Algo completamente comum no audiovisual, sobretudo em produções vindas de Hollywood, é ter suas histórias pautadas em outras mídias. O cinema é repleto de adaptações das mais variadas formas: de grandes livros e games triple A, e sempre existem surpresas quando filmes e séries chegam ao público.
Uma saga literária que teve uma segunda chance foi His Dark Materials. Escrita por Philip Pullman, a série de livros teve uma tentativa frustrada em tentar iniciar uma franquia com A Bússola de Ouro. Lançado em 2007, o filme dirigido por Chris Weitz, de Lua Nova e Um Grande Garoto, amargou nos cinemas tanto nas reações da crítica quanto do público.
Franquias que tentaram seguir o sucesso de Harry Potter, mas falharamMesmo com Nicole Kidman e Daniel Craig no elenco, o filme com um orçamento de 180 milhões de dólares foi responsável por falir a New Line após arrecadar 372 milhões nas bilheterias. Embora o valor seja interessante visto de fora, sabe-se que o estúdio vendeu os direitos de distribuição internacional para pagar o projeto, então esses lucros não chegaram às mãos dos produtores. Assim, a empresa foi vendida para a Warner Bros.
Uma 2ª chance
Mais de dez anos depois, a New Line Productions ainda via potencial na franquia. Ao lado da Bad Wolf, BBC One e HBO, a série His Dark Materials: Fronteiras do Universo foi lançada em novembro de 2019. Com a ideia de adaptar os três livros da saga, os produtores teriam a missão de chegarem à terceira temporada - e logo no início, com o alto nível do material entregue e o carisma de Dafne Keen, as apostas eram altas.
Encerrada em 2022, com o total de 23 episódios divididos em três temporadas, a série tornou-se uma das melhores produções de fantasia e ficção científica do catálogo da HBO, e posteriormente da Max. Foi indicada em diversas premiações e conquistou 4 vitórias no BAFTA Television.
O que aconteceu com Dafne Keen, a atriz mirim que ofuscou Hugh Jackman em Logan?São três temporadas concisas, mas que conseguem equilibrar a história de cada livro com o coração no lugar. Existem falhas, obviamente, já que são adaptações, mas todos os arcos são coerentes às tramas dos livros. Inclusive, a fidelidade visual e narrativa com o trabalho de Pullman é louvável. Naturalmente, essa proximidade se dá não apenas pela dedicação da equipe envolvida, mas pelo envolvimento do próprio autor, que produziu e roteirizou a série.
O elenco também tem diversos méritos. Além da já citada Dafne Keen, que evolui e amadurece junto de sua personagem, que requer cada vez mais cargas dramáticas com o andamento da história, existem jovens atores que brilham ao lado da garota, como é o caso de Amir Wilson e Bella Ramsey.
Robusto, o elenco ainda conta com James McAvoy, Lin-Manuel Miranda, Ariyon Bakare, Anne-Marie Duff, Andrew Scott, Simone Kirby, Harry Melling e Will Keen. Uma das performances mais profundas da série vem de Ruth Wilson, intérprete de Marisa Coulter. Ela, talvez, seja uma das melhores vilãs da teledramaturgia britânica, pois consegue acessar inúmeras camadas da maldade inerente à personagem enquanto desabrocha como um ser humano, uma mulher que teve seus desejos e objetivos renegados em um mundo machista.
Aventura pelas Fronteiras do Universo
A trama de His Dark Materials: Fronteiras do Universo acompanha a jornada de Lyra Belacqua (Dafne), uma menina órfã que foge da universidade na qual mora para procurar um amigo desaparecido. Em sua jornada ela recebe ajuda de diversos personagens inusitados como romenos, ursos de armaduras e pilotos de balão enquanto desvenda um estranho complô para sequestrar crianças. Seu caminho vem a se cruzar com Will Parry (Wilson), um menino que descobre uma forma de viajar entre mundos.
Com a presença dos Daemons, que são manifestações vivas da alma ou do "eu interior" de cada pessoa, a narrativa investiga questões inerentes à humanidade e também amarra um discurso complexo sobre, doutrina, conservadorismo, instituições e fanatismo religioso. Ainda que não largue a mão de alguns conceitos cristãos, uma controversa totalmente aceitável, mostra conceitos interessantes à uma audiência variada.
Apesar de se pautar basicamente na fantasia e na ficção científica, a série se alicerça fortemente no drama. Há dureza e profundidade no enredo, apesar do discurso nem sempre ser totalmente eficaz. Neste aspecto, é interessante lembrar que muitos dos que protagonizam essa história são muito jovens - e todos, dos mocinhos aos vilões, passam por uma exposição à própria humanidade (ainda que seja em momentos derradeiros).
His Dark Material está disponível no catálogo da Max.
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