Sendo Daenerys Targaryen a mãe dos dragões, podemos dizer que Sven Martin é o pai. Afinal de contas, sim, é lindo vê-los em cena em Game of Thrones – sobretudo nas temporadas atuais, em que eles já estão crescidos, voando por aí ateando fogo em inimigos – mas alguém precisa assumir a difícil tarefa de transformá-los no que vemos em cena, a partir da exaustiva composição dos efeitos visuais.
No Brasil pela primeira vez para falar ao público sobre o seu trabalho na série, Martin deixa claro que é apaixonado pelo que faz. O alemão conta que ingressou na carreira de efeitos visuais logo após concluir o ensino médio, tendo como inspiração as obras de Steven Spielberg. Nostálgico, ele comenta que começou os seus estudos quando a arte ainda era feita de maneira tradicional, sem a ajuda de computação.
Mas foi apenas anos depois, após ter feito a supervisão dos efeitos visuais de obras como Homem de Ferro 2 (2010), Melancolia (2011), Super 8 (2011), A Invenção de Hugo Cabret (2011), Jogos Vorazes (2012) entre outros que ele ingressou na equipe de Game of Thrones. Martin é o responsável pela concepção dos dragões Drogon, Rhaegal e Viserion desde o primeiro episódio da segunda temporada. Por isso, não é dele a ideia original de como eles são (os dragões surgiram no episódio final da temporada 1, "Fire and Blood"), mas desde então ele e sua equipe tornaram-se os responsáveis oficiais:
"Nós nos sentimos como os pais desses dragões", explica orgulhoso. "Porque já trabalhamos há cinco anos com eles. Nós os adotamos e acompanhamos o crescimento deles ano a ano, dos fofos bebês que eram até as criaturas majestosas que eles são agora."
Para dar às criaturas a magnitude realista que vemos nas telas, as referências que a equipe utiliza são baseadas na realidade:
"Estudamos morcegos e pássaros para desenvolver a anatomia porque nós sabíamos que eles precisariam voar mais à frente na série. Quanto ao couro ou à boca, por exemplo, nós usamos lagartos e cobras como referências. Nós retiramos as melhores partes e as partes mais esquisitas de todos esses animais para criar essa nova espécie e acho que é por isso que eles parecem tão reais."
Enquanto as criaturas cresceram e as dificuldades para criá-los aumentou, o maior desafio se impôs à equipe: como são feitas as cenas em que Dany voa em Drogon? Martin explica como o processo foi se criando aos poucos:
"Na terceira temporada, quando os dragões voaram sozinhos pela primeira vez, nós nos baseamos no voo de águias e morcegos. Mas fazer um ator montar e voar em uma criatura digital é algo complicado. O que você precisa fazer é pré-animar a criatura. Fizemos um esboço da animação antes da filmagem e esta animação serviu como um guia para o pessoal no set durante as filmagens. Então, nós criamos um modelo de espuma que simula as costas do dragão sobre o qual a atriz pode se sentar. Esse modelo se move, nós podemos controlá-lo para fazê-lo se mover como nós fizemos a criatura se mover na pré-animação. É assim que a atriz se move como se estivesse montando o dragão. Mais tarde, combinamos esses dois elementos e criamos a cena."
Curiosamente, Sven Martin revela que uma das cenas que mais o preocupou foi uma com pouca ação: o momento de Tyrion (Peter Dinklage) com Rhaegal e Viserion nas masmorras, na sexta temporada:
"Eu não fiquei com medo, mas foi complexo porque eles estão presos, com fome e seus poderes estão muito fracos, eles não conseguem ser agressivos como de costume. É mais fácil quando você tem muita movimentação, muitas pessoas correndo de um lado para outro, brigando", revelou. "Quando você precisa construir movimentos sutis é mais difícil; é uma linha muito tênue porque você não pode humanizar demais os dragões, você precisa mantê-los como eles são, como lagartos, como répteis e, ainda assim, precisa mostrar que há uma espécie de comunicação entre os dragões. Nós levamos muito tempo para animar essa cena", contou, detalhando que demora em média entre seis semanas e quatro meses para finalizar cada cena.
"Construir os dragões, ou seja, montar os modelos para as filmagens dura três ou quatro meses com uma equipe de sete pessoas. E nós temos de janeiro a abril ou maio para finalizar todas as cenas. Eu diria que nós trabalhamos de seis a oito semanas para criar uma cena com uma equipe de seis a oito pessoas envolvida, aproxidamente."
Atualmente, Martin já está trabalhando na sétima temporada de Game of Thrones, mas ele se esquivou de dar detalhes. Quando perguntamos se há grandes cenas vindo por aí, ele respondeu:
"Bem, eu não posso revelar nada. E você não quer que eu responda porque seria um spoiler, estragaria tudo. É muito mais divertido esperar para ver o que acontece. Mas a sétima temporada será incrível, com certeza."