ATENÇÃO: Contém SPOILERS de 'No One', episódio 6x08 de Game of Thrones.
“Ah, as coisas que fazemos por amor.”
Não foi de falta de referências que o novo episódio de Game of Thrones sofreu. Enquanto vamos chegando ao final da temporada, é natural que se construa uma certa tensão e o público espere resoluções ou, no geral, mais ação. Uma queimadura lenta, tal qual vem acontecendo há, pelo menos, três episódios, não é necessariamente um problema e, muito pelo contrário, rende excelentes momentos quando bem executada (um exemplo é a irretocável quarta temporada de The Americans). Entretanto, o episódio 6x08 preenche seu espaço do domingo à noite sem grandes momentos e, com pouca relevância efetiva, deixa o espaço livre para o aguardado confronto do episódio 9.
A questão não é exatamente que não tenha havido momentos importantes ou aguardados no episódio. Brienne (Gwendoline Christie) reencontrou Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau), a questão em Correrrio parece estar resolvida, Cersei (Lena Headey) escolheu sua violência, Meeren está, literalmente, pegando fogo com o retorno de Dany (Emilia Clarke), e Porto Real padece sob a união entre Fé e Coroa ao mesmo tempo em que a proibição do Julgamento por Combate frustra os planos de Cersei. Mesmo com tudo isso, as resoluções realmente aguardadas não acontecem ou, quando acontecem, acabam caindo em um anticlímax traidor.
O episódio já sem demoras resolve o que ficou em aberto com Arya (Maisie Williams) no episódio anterior, e usa com sabedoria o (breve) retorno de Lady Crane (Essie Davis). Isoladamente, o momento agrada, principalmente após a história da garota ter ficado tão sem ritmo durante a primeira metade da temporada. É fácil entender por que Lady Crane agrada tanto e é uma personagem tão fácil de se assistir, principalmente no momento em que ela se torna a versão mais próxima de uma mãe para Arya desde que ela deixou Winterfell na primeira temporada. Paralelamente, é bonito observar sua interpretação do amor de Cersei por Joffrey, nos palcos, e a atenção que dedica à garota que conhece como Mercy cuidando de seus ferimentos. Posteriormente, este mesmo ‘amor materno’ de Cersei e Catelyn é mencionado novamente por Jaime, que o toma como um dos grandes motores dos maiores eventos da história até aqui.
É impossível não observar a incoerência de quando, nos momentos finais do episódio, Arya é perseguida pela ‘garota sem nome’ e executa movimentos que não deveriam ser possíveis para alguém que foi esfaqueada no estômago, múltiplas vezes, há pouco tempo. Ainda assim, é impossível negar que o retorno da Agulha era o que faltava para deixar claro que Arya sabia, desde o início de sua fuga, o que estava fazendo.
As Terras Fluviais e os Tully chegaram na temporada tão sem anúncio e contexto quanto começam a ir embora. O impasse sobre a posse de Correrrio chega ao fim com a tomada do castelo pelos Lannister e Frey, e Peixe Negro (Clive Russell) deixa o mundo enfrentando aqueles que cruelmente assassinaram sua família. Um desfecho nobre para um personagem interessante, apesar de muito rápido. Mesmo assim, não é exatamente uma surpresa tendo em vista a ‘falta de uso’ da série para personagens secundários.
A ideia que permeia todo o episódio em uma síntese é o fato de nenhum dos planos dos personagens ter exatamente saído como planejado. A vingança frustrada do Cão de Caça contra a Irmandade Sem Bandeiras vira pelo avesso quando ele reencontra Beric Dondarion; a vingança frustrada de Cersei contra a Fé Militante vai pelo ralo quando Tommen decreta o fim dos Julgamentos por Combate; a esperança de Sansa conseguir apoio dos Tully para a retomada de Winterfell acaba com um sólido ‘não’ de Peixe Negro; Tyrion vê todos os seus planos diplomáticos para manter Meeren em paz se esfacelarem perante seus olhos e os olhos de sua Rainha. Parece haver uma intenção, que não foi muito eficiente, de colocar tudo isso contrabalanceando com a decisão de Arya voltar para casa, a única vitória efetiva dentro da hora. O problema é que nenhuma dessas perdas causa o impacto aparentemente desejado. Não por não envolverem personagens interessantes, mas por não conseguirem passar com eficiência a dimensão de cada uma dessas pequenas derrotas no grande jogo. Em síntese, o episódio se constrói em migalhas da história que, juntam, não significam muita coisa.
De uma forma triste e irônica, a cena entre Tyrion, Missandei (Nathalie Emmanuel) e Verme Cinzento (Jacob Anderson) tentando contar piadas (e falhando miseravelmente todas as vezes) tece uma relação não muito agradável com a tonalidade geral da temporada até agora. Bem-intencionada, prometeu momentos interessantes e memoráveis mas parece ter caído na própria armadilha e não consegue fazer com que o andamento da história, salvo as “grandes reviravoltas”, sejam interessantes. É claro, todos nos lembramos dos momentos mais impactantes, como o retorno de Jon Snow, a morte de Hodor, e Daenerys incendiando o templo em Vaes Dothrak, mas a série deveria ser capaz de fazer mais do que apenas impactar com momentos gigantescos, e dar mais atenção ao desenvolvimento tridimensional dos ricos personagens que possui. Ao invés, se ocupa com referências engraçadas (ou potencialmente engraçadas) que pouco acrescentam.
No fim, o momento mais marcante do episódio foi a prévia d’A Batalha dos Bastardos.
Considerações finais:
1- Por mais emocionante que tenha sido a sequência de perseguição entre Arya e a ‘garota sem nome’ (também conhecida como Waif ou Criança Abandonada) e a sua decisão de retornar a Westeros, é um pouco (na verdade, bastante) decepcionante a forma como a série retratou Braavos. Após duas temporadas construindo a identidade do local e citando a sua ampla importância no sistema econômico de Westeros e sua riqueza de informações, tanto a cidade quanto o treinamento recebido por Arya deixam a impressão de ser uma absoluta perda de tempo – o que, definitivamente, não é. O que demorou seis episódios para acontecer poderia ter acontecido facilmente em dois ou três com um desenvolvimento mais enxuto, menos cansativo e definitivamente mais impactante.
2- Quando Sandor encontrou Beric Dondarion, muitos corações devem ter palpitado por aí esperando Lady Stoneheart. Gente, é 2016. Vamos superar.
3- Outra teoria que caiu por terra logo nos primeiros minutos foi a que surgiu na internet nos últimos sete dias, sobre não ter sido realmente Arya quem havia sido esfaqueada no episódio anterior. Cabe aqui, uma breve confissão pessoal: Embora eu particularmente não acreditasse na teoria, por alguns momentos torci para que fosse verdadeira e, assim, explicasse a gigantesca incoerência da cena. Ledo engano. Nenhuma das (milhares de) teorias feitas sobre Arya até agora se provaram corretas, o que é até animador.
4- Entendemos que a tomada de Correrrio e a fuga de Brienne e Pod aconteceram durante a noite, mas realmente não há necessidade de uma cena tão longa e tão escura. É costumeiro a série fazer cenas assim, mas essa foi demais. Acende a luz, HBO!
5- Cersei sem Julgamento por Combate está mais perdida que azeitona em salada de frutas, mas parece que ela tem um grande plano em jogo e, para aqueles que estão atentos aos detalhes, a dica já foi dada por Bran (Isaac Hempstead-Wright). Lembram do fogovivo do Rei Louco?
Nota: 2,5
Nossa crítica do episódio 9 sai na próxima segunda-feira, após a sua exibição. Fique de olho!