Digimon, digitais, Digimons são campeões! Se você chegou a ler essas poucas palavras no ritmo da abertura do anime exibido em 1999 na TV Globinho, cantada por Angélica, é sinal de que, de alguma forma, a atração foi marcante. Completados 25 anos desde que Tai e seus amigos caíram (literalmente) no mundo digital e conheceram parceiros que os acompanhariam pelos momentos mais importantes de suas vidas, este 1º de agosto tem um gostinho especial por observar que as histórias contadas naquela época ainda resistem aos efeitos do tempo.
Criado a partir do game ao estilo tamagotchi, Digimon Adventure teve início com um virtual pet que rapidamente se popularizou no Japão. Apenas dois anos após seu lançamento, uma adaptação seriada chegou à TV através da Toei Animation. A trama tem início quando um grupo de crianças reunidas em um acampamento de verão são transportadas para um lugar desconhecido.
Lá, elas conhecem os digimons, monstros digitais que podem evoluir - passar por uma digievolução - ganhando forças e novas habilidades. Cada jovem também possui um brasão: Coragem, Amizade, Amor, Esperança, Confiança, Sabedoria, Luz e Sinceridade. Na medida que essas crescem, estes jovens aprendem a sobreviver aos obstáculos e enfrentar grandes aventuras.
Eles vão se transformar...
É natural que existam debates sobre o peso de cada produção infantil que era exibida no início dos anos 2000. Pokémon e Digimon sempre foram antagonistas, de alguma forma, mas é muito comum ouvir que a maioria das pessoas assistia as duas produções na época. Entre as ofertas do período, o universo de Tai e Agumon sempre teve o estímulo contínuo de provocar a audiência com seus arcos dramáticos.
Curso raro neste exercício de levar uma franquia para outra mídia, a história de Digimon se sobressai ao que é visto nos primeiros jogos justamente por oferecer uma história original e, diferente do início da jornada de Ash, uma trama que prezava a todo custo por sua linearidade. Obviamente, sendo um produto que seguia diversas regras do que era feito entre desenhos animados, existem aspectos formulaicos que aparecem em ambos animes.
Digimon Adventure 02: O Início sacrifica nostalgia e flerta com o terror em filme que mudará a franquia para sempreEmbora tenha uma narrativa complexa atenta à construção de cada personagem no imaginário do público, Digimon naturalmente se rendia ao "vilão ou transformação da semana". No entanto, a graça é observar como isso se traduz na temporada completa, onde esses elementos tradicionais de roteiro serviam integralmente ao avanço da história, ao desenvolvimento dos Digiescolhidos.
Digimon nunca se intimidou diante de temas complexos
Digimon Adventure nunca teve medo de tocar em temas densos. Levando em consideração que a série tem classificação livre e é destinada ao público infantil, o anime ficou conhecido por mostrar as dificuldades de seus heróis de maneira criativa e lúdica sem subestimar a audiência. Neste ponto, inclusive, é possível enumerar diversos momentos da trama que flertam declaradamente com terror, ação, ficção científica, suspense, drama, entre outros gêneros cinematográficos.
Assistir Angemon se sacrificando para salvar os Digiescolhidos, ver o (primeiro) fim de Leomon ou acompanhar o zelo de Wizardmon por Kari e, consequemente, sua morte no final da temporada apresentaram mazelas da vida real a um público que, provavelmente, teve seu primeiro contato com a finitude ali.
Ainda que possa parecer rude, o projeto ainda consegue ser variado ao mostrar como, através de personalidades e características distintas, cada herói tem seu desafio pessoal para vencer. É claro que existe um vício em colocar muitas soluções nas costas do protagonista Tai, mas há um carinho para, pelo menos, dedicar episódios inteiros ao drama dos outros escolhidos.
Inclusive, em diversos momentos da franquia, existem histórias classificadas como fillers, mas que apresentam pontos muito interessantes, como o capítulo lovecraftiano estrelado por Kari ou o momento em que Black Wargreymon é apresentado na 2ª temporada. Criado para ser uma arma, ele se rebela com a própria natureza ao se questionar sobre o sentido da vida.
Não são apenas brasões
De maneira esquemática e um tanto conveniente - e aqui, mais uma vez, lembramos que se trata de uma produção infantil -, Tai, Matt, TK, Izzy, Mimi, Sora, Kari e Joe descobrem que seus maiores medos e dificuldades são, na verdade, parte da força de cada um. Por meio da saga dos brasões, eles ainda entendem que cada tipo de "poder" não é tão literal quanto se imagina.
A coragem de Tai não significa apenas ser forte, mas saber quando e como agir sabendo das consequências. Da mesma forma, o amor para Sora não está vinculado ao romance, mas à autoestima da personagem a à maneira como ela está presente na vida daqueles que ama.
Dentro de Digimon também descobrimos que a determinação de cada herói impulsiona seu companheiro a evoluir. Trabalhada exaustivamente, essa questão também mostrou a muitas crianças a importância da própria intenção diante das adversidades da vida. É como, por exemplo, no episódio em que SkullGreymon surge após Tai ser tomado pela raiva e pela impulsividade. Uma demonstração de como verdadeiros sentimentos sempre se sobrepõem, mesmo quando ela está camuflada de uma ação aparentemente inofensiva.
Como entretenimento, Digimon Adventure também apresentava frequentes batalhas a partir da evolução de cada dupla. A questão é que nestes 54 episódios, o investimento emocional cativou a todos que sentaram em frente à TV para acompanhar como estes oito heróis e seus parceiros se transformam para voltar ao mundo real completamente renovados e seguros de suas próprias identidades. Esse efeito não ficou restrito à ficção, pois é certo que a saga impactou a vida de diferentes gerações que, invariavelmente, aprenderam importantes lições da narrativa. Afinal, todos podem ser campeões.
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