstrou ter talento em Straight Outta Compton - A História do N.W.A., mas não parece ter carisma suficiente (ainda) para carregar uma série como esta. Tomara que evolua e nos prove errados, mas sua presença nos episódios iniciais é pra lá de burocrática, lembrando seu Heath em The Walking Dead.
Desde a breve vinheta, a trilha, a montagem, tudo em Legacy remete a 24 Horas, o que deixa o fã com uma boa sensação de nostalgia. Também é interessante visitar cenários como a CTU e verificar as mesmas disputas e intrigas de sempre. Nos dois primeiros episódios, não nos deparamos com personagens da produção original, mas já temos algumas citações, como ao nome do analista Edgar Stiles (Louis Lombardi).
Eric Carter (Hawkins) é um ex-soldado que entrou pro programa de proteção à testemunha após participar de uma operação que assassinou um líder terrorista. Determinado dia, ele descobre que os membros de sua equipe estão sendo mortos e que sua nova identidade estaria ameaçada. Ele então procura a ex-diretora da CTU Rebecca Ingram (Miranda Otto) para tentar descobrir o que está ameaçando Eric e seus parceiros.
Ao mesmo tempo, Ingram está envolvida na campanha presidencial do marido (Jimmy Smits), que não fica satisfeito ao ver a esposa desviando sua atenção para um trabalho que não é mais seu.
Ao invés de ir construindo a história aos poucos e ir introduzindo propriamente os personagens, a série já apresenta inúmeros conflitos nos dois primeiros episódios. Temos conflitos políticos, profissionais, amorosos, entre irmãos, criminosos, terroristas e muito mais. É muita gente sendo introduzida de forma pouco eficiente. Infelizmente, parece mais com a segunda metade de 24 Horas, do que com os empolgantes primeiros anos.
Na busca por um "culpado", é difícil não destacar o nome do produtor e roteirista Manny Coto. Ele entrou para 24 Horas e Dexter em suas quintas temporadas, exatamente o momento em que tudo começou a degringolar.
24 Horas sempre foi uma produção que levantou debates éticos, Bauer sempre foi símbolo do defensor da segurança nacional acima de tudo, não se incomodando com a prática de tortura. Em um cenário cada vez mais conservador nos Estados Unidos, a produção foi bem ao inserir um protagonista negro. O problema é que segue contando com roteiristas com pouquíssima criatividade, no que diz respeito a desenvolvimento de personagens. Assim, este protagonista negro, é claro, acaba ganhando um background que o coloca no mundo do crime, mais precisamente envolvendo seu irmão. Os terroristas também são os mais óbvios possíveis, com uma trama principal claramente inspirada na morte de Osama Bin Laden.
Há boas sequências de ação, mas que não oferecem nada de novo. No fundo, no fundo, este acaba sendo o grande problema: não há nada de novo.