ATENÇÃO: Contém SPOILERS sobre o episódio 6x07 de Game of Thrones, "The Broken Man".
Durante os seis primeiros episódios da atual temporada de Game of Thrones, a primeira cena ocorreu tradicionalmente na Muralha ou além dela, se não para enfatizar que a temporada é decididamente sobre os Stark, para sinalizar que as ameaças que estão ali escondidas continuam sendo reais. A cena de abertura do episódio sete, porém, manteve o ar de frieza em outro sentido. O início curto, rápido e sem rodeios foi direto para a revelação que fazia referência ao título do episódio. O “homem quebrado”, senhoras e senhoras, é Sandor Clegane, o Cão de Caça (Rory McCann).
Ian McShane já havia adiantado que o seu personagem traria de volta alguém muito querido, “que todos pensavam estar morto”, e por isso já se suspeitava, com um alto grau de certeza, que se tratava de Sandor. O Cão havia sido deixado para morrer por Brienne (Gwendoline Christie) e Arya (Maisie Williams) em sua última aparição, e agora ele retorna pelas mãos de Septão Meribald, personagem vivido brevemente por McShane. Apesar de um retorno bem arquitetado, com a frieza e o estranhamento da cena de abertura provocando uma saudável curiosidade mesmo naqueles que já suspeitavam do que iria acontecer, é uma pena que o episódio não tenha demonstrado nenhuma evolução do Clegane mais novo. Após o seu breve encontro com a fé, ele ser novamente motivado por vingança é mais um retrocesso ou uma estagnação de um personagem potencialmente muito mais complexo. Apesar do título de “homem quebrado”, o Sandor deste episódio não parece ser muito diferente do Cão de Caça que deixamos no final da quarta temporada. Uma pena, mas ainda há espaço para que ele seja trabalhado com mais delicadeza.
As grandes demonstrações de força do episódio, curiosamente, se encontram em polos opostos. De um lado, a pequena Lyanna Mormont (Bella Ramsey), que rapidamente conquistou o público com sua ferocidade, muito mais eficaz que qualquer ação de Tommen Baratheon (Dean-Charles Chapman), por exemplo. A naturalidade com que ela lida com a posição de poder intimida e ao mesmo tempo impressiona qualquer um. Mais uma das demonstrações de força do Norte e uma bela simbologia à essência de Game of Thrones: Os maiores líderes são mais uma vez aqueles que podem facilmente passar despercebidos.
Do outro lado, a experiente Lady Olenna Tyrell (Dianna Rigg) em Porto Real, em um discurso extremamente inspirado contra Cersei (Lena Headey), falando o que provavelmente muita gente gostaria de dizer. Se no episódio anterior não havia ficado claro, dessa vez é impossível não perceber que Margaery (Natalie Dormer) continua executando um grande plano para salvar o irmão e os Tyrell, e ela é a este ponto provavelmente, muito possivelmente, a jogadora que executa com maior destreza as suas ações no papel de Rainha. Em suas poucas incursões políticas no mundo de Westeros durante esta temporada, Game of Thrones deixou estabelecido que os Lannister têm pouca ou quase nenhuma força a esta altura da história, sem apoio político, com os cofres vazios e sem um plano de governo. Os leões deixam de ser poderosos, e a recente união de Tommen à Fé Militante concede mais força aos convincentes religiosos. Lena Headey é uma excelente Cersei, e concedeu à personagem certos níveis de complexidade que são difíceis de ser transmitidos sem a sutileza que a atriz impõe, mas ainda assim a força motriz deste ano na série ainda não chegou até ela. Pelo contrário: continua rodeando suas inimigas – que são, além das Tyrell, uma imponente Sansa Stark.
Verdade seja dita: Sansa (Sophie Turner) é a personagem cuja evolução é mais evidente ao longo das temporadas de Game of Thrones, e muito disso é em razão do polêmico casamento abusivo em que a personagem foi inserida na quinta temporada. Sansa desde então passou a, de uma certa forma, cobrir alguns arcos de personagens que não foram adaptadas para a série, e isso poderia ter saído extremamente errado, mas até agora tem funcionado. É bom não ver mais aquela Sansa inocente e irritante do início da história, e embora algumas de suas decisões possam ser questionáveis, é um enorme avanço que ela apenas tome decisões. Neste episódio, nós a vimos enviar uma carta a alguém logo após Jon negar ouvir os seus conselhos. É provável que o destino da carta seja Mindinho ou Robin Arryn (Lino Facioli), requisitando apoio das tropas do Vale. Após o encontro entre Sansa e Petyr Baelish (Aidan Gillen) no episódio 5 deve ser interessante presenciar este reencontro – torcendo para que Sansa nos surpreenda positivamente mais uma vez.
Enquanto novas alianças se formam no Norte, Theon (Alfie Allen) e Yara (Gemma Whelan) buscam uma outra nova aliança para além do Mar Estreito com a “Rainha dos Dragões” e no meio de tudo isso, as Terras Fluviais continuam sob o impasse promovido pela brava teimosia de Peixe Negro (Clive Russell). Game of Thrones demorou um bocado para retornar às Terras Fluviais, então pode ser que a história fique um tanto fora de contexto, mas é importante lembrar que os acontecimentos ainda são os desdobramentos do Casamento Vermelho. Ainda é cedo para tentar prever como tudo isso vai se encaixar no “grande jogo”, mas é possível que no próximo episódio aconteça algo mais concreto, já que – lembre-se – Brienne de Tarth partiu da Muralha, a mando de Sansa, com destino a Correrrio.
Se existe uma palavra que pode definir o episódio 7 da sexta temporada de Game of Thrones, esta palavra é ‘inconstante’. Com uma cena de abertura poderosa e promissora, nos deparamos com um episódio que começou empolgando, convenceu com uma Lyanna Mormont que ganhou o público, mas definhou a olhos vistos com discursos vazios tanto do personagem de McShane – um excelente ator que foi praticamente desperdiçado nas cenas – e um arco de redenção bobo e sem significado algum para Theon, apesar da ótima atuação de Alfie Allen.
O que realmente incomoda é a facilidade com que Arya se livra de Waif, a Criança Abandonada. Se a série pretende honrar todos os personagens, então que haja coerência. No primeiro episódio da temporada, Areo Hotah, lendário guerreiro, morreu após uma única facada nas costas, enquanto aqui uma garota de 11 anos é esfaqueada no estômago e consegue fugir, pular na água e depois sair andando. E isso acontece apenas para servir ao roteiro, e não porque os eventos do roteiro fizeram com que fosse possível.
Considerações finais
Um ponto positivo da cena de Arya é o quanto ela estava parecida com Ned, fisicamente. É um bom ponto de reflexão com a frase que Sansa diz a Lady Mormont, sobre sempre ser uma Stark. Vamos apenas torcer para que isso não seja um sinal de que ela vai encontrar o mesmo destino que o pai.
O retorno de Sandor Clegane naturalmente vem atrelado a algum acontecimento maior que, teoricamente, está guardado para ele – como adianta Septão Meribald. Há quem acredite em Cleganebowl, há quem acredite que finalmente chega a hora de Senhora Coração de Pedra. A aparição da Irmandade Sem Bandeiras, que matou o Septão e os seus seguidores, certamente reforça esta última, e com a sugestão de que Sandor vai atrás deles em busca de vingança, esta seria a oportunidade perfeita. O que você acha?
É claro que jamais deve ser requisito que se conheça a obra original para apreciar a adaptação, mas é incômodo quando a série exige que se esqueça o que há nos livros para que ela possa ser apreciada e elogiada. Dito isso, é extremamente frustrante que um episódio intitulado “The Broken Man” não adapte pelo menos uma parte do excelente monólogo de Septão Meribald sobre os Homens Quebrados. Dica de amiga: Leia a página 325 do livro O Festim dos Corvos para entender do que se trata!
Apesar de o desenrolar do esfaqueamento de Arya ser um tanto pobre, a cena em que ela é surpreendida pela Waif, ou Criança Abandonada, foi milimetricamente pensada para trazer fantasmas de volta para o público. Uma bela e triste referência à morte de Jon. E que atire a primeira pedra quem não levou a mão à barriga durante a cena.
Nota: 3.
Na próxima semana, depois de 84 anos de espera, Cersei escolhe violência. Fique de olho na crítica do AdoroCinema!