Assim como nem todo filme merece (ou precisa) virar uma franquia, nem toda obra precisa de spin-offs, prequels, reboots ou sequências de qualquer espécie. A iniciativa, vez ou outra, denuncia uma falta de criatividade da indústria, ou um verdadeiro topa tudo por dinheiro, levando a exaustão obras que deveriam, na verdade, receber proteção.
O fim também pode ser uma forma de preservar histórias, que deram muito certo em dado momento, mas que não possuem mais caminhos abertos. Não deixa de ser uma forma de respeito, também. No entanto, para Cidade de Deus, é preciso assumir que toda regra tem sua exceção.
O filme de 2002, dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund, é um dos maiores títulos do cinema nacional. Mas, a relevância de Cidade de Deus: A Luta Não Para, série derivada e lançada mais de 20 anos após o longa-metragem, não está no fato dele ser um clássico premiado. Nem mesmo, sob a justificativa de que a história deixou algumas lacunas ou perguntas sem resposta: “Quem assumiu a Cidade de Deus após a morte de Zé Pequeno?” ou “Buscapé conseguiu alcançar êxito como fotojornalista?”.
A relevância e qualidade da série está em encontrar um caminho próprio, entre as narrativas possíveis e inesgotáveis daquele universo “fictício” da Cidade de Deus. Em uma trama em que absolutamente todos os personagens são interessantes, todo spin-off se torna igualmente interessante. E em um daqueles casos raros, a pergunta que fica não é o “precisamos de mais um spin-off?” e sim um “como passamos tantos anos sem um spin-off de Cidade de Deus?”.
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Entre essas tramas inesgotáveis, a série finalmente escolhe contar as histórias das mulheres da Cidade de Deus. Extremamente coadjuvantes no filme, as personagens agora recebem nome, história próprias e atuam diretamente nos conflitos da comunidade. Outro mérito da série é tocar na ferida moral do jornalismo: O trabalho do Buscapé, afinal, pode ser uma ferramenta para ajudar seu território ou colabora, na verdade, para a construção de um estigma dos moradores da favela?
Este é um fator que atribui ainda mais camadas para a série: Se todos os personagens são interessantes e todas as narrativas são válidas e merecem espaço, todos os diferentes pontos de vista sobre um mesmo conflito exigem tempo para serem desenvolvidos. A série derivada permite isso.
Cidade de Deus: A Luta Não Para, se mostrou - pelo menos em seus primeiros episódios, que o AdoroCinema já assistiu - uma obra com propósito bem definido, além de uma produção autêntica. Capaz de quebrar qualquer preconceito contra spin-offs em poucos minutos. Eu poderia, facilmente, assistir a todos os prequels, reboots ou sequências desta história.
Cidade de Deus: A Luta Não Para conta com seis episódios que serão lançados semanalmente. O primeiro chega em 25 de agosto, na MAX e HBO.
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