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    Westworld S01E04: O legado de Arnold

    Em busca da liberdade.

    "Há algo errado nos pensamentos que ando tendo?"

    A pergunta de Dolores (Evan Rachel Wood) a Bernard (Jeffrey Wright), exibida logo no início de Dissonance Theory, pode ser considerada uma síntese do dilema atual de Westworld. Com os anfitriões tendo cada vez mais vislumbres de seu passado, o que lhes possibilita uma onisciência nascente, o universo do parque começa a se tornar instável. Também graças às profundas intervenções provocadas por Ford (Anthony Hopkins) na construção de sua nova (e grandiosa) narrativa.

    Ford, por sinal, é uma das peças-chave deste quarto episódio. Não apenas pelo seu encontro com Virginia (Sidse Babett Knudsen), onde reafirma o controle que possui como criador, mas também por demonstrar de forma muito clara que sabe lidar com a política empresarial por trás do parque. Misterioso, Ford mais uma vez insinua que possui um plano maior envolvendo Westworld - e, considerando que os vislumbres dos anfitriões surgiram a partir de uma atualização implementada por ele, não é difícil supor que tenha planejado toda a instabilidade crescente.

    Chegamos então a outro personagem-chave de Dissonance Theory: Arnold. Apresentado em The Stray, onde percebemos que Bernard sequer tinha ouvido falar dele, o cocriador de Westworld ganha importância não apenas pela quantidade de vezes que é citado - o que demonstra que sua existência não é tão obscura assim -, mas também pelo impacto de seu legado. Arnold desenvolveu a teoria da consciência, a mesma estimulada por Bernard em Dolores e que Maeve (Thandie Newton) passa a ter a partir de seus vislumbres, ainda horrorizada. Os anfitriões agem, cada vez mais, de forma fora do convencional, abandonando seus ciclos tradicionais e questionando tudo à sua volta - enquanto que, vale lembrar, a nova narrativa de Ford serve como justificativa técnica para tantas mudanças ao mesmo tempo, de forma a maquiá-las para os burocratas que comandam a empresa.

    Diante deste contexto, retorna o homem de preto (Ed Harris) e sua busca pelo centro do labirinto. Há dois pontos a se considerar em relação ao personagem: o primeiro é que ele não apenas possui uma vida fora do parque, como ainda por cima é alguém conhecido; o segundo é a fala que diz a Hector (Rodrigo Santoro): "Estou aqui para libertá-lo". Soma-se a isto o fato dele conhecer o trabalho de Arnold, ou seja, conhece bem a teoria da consciência. Por mais que seus interesses ainda permaneçam obscuros, surge um vislumbre de que tal motivação não seja apenas devido a um prazer pessoal em saber mais que os outros. Seria o homem de preto interessado em destruir o parque que tanto visitou ao longo dos anos? Um palpite neste sentido pode vir no próximo episódio, onde ele encontrará com Ford.

    De toda forma, a simples existência do homem de preto fora do parque invalida a teoria de que seja ele o próprio Arnold, que de alguma forma conseguiu permanecer em Westworld - onde morreu, é bom ressaltar. Por outro lado, permanece a possibilidade de que seja a versão mais velha de William (Jimmi Simpson), teoria levantada a partir de um diálogo com Dolores presente em The Stray. Neste episódio, descobrimos que William e Logan (Ben Barnes) não são meros visitantes em Westworld, mas também possuem interesses comerciais no local - o que, se a teoria "William é o homem de preto" for confirmada, justificaria como ele conhece tanto sobre o parque. Desta forma, o parque abrigaria também uma espécie de fenda no tempo, onde pessoas de diferentes épocas poderiam transitar livremente.

    Ainda em relação ao labirinto, chama a atenção a revelação do mesmo por Bernard a Dolores, instigando-a a procurá-lo. "Talvez você possa ser livre ao encontrá-lo", ele diz. Após a descoberta da consciência, a possibilidade de liberdade é tentadora - mas qual seria o real interesse de Bernard ao fazer tal comentário? Por mais que esteja interessado em, como cientista, acompanhar até onde os anfitriões podem evoluir, não seria também possível que ele queira, intencionalmente, colocar Dolores em rota de colisão com o homem de preto? Ou ainda que Bernard esteja agindo a mando de Ford? Ou ainda que esteja agindo de forma independente? Até o momento, sabemos apenas que Bernard é um dos personagens mais fascinantes da série, pela variedade de possibilidades que desperta a partir de seus atos.

    Diante de tantos questionamentos, Dissonant Theory é um claro episódio de transição, onde as bases são estabelecidas de olho em um evento maior que ainda virá. Enquanto o público ainda descobre as peculiaridades de Westworld, as peças se movimentam rumo ao tal centro do labirinto - e a promessa de lá ser um ponto de redenção lembra muito a famosa escotilha da primeira temporada de Lost. Aguardemos.

    Nota: 3,5

     

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