Quando um dos autores mais populares de mangás contemporâneos tem uma de suas obras mais emblemáticas sendo adaptada, é inevitável que isso seja um grande acontecimento para os fãs. Portanto, dizer que a série animada Pluto era aguardada com ansiedade na Netflix seria um eufemismo.
Essa nova produção original é baseada no mangá Pluto, uma série curta de apenas oito volumes. Sua gênese remonta ao início dos anos 2000, em antecipação às comemorações de 7 de abril de 2003, a data oficial de nascimento do famoso herói japonês do mangá, Astro Boy.
Em 2002, Takayuki Matsutani, CEO da Tezuka Productions Inc, foi procurado pelo mangaká Naoki Urasawa. A reunião foi sobre um projeto de história que revisitaria o episódio “O Robô Mais Forte do Mundo” pelo ponto de vista de um personagem secundário, o robô policial Gesicht.
Uma releitura do famoso Astro Boy
A história de Pluto segue a investigação de um inspetor da polícia alemã após o assassinato de Mont Blanc, um ilustre robô veterano de uma guerra mortal. Novos crimes abrem a trilha de um assassino em série que tem como alvo ex-soldados robôs que serviram naquele conflito mundial.
A ideia de propor uma nova versão de um famoso episódio de Astro Boy, que não seria nem uma paródia nem uma simples homenagem, mas uma espécie de história original, agradou imediatamente ao CEO. O projeto aprovado pôde então começar a ser pré-publicado na revista Big Comic Original a partir de 9 de setembro de 2003, alguns meses após o aniversário do personagem.
A abordagem dessa nova história não foi o único aspecto que atraiu a atenção de Takayuki Matsutani. Ele também ficou impressionado com a reputação do autor Naoki Urasawa que, na época, estava fazendo sucesso com seus mangás Yawara! e Monster (premiado com o Prêmio Cultural Osamu Tezuka em 1999).
Ao decidir revisitar a história de Astro Boy por meio de uma abordagem mais pessoal e sombria do que no mangá original, Naoki Urasawa confronta a lenda de Osamu Tezuka, o autor de Astro e certamente o mais influente dos autores de mangá.
A escolha da história de “O Robô Mais Forte do Mundo” remete a uma lembrança de infância. No posfácio do mangá Pluto, Naoki Urasawa confidencia que esse episódio das aventuras de Astro foi a origem de sua vocação como ilustrador.
Entre Blade Runner e Watchmen
Embora apresente robôs “super-heróicos”, a série imprime todos os códigos de histórias de detetive. No meio do caminho entre Blade Runner (e a mesma pergunta: os robôs têm consciência?) e Watchmen (uma série de assassinatos mergulha ex-heróis em seu passado), Pluto é uma obra imensamente madura que pertence ao panteão dos maiores mangás já publicados.
Apesar da imensa pressão sobre seus ombros, a série animada conseguiu enfrentar o desafio de honrar o mangá. Co-produzido pela Tezuka Productions (dirigida por Makoto Tezuka, filho de Osamu), o anime conseguiu manter-se fiel ao enredo e aos desenhos a lápis de Naoki Urasawa, ao mesmo tempo em que deu à série uma sensação épica graças às técnicas de animação em CGI.
Os poucos efeitos CGI malfeitos são mais do que compensados pela qualidade da direção e pela trilha sonora que acompanha com sobriedade cada um dos oito episódios do programa. Essa adaptação bem-sucedida de Pluto é, sem dúvida, uma das melhores séries de todas as oferecidas pela Netflix este ano.
Embora a plataforma também esteja oferecendo toda a série Monster, quem sabe se o sucesso de Pluto não levará a Netflix a transpor outras obras icônicas de Naoki Urasawa para séries? Nesse sentido, uma adaptação do mangá 20th Century Boys seria o candidato ideal para suceder Stranger Things.
Fique por dentro das novidades dos filmes e séries e receba oportunidades exclusivas. Participe do nosso Canal no WhatsApp e seja um Adorer de Carteirinha!