A temporada 2015-16 de séries de TV chegou ao fim com um único pedido que se sobressaiu ao longo dos meses: melhor representação para personagens que estão incluídos em minorias – leia-se personagens LGBT, não-caucasianos e mulheres no geral. À medida que a próxima Fall Season se aproxima, e o público passa a conhecer as novas séries que vão estrear dentro dos próximos meses, se chega à triste conclusão que, embora fãs, mídia e produtores estejam cientes da falta de diversidade, nada está perto de mudar.
A Revista Variety executou uma pesquisa baseada em informações fornecidas ao veículo pelas cinco principais emissoras de canal aberto dos Estados Unidos (ABC, CBS, NBC, CW e FOX) e constatou que para a próxima temporada de séries, a grande maioria dos showrunners (ou seja, os condutores principais) são parte de uma hegemonia dominante. De um total de 50 showrunners para as 38 novas séries, 90% são brancos e 78% são homens. No quadro geral, isso significa que 76% são homens brancos, enquanto a porcentagem de mulheres não-caucasianas no comando de uma série fica restrita a 4%.
Os números denunciam novamente a falta de equivalência com a realidade. Enquanto as mulheres constituem 51% da população norte-americana, apenas 22% estarão à frente de uma das novas produções. Os números são consideravelmente baixos e não muito diferentes do que eram na temporada 1997-98, que segundo a reportagem eram 18%.
Essas constatações refletem diretamente no que se vê no resultado final, isto é, o produto que é apresentado ao público. Vale destacar, aqui, que boa parte das decisões, direções de roteiro e destino dos personagens é conduzida ou executada na sala dos roteiristas, e que a diversidade entre eles é tão importante, ou por vezes até mais importante, que os showrunners em si. Para Glenn Mazzara, ex-showrunner de The Walking Dead e veterano em séries de TV há 14 anos, a solução está justamente ali. Mazzara criou recentemente a série Damien, do canal A&E, e utilizou sua sala de roteiristas como estudo de caso.
“Diversidade normalmente acaba se limitando a uma pessoa representando todas as perspectivas diversificadas. Paridade de gênero é extremamente importante, para roteiristas homens entenderem que não é a tradicional visão masculina, e para roteiristas mulheres terem outras mulheres por perto para que se sintam confortáveis ao falar. Às vezes uma mulher pode não querer desafiar uma sala cheia de homens. Dessa forma, as conversas são muito mais vívidas e criativas", declarou em entrevista.
Mazzara esclareceu que, em Damien, ele tentou mudar a sua forma de escrever os personagens. "O melhor amigo de Damien é libanês; eu escrevi o personagem libanês. Quando alguém é afrodescendente, eu especifiquei isso. Eu não escrevo o personagem e escolhi um ator às cegas. Isso é porcaria. Não posso criar um personagem sem pensar em raça, gênero,idade, classe, onde cresceram - uma pessoa completa. Escolher às cegas deixa implícito que o modo padrão é uma pessoa branca, mas que você está disposto a escalar uma pessoa de cor. Mas todo personagem precisa de uma voz específica."
Segundo a Variety, representantes das cinco emissoras afirmaram que estão trabalhando para criar melhores oportunidades para mulheres e pessoas de cor, mas não disseram nada em específico a respeito das estatísticas encontradas.