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    “Essas histórias são negadas”: Com Babu Santana e Jonathan Azevedo, nova série do Globoplay mostra as vidas reais por trás do histórico de violência no Rio de Janeiro [Entrevista Exclusiva]
    Júlia Barbosa
    Júlia Barbosa
    Criada no palco, sempre foi movida pela arte. Defensora ferrenha de Crepúsculo e Ricardo Darín, fala pelos cotovelos sobre as histórias que vemos nas telas e nos bastidores.

    Os episódios de O Jogo que Mudou a História serão lançados semanalmente no Globoplay.

    Quem vive na periferia do Rio de Janeiro cresce acostumado com as operações policiais e as guerras entre facções que fazem parte do cotidiano da cidade, mas desde quando? O Jogo que Mudou a História, a nova série Original Globoplay busca responder não só a essa pergunta, mas também faz um alerta sobre a importância de não perder a sensibilidade diante desse cenário. O primeiro episódio estreia hoje (13) no streaming e os seguintes serão lançados semanalmente.

    Produzida pelo AfroReggae, O Jogo que Mudou a História é inspirada na história das facções criminosas do Rio de Janeiro nos anos 70 e 80 e, principalmente, nos personagens reais que, como o próprio título diz, foram chave para que a estrutura do crime que conhecemos hoje nascesse. Para entender melhor, o AdoroCinema conversou com os atores Babu Santana e Jonathan Azevedo, que estão entre os protagonistas da série.

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    Qual é o enredo de O Jogo que Mudou a História?

    Baseada em fatos reais, a série criada por José Júnior (Arcanjo Renegado; Betinho: no Fio da Navalha) conta a história de como um jogo de futebol entre os times de Parada Geral e Padre Nosso, duas comunidades vizinhas que viviam em harmonia, virou um verdadeiro banho de sangue que deu início a uma guerra entre facções que durou 25 anos.

    A trama se desenrola nas favelas Padre Nosso, Parada Geral e Morro da Promessa e também na prisão de Ilha Grande. Elas servem de palco para os conflitos dos personagens, que por sua vez, são reflexo e motor dos conflitos sociopolíticos da época. Para isso, as comunidades que inspiram o roteiro, como Parada de Lucas, por exemplo, foram o cenário das gravações. As filmagens do núcleo da prisão ocorreram nos presídios Frei Caneca e Bangu 1.

    Para Jonathan Azevedo, que interpreta Gilsinho, chefe do tráfico do Morro da Promessa, gravar nesses locais foi de grande valor para a série e para ele mesmo:

    Eu fui em lugares onde poucas pessoas tinham acesso, a não ser quem trabalhava lá ou quem estava cumprindo alguma pena. Estar ali já tem uma coisa tão intensa ali que é só você jogar o personagem e deixar ele fluir. E nas comunidades que a gente ia foi muito bacana, porque eu sempre frequentei desde a minha infância e poder voltar com meu trabalho, com reconhecimento e fazendo uma pessoa que faz parte da história delas foi realização de sonho.

    Veterano no cinema nacional, principalmente quando se trata dos “favela movies”, Babu Santana reforça que além da importância de estar nesses lugares, ter pessoas que viveram esses lugares na frente e atrás das câmeras agrega ainda mais significado ao que a produção passa:

    “O diferencial é você ter um homem preto periférico na caneta. É um olhar político de quem viveu aquilo. O Júnior vive aquilo no dia-a-dia e ele trabalha com as coisas que a maioria das pessoas evitam”, destaca Babu, que dá vida ao personagem Hoffman, um dos líderes da facção Falange Vermelha.

    A importância do "baseado em fatos reais"

    Globoplay

    Ambos os atores também fazem questão de destacar a verossimilhança como algo que distingue O Jogo que Mudou a História. Isso porque retratar o contexto que originou muito do que as pessoas vivem hoje é fundamental para que o público se conscientize diante disso:

    “A série tem um lugar que, por esses personagens terem sido reais e estarem em um habitat que foi construído por eles, é visceral para quem viveu nesse Rio de Janeiro e nesse Brasil. É a partir desse momento que o Brasil começa a olhar para a comunidade de uma outra forma. É por isso que eu acho que cada pessoa nesse país que viveu naquele tempo vai saber aonde que eu estava em cada momento que se passa naquela série”, defende Azevedo.

    Babu Santana ainda completa dizendo que é fundamental comparar o que acontece hoje com o que acontecia na época da trama, que se inicia nos anos finais da Ditadura Civil-Militar:

    “É muito bom a gente perceber que muita coisa mudou e não mudou, então saber a origem das coisas fortalece esse debate. O importante é unificar isso, o entretenimento de qualidade à consciência política e ao conhecimento histórico, né? Porque a gente sabe que essas histórias são negadas para a gente”, enfatiza.

    Série leva a realidade do sistema carcerário para a tela

    Além de Jonathan Azevedo e Babu Santana, o elenco conta com nomes como Vanessa Giácomo, Ravel Andrade, Bukassa Kabengele, Otávio Muller, Rafael Logan e Samuel Melo. Ao lado deles, atuando de igual para igual, há os integrantes do Segunda Chance, projeto do AfroReggae que visa a integrar egressos do sistema prisional no mercado de trabalho.

    “Eu estava trabalhando com atores que eu sonhava em trabalhar desde que eu comecei a fazer teatro e aquele frio na barriga que eu tinha para fazer cena com o Babu ou com o Bukassa era o mesmo que eu tinha para fazer com os atores do Segunda Chance. O Brasil não sabe o quanto de talento que estava preso e, como Júnior fala, ele devia ser “única chance”, né? Então queria muito que prestasse atenção nesses atores que tiveram essa oportunidade”, conta Jonathan.

    Globoplay

    O próprio enredo da série retrata explicitamente as condições da população carcerária e, também, como as condições precárias do sistema prisional acabam perpetuando o crime no Brasil. Um exemplo mostrado na produção é a formação de quadrilhas dentro das prisões e como isso afeta diretamente as comunidades dominadas por elas.

    “Não é passar a mão na cabeça de ninguém. A reabilitação do preso na sociedade é importante para todo mundo, não só para ele. Não adianta uma pessoa passar anos presa, sair e não ter oportunidade lá fora. Ela acaba voltando para o crime e quem perde mesmo é a sociedade”, argumenta Santana.

    O intérprete de Hoffman, que é um dos internos do presídio de Ilha Grande, também destacou como contracenar com pessoas que literalmente viveram aquela realidade acaba refletindo na cena:

    “É um grau de intimidade que não tem comparação. A pessoa passou 10 anos encarcerada, não não tem interpretação que supere essa essa memória. E aí você olha ele tá inteiro na cena e você se inui daquela energia também. É um diferencial muito grande, é a retratação de quem viveu os efeitos colaterais dessa loucura toda”, completa.

    O Jogo que Mudou a História estreia hoje (13) e os episódios serão lançados semanalmente às quintas-feiras no Globoplay.

    O Jogo que Mudou a História
    O Jogo que Mudou a História
    Data de lançamento 2024-06-13
    Séries : O Jogo que Mudou a História
    Com Rômulo Braga, Jonathan Azevedo, Fabricio Assis
    Usuários
    3,1
    Assista agora

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