Dia 19 de fevereiro, chegam à HBO duas séries originais: o suspense Big Little Lies e a comédia Crashing. O AdoroCinema teve a oportunidade de assistir ao primeiro episódio de cada uma delas. Descubra as nossas impressões iniciais:
Big Little Lies, Episódio 1.01: "Somebody's Dead"
A vinheta de abertura pode deixar uma impressão negativa, mas isso se dissipa quando o episódio começa a dedicar um bom tempo apresentando cada protagonista: Madeline (Reese Witherspoon) é uma mãe que se intromete na vida de todos, Celeste (Nicole Kidman) interpreta a mulher madura, elegante e com um marido muito mais jovem, e Jane (Shailene Woodley) é a jovem mãe solteira, uma nova moradora da rica cidade de Monterrey, que parece não se adequar às regras locais.
Este episódio pode levar a uma série de comparações: o cinismo das mulheres de classes privilegiadas lembra Desperate Housewives, enquanto a condução de um crime misterioso (não conhecemos a vítima, nem o assassino) lembra a estrutura de flashbacks intercalados de How to Get Away With Murder. As três atrizes estão em papéis confortáveis: Shailene Woodley traz o ar de não-pertencimento digno de Tris em Divergente, Reese Witherspoon resgata os trejeitos da patricinha encrenqueira de Legalmente Loira, e Nicole Kidman interpreta mais uma vez a quarentona sedutora de homens mais novos (como em Segredos de Sangue, Rainha do Deserto e aparentemente The Beguiled).
Ou seja, talvez a originalidade não seja o elemento que melhor descreva o piloto. Mesmo assim, é impressionante como o diretor Jean-Marc Vallée combina drama, suspense e comédia (este último graças a Madeline). Todos os personagens ganham uma descrição interessante, mesmo os coadjuvantes, como a mãe controladora Renata (Laura Dern), o marido sedutor e potencialmente violento Perry (Alexander Skarsgard) e a jovem mãe neo-hippie Bonnie (Zoe Kravitz). Somando esses personagens ao crime perverso e a um instigante caso de maus-tratos infantil, temos elementos de sobra para uma temporada cheia de reviravoltas.
Nota do piloto: 3,5/5.
Crashing, Episódio 1.01: "Artie Lange"
Os "losers" são os novos heróis da ficção americana. Desde Woody Allen e Seinfeld, os homens feios, sem dinheiro, pouco populares e que não se dão bem com as mulheres se tornam os personagens principais. Em tempos de egocentrismo e de selfies, vale expor todas as suas fraquezas e defeitos nas redes sociais, valorizando o papel antes rechaçado do nerd, do geek, do indie, do marginal.
É nesse contexto que apareceram tantas séries, muitas boas e outras nem tanto, abordando as maravilhas de ser um jovem fracassado. A HBO tem Girls e Insecure, a FX tem Louie, a Netflix tem Easy, Love e Master of None, a NBC teve Seinfeld, a BBC tem Fleabag... Agora chega mais uma investida neste estilo de comédia com Crashing. A direção vem de um dos papas do heroísmo geek: Judd Apatow, diretor de O Virgem de 40 Anos e Ligeiramente Grávidos.
A história gira em torno e um humorista fracassado de stand up comedy (Pete Holmes, humorista real de stand up comedy) que flagra a esposa com outro homem e resolve sair de casa. A sexualidade, como de costume nestes casos, é bastante crua: são as mulheres que querem fazer sexo, enquanto os homens estão muito preocupados com suas dúvidas existenciais. Após ouvir lições de vida do amante de sua esposa, Pete passa a interagir com outro humorista (Artie Lange, numa versão de si próprio) sobre a dificuldade de ser ele mesmo. Sim, autocondescendência é outra marca registrada de Apatow.
Algumas piadas podem ser engraçadas, a interação entre os dois homens é plausível, e discussões progressistas sobre sexualidade são sempre bem-vindas, mas o piloto deixa a sensação de ser uma versão menos empolgante de dezenas outras séries - algumas delas da própria HBO. Se for para investir no tema do narcisismo cômico, é melhor assistir ao ótimo Insecure, que possui muito mais senso crítico. Mas quem sabe Crashing vai se afinando nos próximos episódios?
Nota do piloto: 2,5/5.