Por mais que já estejamos no terceiro episódio de Westworld, ainda é difícil apontar qual caminho a série rumará devido à complexidade em torno das diversas camadas de interesses e fetiches. Se por um lado The Stray pouco avança neste sentido, por outro investe em trabalhar melhor um de seus elementos mais fascinantes: a psicologia dos anfitriões.
Se em Chestnut tivemos a oportunidade de ver Maeve (Thandie Newton) fora do parque, em uma breve jornada de autodescoberta, aqui as atenções voltam para a mocinha Dolores (Evan Rachel Wood). Ou melhor, para o relacionamento mantido pela mais antiga dos anfitriões com um de seus criadores, Bernard (Jeffrey Wright). É interessante observar o comportamento dele ao longo da série, pelo misto de fascínio diante da evolução e amadurecimento dos anfitriões com a própria posição de criador, que lhe permite controlá-los. O encontro entre Dolores e Bernard neste episódio engloba estes dois aspectos, e ainda a solidão/necessidade de se abrir do cientista. Bernard sabe que algo fora do normal acontece com ela e outros anfitriões, mas ainda assim prefere omitir aos demais em nome da ciência. "Vamos ver até onde isto vai", ele diz, consciente de que suas crias estão (também) numa espécie de experimento sociológico, por mais inusitado que seja classificar desta forma algo protagonizado por andróides.
Esta diversidade de interesses é um dos aspectos mais interessantes de Westworld, até o momento. Se a diretoria está mais interessada em faturar (alto) em cima do parque de diversões voltado para satisfazer o prazer sem culpa, cabe aos cientistas também observar os aspectos científico e sociológico em torno de tal interação, sem deixar de lado a necessária autosuficiência financeira. Bernard é um elo chave nesta estrutura, não apenas pelo conhecimento que possui mas também por como se relaciona com os demais personagens. Se ele demonstra uma admiração intelectual perante o criador Robert Ford (Anthony Hopkins), há também o relacionamento sexual mantido com Virginia (Sidse Babett Knudsen), sua superior na hierarquia empresarial, que soa como algo puramente fisiológico. Em The Stray temos a chance de conhecer um pouco mais de seu lado emocional, seja através da breve conversa com a ex-esposa ou da revelação de que ele perdeu um filho - o que, de imediato, joga por terra a teoria de que Bernard seria também um anfitrião.
Chama a atenção conhecer esta fratura emocional de Bernard justamente em um episódio onde os anfitriões começam, cada vez mais, a lembrar de fatos do passado. Tais "anomalias" surgem a partir do breve vislumbre de Maeve ao reencontrar Teddy (James Marsden), das lembranças dos homens que atacam Dolores em sua casa e até mesmo do ato da mocinha ao esconder a arma, para utilizá-la em um momento de aflição - sem falar do breve vislumbre do homem de preto (Ed Harris), algoz antigo. Cientificamente, tais lembranças são explicadas a partir da revelação de um novo personagem, Arnold, e da teoria por ele desenvolvida de forma que os anfritriões alcancem a consciência plena. Seria o início do surgimento de uma inteligência artificial que possa ter vontade própria e até mesmo peitar os criadores e a equipe de manutenção do parque? Aguardemos!
No mais, The Stray merece destaque pela implementação da nova narrativa implementada por Ford, bem como a revelação de mais detalhes sobre como o histórico dos anfitriões é estabelecido. No fim das contas, este foi um episódio mais dedicado a revelar e estabelecer como funciona a psicologia dos anfritriões do que em trazer novidades visuais ou narrativas à série como um todo, mas ainda assim importante para estabelecer a base estrutural deste relacionamento ainda de dependência entre andróides e humanos. Promissor.
Nota: 3,5
O quarto episódio de Westworld vai ao ar no próximo domingo, às 23h, na HBO.