As colaborações entre BBC e Netflix renderam frutos de sucesso, como Inside Man e O Paraíso e a Serpente, e o título mais recente a chegar à plataforma chama-se O Mundo Por Philomena Cunk, uma das comédias mais engraçadas dos últimos anos, mas que quase ninguém viu, apesar de a produção ser encabeçada por ninguém menos do que Charlie Brooker, o criador de Black Mirror.
O nome de Philomena Cunk pode não soar familiar para muitos, mas é uma personagem com muita história para contar: trata-se de uma jornalista fictícia que apareceu pela primeira vez no programa britânico Charlie Brooker's Weekly Wipe e, desde então, apareceu em vários pseudodocumentário, gênero ao qual pertence O Mundo Por Philomena Cunk, título com o qual ela prova ser uma das melhores personagens cômicas do século 21.
O Mundo Por Philomena Cunk usa a estrutura de uma série documental para nos oferecer uma releitura da história da humanidade, o que inclui, por exemplo, recriações de certos momentos e várias entrevistas com especialistas. A princípio, pode até não parecer particularmente engraçado, mas o trunfo da série é justamente a rapidez em subverter as expectativas e nos fazer gargalhar a cada poucos segundos.
Para isso, a minissérie faz bom proveito de um roteiro engenhoso (a equipe de roteiristas é liderada por Charlie Brooker!), cheio de boas piadas, mas sempre mantendo-as dentro da lógica particular de sua protagonista e de sua visão sobre a história da humanidade. Essa autenticidade leva a múltiplas reflexões e comentários absurdos que parecem totalmente fora de lugar, com a particularidade de fazê-los sempre com aparente seriedade para nunca quebrar a estrutura de seus próprios formatos.
A outra grande chave é a contribuição de Diane Morgan - ela é quem interpreta Philomena Cunk e tem entre seus principais trabalhos as séries Afterlife, Motherland e Mandy. Com um humor afiado, é ela quem dá conta de nos envolver mesmo nos momentos mais rápidos da história - o fato de explorar um tema tão amplo como a história da humanidade torna o mocumentário um pouco superficial em algumas passagens, mas isso não impede a assertividade das piadas, que funcionam com naturalidade.
Além disso, há espaço para todo tipo de comentários inusitados, que vão de menções a Scooby Doo até, por exemplo, as teorias da conspiração sobre a viagem do homem à lua.
Infelizmente, ao que tudo indica, O Mundo Por Philomena Cunk estreou na Netflix muito discretamente e poucas pessoas a encontraram ao navegar pelo catálogo do streaming, mas seus cinco episódios (de apenas 20 minutos cada) valem a surpresa.