O streaming da TV Globo, conhecido por realizar documentários que exploram temáticas bem brasileiras e fatos marcantes da nossa história, desta vez, conseguiu surpreender o público com sua nova série documental Vale o Escrito - A Guerra do Jogo do Bicho. E não existe uma só pessoa que, ao assistir a "docussérie", não tenha se perguntado: Como Pedro Bial (que assina a produção) conseguiu reunir tantos depoimentos comprometedores, e que beiram o absurdo?
Vale o Escrito se propõe a ser uma série que expõe as origens e os conflitos sangrentos do Jogo do Bicho no Rio de Janeiro. Dividida em sete episódios, a série documental aborda desde o início do jogo, passando pela criminalização das apostas e dos chamados "jogos de azar", até o investimento no carnaval e no futebol. E a "guerra" da atualidade, que já causou uma série de mortes e chega até as milícias.
Ao longo dos episódios, os envolvidos diretamente no Jogo do Bicho - ou seja, os bicheiros, seus herdeiros, esposas e agregados - cedem entrevistas exclusivas sobre suas memórias e os bastidores do negócio lucrativo. Além de velhos conhecidos dos noticiários policiais, a chamada "alta cúpula do jogo do bicho": Capitão Guimarães, José Caruzzo Escafura (o Piruinha), passando por Bernardo Bello e Rogério de Andrade (o "herdeiro" de Castor de Andrade não concedeu entrevista), algumas personagens nem tão conhecidas até então, se destacam.
A amazona Shanna Garcia
Filha do bicheiro Maninho, Shanna está no centro de uma trama que parece até enredo de novela - e deixa as histórias de máfia italiana parecendo até simples demais. Em pé de guerra com sua irmã gêmea (!) Tamara, Shanna reivindica sua herança no jogo do bicho, que descobrimos na série, é extremamente machista, ou seja, o "negócio familiar" passa somente aos filhos homens.
Vítima de um atendado em 2019, Shanna perdeu diversos membros de sua família assassinados, entre eles seu irmão (e o próprio pai, Maninho). Uma das personagens mais interessantes da série, Shanna além de tudo, atua como amazona, ou seja, participa de competições de equitação em nível nacional.
Incluindo relatos de grandes personalidades como Milton Cunha e Luiz Antônio Simas, a série choca (até os mais cariocas) com a violência nos conflitos entre os contraventores. E coloca em cheque a posição de poder que o Jogo do Bicho ocupa no Rio de Janeiro, inclusive politicamente.
Em dado momento, a série alcança fatos como o assassinato da vereadora Marielle Franco em 2018 (ainda sem respostas), através do depoimento da viúva de Adriano da Nóbrega e de Fabrício Queiroz, o que, indiretamente, acaba levando a série a citar o clã Bolsonaro.
Vale o Escrito é uma boa pedida para todos aqueles interessados em entender melhor como tudo acaba profundamente entrelaçado no Rio de Janeiro, seja no carnaval, no futebol ou na contravenção. Um Poderoso Chefão com tabuleiro de War, a série é capaz de arrancar sorrisos amarelos de nervoso dos espectadores. Às vezes constrangimento. Mas sobretudo, espanto.
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