Com tanta série para estrear, é humanamente impossível dar conta de todas – e seria até irresponsável dizer que uma é a mais isso ou aquilo do que outra. Mas como ironicamente os Titãs já cantavam em “A melhor banda de todos os tempos da última semana”, não chega a ser exagero dizer que Westworld é a mais promissora “da última semana” – o AdoroCinema assistiu ao piloto em primeira mão em um evento organizado pela HBO em São Paulo.
Baseada em Westworld - Onde Ninguém Tem Alma, filme de 1973 considerado um marco nos efeitos visuais no cinema, a produção inverte o ponto de vista da narrativa anterior. Se lá o foco estava nos dois amigos (vividos por Richard Benjamin e James Brolin) que se aventuravam pelo parque temático do faroeste habitado por robôs ultrarrealistas; aqui o protagonismo é das máquinas – e a tomada de consciência da sua condição de complexo circuito digital.
Ponto para a criatividade do casal de showrunners formado por Jonathan Nolan (e o sobrenome não é coincidência, afinal trata-se do irmão mais novo de Christopher, criador de Person Of Interest e responsável pelo roteiro de Interestelar) e Lisa Joy Nolan (que se destacou com o texto de Pushing Daisies), que conseguiu bolar um enredo original em relação a um produto pré-estabelecido.
Antes de mais nada, Westworld não é exatamente uma obra de western. O universo do faroeste é apenas o empoeirado pano de fundo para o desabrochar de uma discussão filosófica ampla que pende muito mais para o lado da ficção científica.
Disso decorre que há pelo menos três eixos que por si só já renderiam uma narrativa com vida própria. No primeiro deles, temos Dr. Robert Ford (Anthony Hopkins), uma espécie de Gepeto high-tech. Ele é o chefe de programação do parque, responsável por desenhar os robôs, o que faz com um nível de excelência cada vez mais preciso, próximo do humano mesmo. Ao redor dele trabalham uma série de técnicos, cientistas e administradores – como os personagens de Jeffrey Wright e Sidse Babett Knudsen.
Evan Rachel Wood é Dolores Abernathy, a típica heroína romântica, Pollyanna nas intenções e devota à família. Pelo menos, esse é o papel que o robô representa na ficção armada em "Westworld" – onde também encontramos o mocinho (James Marsden), o pistoleiro procurado (o bandido é encarnado por Rodrigo Santoro), a prostituta do saloon (Thandie Newton), e tantos outros arquétipos. Eles são chamados de “Anfitriões”. O terceiro núcleo é formado pelos “Visitantes”, ou seja, aqueles que pagam para habitar esse ambiente de realidade simulada. Quando um deles, o mal-encarado "Homem de Preto" vivido por Ed Harris, resolve investigar o que “está por trás” desses “bonecos”, abre-se um novo leque de possibilidades.
A brincadeira funciona da seguinte maneira: o interessado paga por uma diária no parque onde todo dia acontece tudo (quase) sempre igual. De acordo com o perfil de cada um, o robô acorda, vai para os seus afazeres programados e o rumo do dia é definido de acordo com a experiência de cada um. O conflito central é instituído quando uma aparente falha na atualização das máquinas resulta em um comportamento estranho por parte delas.
Se a intenção é estudar o comportamento humano, o faroeste se revela o cenário ideal, afinal, trata-se de um mundo fetichista onde violência e sexo afloram quase que sem regras – ainda mais numa realidade onde o visitante sabe que não será punido por suas ações.
Se na forma Westworld traz um elenco estrelar, embalado por efeitos de ponta, como era de se esperar, no conteúdo ganha ainda mais elegância com citações que vão do dramaturgo William Shakespeare à poeta Gertrude Stein. E olha que só se passou um episódio, redondo, que termina simbolicamente onde tudo começou. Uma sofisticada combinação de A.I. - Inteligência Artificial com Feitiço do Tempo, essa promete dar o que falar. Aguardemos cenas dos próximos capítulos.
Westworld será exibido todo domingo, a partir de 02 de outubro às 23h, na HBO, até o dia 6 de novembro, quando passa a ir ao ar uma hora mais tarde.
O AdoroCinema viajou a convite da HBO.