Atenção: Contém spoilers do episódio 7 de Westworld.
Se você estiver à bordo das intermináveis teorias de Westworld, a revelação do final do episódio 7, "Trompe L'Oeil", não foi lá tão surpreendente assim - apesar de, sem sombra de dúvidas, ser um momento brilhante para a série. Mas, se você não é muito familiar às especulações dos fãs em fóruns virtuais, chegou a hora de mergulhar de cabeça neste mundo de possibilidades e tentar responder à pergunta: o que a revelação de Bernard significa para o futuro da temporada?
A ideia de Bernard ser um anfitrião vinha sendo especulada desde o segundo episódio - quando os fãs perceberam que até mesmo os logotipos são detalhes importantes no entendimento da história –, e a sugestão vinha forte de que alguém que se passava por humano seria, na verdade, um robô. É importante destacar que a edição foi essencial para esconder a informação ou despistar o maior número de pessoas da hipótese, trunfo que também havia sido bem utilizado por Jonathan Nolan em O Grande Truque. No terceiro episódio da temporada, a teoria é inicialmente descartada quando surge uma cena de Bernard conversando com sua (ex?) esposa, interpretada por Gina Torres, em uma espécie de Skype futurista. Os dois falam sobre o filho, já falecido, e esta parece ser a justificativa para estabelecermos Bernard como um humano de fato. Posteriormente, a morte de Charlie parece ser o ponto fixo da história de Bernard, uma vez que é mencionado por Ford em todos os episódios subsequentes. Mas este momento com a esposa aconteceu de verdade ou era somente um "histórico" inserido na psique do anfitrião?
A teoria sugere ainda mais: que Bernard não seja um anfitrião qualquer, e sim uma versão que Ford construiu a partir do co-criador do parque. Isso mesmo: Bernard seria, segundo as especulações, uma cópia de Arnold.
A teoria Bernarnold
Como destaca uma detalhada matéria da Vanity Fair, no mesmo episódio que Bernard aparece conversando com sua esposa no serviço de comunicação futurista, Ford dá um histórico (ou "back story") a Teddy, acrescentando o vilão Wyatt à história. Como em Westworld nada deve ser analisado de forma isolada, muitos sugeriam que os dois eventos teriam uma possível relação: assim como Wyatt é o histórico de Teddy, a morte de Charlie seria o histórico de Bernard, espelhado na história verdadeira de Arnold. Além disso, une-se ainda uma questão de lógica. No episódio piloto, é dito que a medicina evoluiu muito nos últimos anos e que praticamente não há doenças no mundo real; o fato de o pequeno Charlie ter adoecido, então, acaba sendo um tanto anacrônico... a não ser que tenha acontecido cerca de 35 anos antes.
Um segundo fator que corrobora a hipótese é o próprio desconhecimento de Bernard da história de Arnold. Quando Ford conta a ele a respeito do co-criador do parque, fica subentendido que o misterioso personagem era uma pessoa sobre quem Ford guardava segredo. Mas, nos episódios seguintes, Arnold é mencionado à exaustão por Theresa, Elsie, pelo Homem de Preto e até pelos funcionários de menor escalão no parque. Por que, então, que justamente o homem que é o braço direito de Ford há tantos anos não saberia a respeito de Arnold? Porque ele é uma versão do mesmo, talvez?
Por fim, o sétimo episódio deixa estebelecido que de fato a edição é muito inteligente, e que a câmera definitivamente não é um narrador confiável na série. A cena da porta, na casa da família Ford no setor 17, esclarece que não se deve confiar em tudo o que vemos, e que algumas coisas estão sendo omitidas de propósito. Se no episódio anterior, o personagem de Anthony Hopkins parecia ter saído de um canto inexistente quando salvou Bernard do robô de seu pai, dessa vez entendemos que isso acontece porque estávamos vendo a cena sob a ótica de Bernard – que, por ser um anfitrião, é incapaz de ver coisas que o ameacem. E a existência daquela porta desafiaria a sua lógica.
Sobre Bernard não poder ver coisas que o ameacem, ancora-se ainda uma outra evidência: quando ele vê a foto em que estão aparentemente Ford e Arnold, há um espaço vazio no canto direito em que encaixaria exatamente uma terceira pessoa. Se esta pessoa for Arnold – já que sabemos que a segunda é o pai de Ford , – e Arnold de fato tiver a mesma aparência de Bernard, isso explicaria o espaço vazio: estaríamos vendo a foto sob a ótica de Bernard, e por isso não vemos a imagem da outra pessoa na foto.
E o que isso significa para a teoria das linhas temporais?
O mais importante a ser entendido aqui é que a possibilidade de Bernard ser uma cópia de Arnold abre espaço para que Jeffrey Wright esteja interpretando os dois personagens, em momentos diferentes. A teoria explica, aqui, que algumas cenas que o público foi levado a achar que eram de Bernard eram na verdade de Arnold. E isto seria exatamente em seus encontros com Dolores, naquelas sessões em que ela aparece de vestido, e não nua como todos os outros. Essas cenas poderiam ser as sessões de Arnold com a anfitriã, antes do incidente que ocorreu há 35 anos, quando ela estava na missão de ajudá-lo a destruir o parque. O local desses encontros parece ser justamente o mesmo em que Ford se encontra com o pequeno Robert no episódio 6, e posteriormente, onde Theresa encontra o seu fim no episódio 7. Vale lembrar que Bernard chega a explicar a ela que o local trata-se de uma antiga instalação de diagnóstico, que Ford e Arnold utilizavam quando o parque ainda estava em fase de testes.
As respostas para esta e outras perguntas, porém, deve ser entregues ao longo dos próximos três episódios. Enquanto isso, leia também a nossa análise do episódio "Trompe L'oeil".