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    Iwajú: Primeira série pan-africana da Disney apresenta aventura afrofuturista que utiliza simplicidade narrativa ao seu favor (Primeiras impressões)
    Diego Souza Carlos
    Apaixonado por cultura pop, latinidades e karê, Diego ama as surpresas de Jordan Peele, Guillermo del Toro e Anna Muylaert. Entusiasta do MCU, se aventura em estudar e falar sobre cinema, TV e games.

    Produzida em parceria com a empresa Kugali, a produção chega completa ao streaming nesta semana.

    O Disney+ é a plataforma perfeita para expandir os horizontes do estúdio a partir de filmes e séries que fogem dos padrões da empresa. É um espaço bem-vindo para experimentações conscientes. Anunciado há quase quatro anos, Iwajú é uma dessas produções que apresenta uma narrativa inovadora a partir de uma nova perspectiva.

    Depois de anos de produção, a série animada dividida em 6 partes está pronta para chegar ao Brasil. Trata-se de um projeto que apresenta uma estética baseada na cultura pan-africana, principalmente com elementos de Lagos, Nigéria.

    A trama acompanha Tola, uma jovem de uma ilha rica, e seu melhor amigo, Kole, um especialista em tecnologia autodidata, enquanto descobrem os segredos e perigos escondidos em seus diferentes mundos. O AdoroCinema esteve na première brasileira da animação e traz aqui as primeiras impressões desse projeto tão aguardado.

    Estilo de animação

    Disney+

    Uma das primeiras surpresas ao entrar em contato com a versão final de Iwajú foi encarar o estilo de animação. Em seu anúncio, lá em dezembro de 2020, a arte conceitual parecia apostar em uma narrativa pautada pelo 2D, com protagonistas até um pouco mais velhos do que Tola e Kole que chegarão ao streaming em poucos dias. Ainda assim, não se trata de um aspecto negativo, apenas uma mudança de direção.

    Seria surpreendente ver uma produção histórica como essa arriscar em um estilo cada vez menos utilizado. Apesar de projetos como O Menino e a Garça, de Hayao Miyazaki, Castlevania, da Netflix, e A Casa Coruja, da própria Casa do Micjey, ainda mostrarem o quão versátil e belo o 2D ainda pode ser, é natural que uma série como essa apresente o CGI recorrente a fim de conquistar o público que está acostumado os projetos cinematográficos da Pixar e da Disney.

    Arte conceitual/2020 Disney
    Arte conceitual/2020

    Falando na empresa responsável por Procurando Nemo, Os Incríveis e Luca, é perceptível a inspiração no estúdio quando se assiste Iwajú. Deixa-se o realismo de lado para mostrar a dinâmica dos personagens, principalmente na expressividade de cada um, a fim de transmitir as emoções de maneira precisa e direta.

    Nesse aspecto, inclusive, é possível que algumas pessoas sintam a diferença em relação a outras animações da Disney no teor técnico, mas não é nada que estrague a experiência. Muito pelo contrário, já que a história de Iwajú transborda boas intenções com personagens bem alinhados e uma protagonista doce e envolvente.

    História cativante

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    Sendo uma versão futurista de Lagos, centro cultural e financeiro da Nigéria, é interessante que a narrativa se esforce para criar uma atmosfera que mescle os hábitos e tradições da região com uma visão tecnológica do que está pela frente. Ainda mais instigante é o fato de que a equipe do estúdio Kugali manteve alguns dilemas sociais em evidência, mostrando que, apesar de ser uma trama afrofuturista, não se trata de um vislumbre descolado da realidade.

    Dessa forma, existem vários problemas na área mais pobre de Lagos, um lugar distante de onde Tola vive com seu pai. A garota vive como uma princesa em uma mansão banhada a acessórios tecnológicos, assistentes robôs e uma certa independência dentro deste microcosmo.

    Aliás, não poderia deixar de citar um dos momentos mais engraçados e empolgantes do primeiro episódio, quando a protagonista, ao acordar, tem um gadget especial para deixá-la com o seu penteado preferido. Essa touca modeladora pode ser apenas um ponto de humor dentro da história, mas mostra também como os criadores se importaram em manter o respeito às individualidades dessa garota negra, ao mesmo tempo que dão a noção de que o sonho afrofuturista é criado a partir da vivência contemporânea.

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    Ainda que tenha uma fórmula muito simples diante de outras histórias infantis, Iwajú se destaca por abrir um diálogo com crianças e adultos - diga-se de passagem que pais e filhos estavam gargalhando juntos na sessão vista pelo AdoroCinema -, um trunfo que apenas as melhores produções dispõem. É difícil abrir um leque de temas que abranja um público tão vasto, um desafio, inclusive, de construção de roteiro para não pesar a mão em nenhum dos extremos.

    Vale citar também que a dinâmica entre os protagonistas não é recheada de novidades, com a garota rica e o garoto pobre criando uma amizade cheia de contrastes. Embora tenha seus clichês somados à previsibilidade, e seja complexo abordar temas espinhosos quando se tem a possibilidade de sonhar à frente, a história cria uma rota bem elaborada com elementos de humor, ação e ficção científica.

    De certa forma, a produção utiliza muitas ferramentas comuns a este tipo de estrutura infantojuvenil para privilegiar o aprofundamento em seus personagens e abrilhantar a trama em aspectos como ambientação e o flerte com diferentes gêneros. Retornando à sala escura onde vi os 3 primeiros episódios, lembro-me de ouvir um sonoro e triste “Aah” quando o terceiro capítulo acabou com um ótimo gancho. As pessoas estavam tão envolvidas que queriam terminar a temporada no mesmo dia.

    Tropeços na localização brasileira

    Disney+

    Em sua versão dublada em português brasileiro, Iwajú tem a excelência tradicional do estúdio, mas há um porém: em determinados trechos, quando alguns personagens utilizam a “língua das ruas”, surge uma certa estranheza.

    As falas não soam naturais como o restante dos diálogos, apesar de passarem a mensagem de que estes indivíduos se comunicam de maneiras diferentes durante a trama. No original, deve ser uma forma de trazer essa conexão com a realidade, com as gírias locais e termos regionais, mas em sua localização brasileira existem certos "tropeços". Mais uma vez: nada que atrapalhe a experiência, apenas uma questão que pode literalmente soar diferente durante a narrativa.

    Para quem gostar dessa aventura, uma outra recomendação no catálogo do streaming: Kizazi Moto: Generation Fire.

    Iwájú
    Iwájú
    Data de lançamento 2024-04-03 | min
    Séries : Iwájú
    Com Simisola Gbadamosi, Dayo Okeniyi, Femi Branch
    Assista agora no Disney +

    Idealizada em parceria com a empresa Kugali, a série é dirigida por Olufikayo Ziki Adeola ao lado do designer de produção Hamid Ibrahim e o consultor cultural Toluwalakin Olowofoyeku. Com produção de Christina Chen, da Disney Animation, e roteiro de Adeola e Halima Hudson, todos os episódios de Iwájú chegam ao Disney+ em 10 de abril, próxima quarta-feira.

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