Após uma excelente primeira temporada, Narcos tinha um desafio: fazer um segundo ano ainda melhor. E com menos material. Com dez episódios, a temporada de estreia retratava quase 20 anos na vida de Pablo Escobar, mostrando seu surgimento no tráfico, suas pretenções políticas, suas derrotas, seus crimes mais marcantes, sua prisão e sua fuga.
Agora, com os mesmos dez episódios, a segunda temporada engloba o período de um ano e seis meses entre a fuga da Catedral e a morte da Pablo Escobar. Como não poderia deixar de ser, o tempo ganha importância muito grande na série. As coisas não são tão corridas como no primeiro ano, o que dá espaço para uma pessoa especialmente brilhar: Wagner Moura.
Fabulosa. Esta palavra pode ser usada para tratar da atuação de Moura nesta temporada. Apesar de receber algumas críticas - exageradas, é bem verdade - pelo sotaque anteriormente, nem isso pode ser usado contra ele agora. O ator entrega uma performance forte, intensa e com muita carga dramática.
Após sua fuga, Escobar procura manter seu posto de líder do cartel de Medellín e do tráfico internacional. No entanto, sofre com ameaça de concorrentes e, é claro, da polícia colombiana e americana. Ao mesmo tempo em que busca manter os negócios, ele precisa se manter um estado permanente de atenção, afinal pode precisar fugir a qualquer momento.
Isso, é claro, afeta sua relação com a família, e cria um personagem por vezes melancólico, embora sempre ameaçador. Os produtores da série, dentre os quais está o brasileiro José Padilha, conseguiram ir ainda além naquela já marcante característica da primeira temporada. Lá, era possível o espectador fugir um pouco da realidade e torcer um pouco por Escobar. Agora, é capaz do público até criar certa empatia diante do vilão.
Wagner cria um personagem tão complexo e tão fascinante, que o público vai com ele, chegando até a lamentar sua morte. Pablo está angustiado durante toda temporada. E o espectador está da mesma forma, por não saber como lidar com o fato de gostar de um personagem tão detestável. A equipe da produção, em especial os montadores, foi muito importante neste desenvolvimento. Diante dos ataques mais selvagens do protagonista, a série faz questão de mostrar imagens de arquivo reais, jogando na cara do público o fato daquela pessoa ter existido e ter cometido tamanhas barbaridades. E o espectador tem que lidar com o sentimento de torcer por um bárbaro, o que por si só já valoriza a experiência.
É importante valorizar a estratégia da Netflix que já avisar desde o início da divulgação que o protagonista iria morrer. Agora, o espectador fica livre deste spoiler para se dedicar completamente à experiência. O importante é como isso acontece. E não o fato de acontecer, até porque estamos falando de um personagem real.
Indicado ao Globo de Ouro 2016, é de se imaginar que Moura concorra a tudo o que for possível em 2017. Mas ele não está sozinho. Pedro Pascal e Boyd Holbrook seguem muito bem na pele dos agentes do DEA. Holbrook continua como narrador, mas dentre os "mocinhos" é Pascal que rouba a cena. Seu agente Peña está ainda mais complexo e surge justamente para abranger o debate sobre "fins e meios".
Raúl Méndez perde um pouco de espaço como Gaviria, mas temos outras surpresas, como as participações de Eric Lange, Damian Alcazar, Cristina Umaña e Paulina Gaitan.
Três cineastas dividem a direção dos episódios: Gerardo Naranjo, Andrés Baiz e Josef Kubota Wladyka. Destaque para os trabalhos de Naranjo (Miss Bala) nos dois primeiros episódios e de Baiz (O Quarto Secreto) nos dois últimos.
Mesclando muitas cenas de ação com momentos de melancolia, a segunda temporada coloca a série dentre as melhores produções da TV nos últimos anos, com Wagner criando um Escobar capaz de fazer frente a vilões do porte de Walter White e Tony Soprano. Agora, a série tem o desafio de se inovar na terceira temporada, ainda não confirmada, mas muito provável. Sem Moura e seu Escobar, Narcos deve sofrer para criar um antagonista tão complexo. É esperar.