Em 1996, uma novela ousou desafiar um dos maiores fenômenos da teledramaturgia brasileira. Naquele ano, O Rei do Gado, de Benedito Ruy Barbosa, dominava as noites da TV Globo, conquistando o público com uma trama épica que unia romance, rivalidade entre famílias italianas e a poderosa figura de Bruno Mezenga, interpretado por Antônio Fagundes – que desapareceu no meio da novela por um motivo chocante.
A produção atingia picos de audiência, tornava-se assunto nas rodas de conversa e faturava prêmios. Tudo indicava que nada poderia abalar seu reinado. Até que, discretamente, outra novela chegou para roubar o holofote e fazer história. Faz ideia de qual folhetim estamos falando?
Se respondeu Salsa e Merengue, acertou "na mosca"! Embora não carregasse o peso de uma superprodução, essa novela de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa estreou trazendo uma energia diferente. Leve, colorida e com um olhar afiado para os costumes cariocas, Salsa e Merengue chegou com uma proposta inovadora. Surpreendentemente, não apenas conquistou o público, mas também desbancou O Rei do Gado no prêmio APCA de Melhor Novela de 1996, um feito impensável para muitos na época.
Qual era a história de Salsa e Merengue?
A trama de era uma verdadeira mistura de comédia, romance e questões sociais importantíssimas! O enredo principal girava em torno de dois irmãos que não sabiam de sua ligação sanguínea. Eugênio (Marcello Antony), criado em uma família rica, e Valentim (Marcos Palmeira), filho de uma batalhadora mulher chamada Anabel Muñoz (Arlete Salles), competiam pelo amor de Madalena (Patrícia França). Em paralelo, Eugênio enfrentava uma grave doença que apenas seu irmão desconhecido poderia ajudar a curar. Novelão!
O folhetim também abordava temas relevantes como a doação de medula, a degradação ambiental e a homossexualidade feminina, representada por Dayse (Rosi Campos) e Tereza (Ângela Rabelo). Tudo isso envolto em um clima descontraído, com personagens para lá de cativantes que deixavam toda a história ainda mais gostosa de ser assistida!
10 atores que decidiram chutar o balde, sair da TV e mudar completamente de profissãoSalsa e Merengue foi a primeira novela assinada por Miguel Falabella na TV Globo
Falabella, que na época equilibrava seu trabalho como roteirista com a atuação no humorístico Sai de Baixo, relembrou a experiência de sua primeira vez assinando uma telenovela global. "Tinha um ruído novo e personagens bárbaros [...] muito cariocas, tipos pinçados daqui e dali, um amálgama de gente que eu fui conhecendo e entendendo ao longo da minha vida", comentou o autor ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia. “Eu descobri ali que gostava de escrever novela”, completou.
Mesmo com esse frescor, Salsa e Merengue foi uma produção que ousou ir além da pura diversão. Ao tratar de assuntos como a gravidez precoce e a contaminação por mercúrio — temas pouco usuais para o horário das sete —, a novela conseguiu manter o público envolvido, garantindo audiência e crítica favoráveis.
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Além disso, personagens como a carismática Anabel (Salles) e a vilã Teodora (Débora Bloch) marcaram época, conquistando, inclusive, alguns prêmios. Arlete foi reconhecida como Melhor Atriz pela APCA, empatando com Drica Moraes, enquanto Débora levou para casa o Troféu Imprensa na mesma categoria. Divônicas!
Apesar do sucesso e da aclamação da crítica, Salsa e Merengue jamais foi reprisada no Vale a Pena Ver de Novo ou no Canal Viva. A novela que desbancou O Rei do Gado no APCA caiu no esquecimento da própria emissora que a exibiu. Assim, ao contrário de outras tramas que voltam de tempos em tempos em reprises ou no catálogo do Globoplay, essa continua fora do radar do canal, sendo lembrada somente pelos fãs "raiz". Poxa!