Negan chegou em Alexandria para fazer uma das coisas que faz de melhor: atormentar. E enquanto o inseparável companheiro de Lucille tirava todo o resto de estabilidade que ainda havia em Rick (Andrew Lincoln), o episódio discretamente mencionava uma das grandes questões da série até a presente data, e em um simbólico questionamento sobre disputas de poder e luta versus aceitação, a esperança de que nem tudo está perdido vem de uma dupla um tanto... curiosa.
Um dos trunfos de The Walking Dead no que diz respeito ao ritmo do episódio é o fato de a série ter liberdade suficiente, a esta altura de seus sete anos no ar, para alternar com facilidade entre um arco narrativo e outro. Há muitos personagens, novos grupos de sobreviventes e uma enorme gama de histórias potencialmente interessantes a serem exploradas, mas “Service” passa um tempo exagerado de seus – já exaustivos – quase 90 minutos insistindo na mesma tecla que já não era novidade: Negan é uma má pessoa e vai a extremos inimagináveis para provar seu ponto de vista.
É claro que a performance de Jeffrey Dean Morgan do personagem é, para dizer o mínimo, marcante, mas este já é o terceiro episódio em que ele aparece na temporada (com bastante protagonismo em todos, diga-se de passagem) e ainda é difícil enxergar nele alguma nuance que tire o ar maniqueísta. Negan já foi visto em seu ‘habitat natural’ (a comunidade dos Salvadores) e na presença de suas vítimas, e permanece caminhando na linha tênue entre o “exagerado” e o “não-crível”. Já havíamos observado nas duas críticas anteriores (do primeiro episódio e do terceiro) que o personagem pode se tornar facilmente caricato demais, graças à sua própria origem bastante cartunesca. E embora a interpretação sádica de Morgan seja suficiente para convencer do quanto ele está disposto a ultrapassar qualquer linha do bom-senso para alcançar seus objetivos e provar a si mesmo, é apenas uma questão de tempo para que esta aproximação do personagem deixe de ser assustadora e se torne apenas cansativa, exagerada. Para alguns, este momento já chegou.
Justamente por isso, o episódio acaba entregando um cenário em que pouca coisa realmente nova ou interessante acontece. É claro, nenhuma novidade em se tratando de The Walking Dead, que tradicionalmente traz episódios mais ‘contemplativos’ no decorrer da temporada, mas em vários momentos a demora nas cenas e a repetição de duelos que já haviam sido vistos (sobretudo entre Negan e Rick) parecem um cruel foco em algo que já foi estabelecido.
Porém, isso não quer dizer que não haja motivo para a postura “acovardada” de Rick, que é apresentada em uma justificativa que ele dá a Michonne (Danai Gurira) no fim do episódio. Talvez em um dos momentos realmente emocionantes do personagem, ele fala a respeito de Lori e Shane, e a admissão da suspeita geral que Judith seja filha do seu ex parceiro de trabalho. Assim, ele justifica que a sua disponibilidade de ceder está intimamente ligada à necessidade de sobrevivência – da mesma forma como passou por cima dessa suspeita e cuida de Judith como sua filha biológica – e à responsabilidade que sente para com a vida de todos aqueles que habitam Alexandria. Mas até que ponto ele vai manter este silêncio e aguentar as afrontas de Negan sem revidar?
Sem precisar pensar adiante ou nas outras comunidades (Hilltop e O Reino), o próprio episódio já começa a entregar uma resposta para esta pergunta, e deixa estabelecido que Michonne, Carl (Chandler Riggs), Rosita (Christian Serratos) e até Spencer (Austin Nichols) devem exercer um papel fundamental para levar Rick a tomar alguma atitude para livrar o grupo do domínio de Negan.
Enquanto a temporada se estrutura sobre “uma comunidade por episódio” – ao menos neste início, ainda não revisitamos Hilltop, e isto irá acontecer no próximo domingo, quando finalmente veremos como Maggie (Lauren Cohan) está.
O que você achou do episódio? Achou que os 90 minutos foram bem utilizados? Deixe sua opinião nos comentários. O episódio 5, “Go Getters”, vai ao ar no próximo domingo.